GDF enviará esta semana à CLDF projeto que cria escolas militarizadas
Quatro unidades foram inauguradas nesta segunda (11/2), no início do ano letivo. Governo quer levar modelo para 20 no primeiro semestre
atualizado
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O primeiro dia letivo no Centro Educacional (CED) 1, na Estrutural, na manhã desta segunda-feira (11/2), foi bem diferente dos outros anos. Perfilados, os alunos acompanharam a execução do Hino Nacional e assistiram ao lançamento da gestão compartilhada de uma das quatro escolas militarizadas no Distrito Federal. Daqui para a frente, eles enfrentarão uma disciplina mais rígida, com rotinas e regras específicas.
A escola é uma das quatro primeiras da rede pública a contar com o novo formato no DF. O governo promete encaminhar à Câmara Legislativa, esta semana, o projeto que formaliza o modelo por meio de lei. O objetivo é ampliar a iniciativa para 20 instituições ainda neste primeiro semestre e terminar o ano com 40 sob o novo modelo de gestão.
O colégio da Estrutural foi escolhido para representar o início do ano letivo em evento oficial do GDF. Mais de 400 mil estudantes e 28 mil professores retornam às atividades nos 678 centros de ensino público da capital do país. “Por determinação do governador (Ibaneis Rocha), vamos acompanhar de perto as escolas (militarizadas). A realidade é que os professores gastam muito tempo pedindo atenção. É preciso ordem”, disse o secretário de Educação, Rafael Parente, que interrompeu o discurso por duas vezes para pedir silêncio durante a solenidade.
O modelo é inédito na capital. As escolas passaram a ser denominadas de Colégio da Polícia Militar do Distrito Federal (CPMDF). Os PMs e bombeiros – que vão atuar nos centros de ensino – são responsáveis pelas atividades burocráticas e de segurança, como controle de entrada e saída, horários, filas, além de darem aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno. Orientadores, coordenadores e professores permanecerão encarregados do conteúdo pedagógico das classes.
“Dentro da sala de aula quem cuidará são os professores. Os militares ficarão com a disciplina e a segurança nas escolas”, pontuou o vice-governador. De acordo com Paco Britto, cerca de 40 escolas também terão o modelo implantado até o fim do ano. “Não há uma previsão de quais serão as próximas escolas. Está sendo feito um estudo.”
Metodologia
Segundo o secretário de Segurança do Distrito Federal, inicialmente deve ser elaborada uma metodologia de seleção para levar a militarização às outras unidades. “Fomos muito procurados por pais e alunos sedentos pelo projeto. Estamos fazendo estudos para ampliar”, ressaltou Anderson Torres.
Além do centro de ensino da estrutural, o novo formato de gestão compartilhada com a PMDF começou a funcionar no CED 3, em Sobradinho; no CED 7, em Ceilândia; e no CED 308, no Recanto das Emas. Para Rafael Parente, a medida “é um sonho de várias pessoas”. “Temos uma missão de oferecer educação de excelência para todos. Se hoje estamos aqui, é porque tivemos boas oportunidades educacionais e bons professores”, frisou.
As novas regras preveem que os meninos não podem andar com brincos e pulseiras, nem usar fios compridos. Por sua vez, as meninas só devem ter adereços discretos e os cabelos amarrados. Professor e professora deverão ser chamados de senhor e senhora, respectivamente. Antes do início das aulas, diariamente, os alunos ficam em formação no pátio para acompanhar o hasteamento da bandeira nacional e ouvir os recados do dia. Além disso, têm aulas de civismo e ética.
Para Kevin Vieira, 11 anos, aluno do CED 1, a mudança é positiva. “Acho que vou aprender muito com eles (militares), destaca. A mãe dele, Cléssia Vieira, 29, concorda: “Acredito que será melhor, pois eles passarão ensinamentos bons para as crianças. Esperamos que deem exemplo e que diminua a violência”.
Recanto das Emas
O ex-aluno do CED 308 Rafael Ferreira de Brito, 25 anos, voltou ao colégio nesta manhã para acompanhar o primeiro dia de implementação do modelo. A cunhada dele cursa o 8º ano no local. “Acho muito importante e acredito que vai dar realmente certo. A presença da polícia vai afastar a insegurança e dar responsabilidade. Tudo é uma questão de adaptação. Com disciplina e propósito, as coisas se encaixam. O aprendizado será mais fácil”, comentou.
A estudante do 7° ano, Ingrid Natielly Monteiro Nunes, 14, no entanto, está preocupada com a adaptação. “Não estamos acostumados com essa presença de tantos policiais dentro da escola. Eles terão que nos dar um tempo para a gente se acostumar com as regras e também as cobranças com uniforme e disciplina. Não sei se será fácil, teremos que ver na prática.”
No centro educacional do Recanto das Emas, as atividades do novo projeto foram iniciadas às 7h30 da manhã. “A primeira impressão é a que fica e hoje vamos cumprir a carga horária. Mostrar para todos que agora com a questão da gestão disciplinar da PMDF o professor vai conseguir dar 50 minutos de aula”, disse o diretor da unidade de ensino, Márcio Faria.
Nesta segunda, uma grande fila de pais à procura de vagas para seus filhos se formou na secretaria do colégio. “Mesmo sabendo que estamos sem vaga, eles querem entrar na espera. A comunidade compareceu em peso para assistir o momento da formação nas primeiras horas do dia. Muitos pais querendo uma oportunidade para os filho poderem vir para cá e estudar”, informou o gestor.
O capitão Cortez, da PMDF, explicou como será a presença da corporação na escola. “Nós esperamos que tudo melhore. A questão da segurança, o respeito pelos professores e o pleno desenvolvimento do aluno dentro do ambiente educacional. A nossa ideia não é substituir a figura do diretor pedagógico, mas juntamente com ele colaborar na gestão administrativa. Não vamos interferir em nada na questão pedagógica, apenas disciplinar”, disse.
Ceilândia
Ana Maria Costermani, 60 anos, disse que a expectativa sobre a novidade é muito boa. Ela é avó de Geovanna Costermani, 15, aluna do 1° ano do CED 7 de Ceilândia. “Minha neta não vê problemas em ter a presença da PM. Acreditamos que o modelo contribuirá para a sua formação. Além da questão da segurança, vai mudar a indisciplina dos adolescentes. Esse colégio era considerado marginalizado pela população pela localidade perigosa, agora vai virar referência e exemplo dentro de Ceilândia”, apostou.
Sophia Oliveira Aguiar, 13 anos, iniciou o 1°ano no CED 7. Acompanhada pelo pai, o autônomo Dinarte Tomazio de Aguiar, 41, no fim das aulas desta segunda, a adolescente disse que o primeiro dia de aula foi muito bom. “Só tende a melhorar a nossa segurança, o aprendizado. Esse modelo, se der certo, vai dar uma nova cara pro ensino e mudar o conceito de muitos jovens como eu”, disse.