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Com professores em greve, alunos do Alub temem perder ano escolar

Rede tradicional de colégios de Brasília enfrenta uma profunda crise financeira e tem atrasado salários de educadores e funcionários

atualizado

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1 de 1 alub - Foto: Google Street View/Reprodução

Sem aulas desde o início da semana, pais e responsáveis de alunos da Rede Alub travam uma batalha para conseguir a transferência dos filhos a outros colégios do Distrito Federal. A unidade educacional enfrenta grave crise financeira e já atrasou o salário dos professores em pelo menos três meses, conforme o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares do Ensino (Sinproep). O impasse nos pagamentos levou os educadores a paralisarem as atividades, e os 5 mil estudantes, agora, correm o risco de perder o ano escolar.

A greve começou nessa segunda-feira (14/10/2019), e não há data prevista para ela ter fim. Nesta sexta-feira (18/10/2019), os profissionais e pais de alunos vão protestar, às 8h, em frente à unidade de Taguatinga, e às 9h30 no Alub de Ceilândia. Em uma carta aberta enviada aos pais, o Sinproep alega que, sem pagamento, os docentes não apresentam “condições psicológica e emocional para oferecer uma educação de qualidade aos alunos”.

“Os trabalhadores sabem dos transtornos que esta decisão ocasiona aos pais e aos alunos, principalmente no período que antecede o final do ano letivo. A paralisação é por tempo indeterminado, até que a direção do Alub encontre condições de apresentar uma proposta concreta que cumpra, minimamente, as suas obrigações trabalhistas, com o pagamento dos salários atrasados que, para alguns trabalhadores, já completou três meses”, defendeu a entidade no texto.

Nenhuma escola da rede recebeu aulas desde que a paralisação teve início. O fato torna ainda maior o desespero de quem corre para trocar de colégio a tempo de não perder o ano letivo. “Eu não tenho como fazer a transferência porque preciso do documento, que está na escola, para levar em outro colégio. Só que o colégio não está aberto, e não tenho como pegá-lo”, explicou Sygrid Sousa Sobrinho, 39, mãe de três adolescentes matriculados na unidade educacional.

A filha mais velha de Sygrid está no ensino médio e deveria realizar o Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB). “Eu não sei se ela vai conseguir fazer. Realmente, vivemos nessa incerteza. Tenho medo de que não consiga”, lamentou a analista de cobrança.

Mãe de um aluno de 13 anos da escola particular, Sueli César, 46, conta já ter procurado outras possibilidades para o filho. “Aqui, em Ceilândia mesmo, eu encontrei quatro colégios que estão aceitando matrículas, mas não consigo pegar a documentação. Não tem ninguém na secretaria, e está tudo trancado com cadeado. Tenho que passar por tudo isso, faltando dois meses para acabar o ano.”

Crise financeira

Uma ata da audiência pública realizada em 11 de julho, documento ao qual o Metrópoles teve acesso, revela que o Alub estaria endividado com o Banco Bradesco, e os salários dos meses de maio, junho e julho deste ano estariam atrasados, além do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), não recolhido desde setembro de 2018.

Uma das medidas tomadas foi o bloqueio imediato de uma quantia de R$ 2,7 milhões, que corresponde aos salários atrasados de maio e junho, para garantir o pagamento aos 523 funcionários. Segundo o diretor do Sinproep, Rodrigo de Paula, havia um acordo para parcelamento do FGTS. O diretor afirma que ele não foi cumprido.

Os problemas financeiros da rede começaram quando o empresário carioca Arthur Mário Pinheiro Machado, dono do Alub, foi preso pela Polícia Federal no dia 12 de abril de 2018, no âmbito da Operação Rizoma, um desdobramento da Lava Jato. A ação mirou em crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção por meio de fraudes que geraram prejuízos aos fundos de pensão.

Machado possui várias empresas e holdings no país. Uma delas, a Educar Holding, adquiriu em outubro de 2017 o Alub, conhecido grupo educacional do DF. O empresário assumiu também a presidência da instituição, desde então.

Propina

De acordo com informações da força-tarefa da Lava Jato, o esquema gerou pelo menos R$ 20 milhões em propinas. Machado seria o cabeça, e a prática – que vigora ao menos desde 2011, segundo o Ministério Público Federal – foi descoberta em colaboração premiada espontânea.

O executivo seria ligado ao lobista Milton de Oliveira Lyra Filho, também alvo de mandado de prisão. Ele é tido como operador do MDB no desfalque do Postalis e nega todas as acusações.

À reportagem, de Paula afirmou que, em uma tentativa de reverter a situação, os gestores do Alub chegaram a colocar a rede à venda, mas não tiveram sucesso. Em agosto, professores da escola na 913 Sul cruzaram os braços.

Na época, uma educadora que preferiu não se identificar confirmou que o pagamento dos salários de maio e junho estava atrasado. “Paramos na unidade da 913 Norte para ver se damos um choque de realidade. Mas a ideia é fazer o movimento em outros colégios da rede também”, disse.

Outro lado

O Metrópoles não conseguiu contato com o Alub nesta quinta-feira (17/10/2019). Contudo, na época da paralisação de agosto, em nota, o colégio disse que estava com índice de inadimplência alto, na casa dos 30%, o que comprometia a saúde financeira da instituição.

“A gestão vem trabalhando arduamente para reverter o quadro com soluções que serão implantadas nos próximos meses, entre elas o pedido de parcelamento do FGTS. Mesmo com toda dificuldade atual, o Alub continua com um dos melhores resultados em número de aprovados em vestibular e com uma educação de ponta. São mais de 644 aprovados no Sisu, 33 aprovados em medicina em 2019 e sete prêmios de reconhecimento, entre eles o Top of Mind”, informou a rede na ocasião.

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