Usuários de restaurantes comunitários reclamam do reajuste
Desde a inauguração da primeira unidade, o preço da refeição nunca havia aumentado. Valor passa de R$ 1 para R$ 3 em outubro
atualizado
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Refeição de qualidade ao preço de R$ 1. Os restaurantes comunitários resistiram ao tempo, às sucessivas mudanças de comando no Palácio do Buriti e se transformaram em uma marca social. Mas o pacote de austeridade anunciado pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB) coloca em xeque o programa que beneficia 30 mil pessoas no Distrito Federal, 44% delas, segundo pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), em situação de risco alimentar.
Desde 2001, quando foi inaugurada a primeira unidade em Samambaia, o valor cobrado pelo prato feito nunca havia sido reajustado. A partir de 1º de outubro vai custar três vezes mais ao bolso dos usuários. Para quem faz no local a única refeição do dia, pagar R$ 3 vai fazer muita diferença.
“Não sei se vou conseguir continuar a vir todos os dias”, preocupa-se o flanelinha Antônio Gomes Mendes, 37 anos, morador de rua em Samambaia. Nos últimos três anos, ele trabalha perto do restaurante comunitário.
Vou juntando as moedas. Agora, vou ter que juntar mais moedas ainda pra não passar fome.
Antônio Gomes, flanelinha
Numa situação bem melhor que a de Antônio, Fábio Santana, 35 anos, está indignado. “Esse reajuste é um absurdo”. O funcionário da Caesb que frequenta a unidade de Ceilândia cinco dias na semana, já fez as contas. “Vai valer mais a pena trazer o almoço de casa.”
Atolado em dívidas, o GDF quer reduzir os gastos com os restaurantes comunitários. Manter as 13 unidades custa aos cofres do tesouro local R$ 3 milhões por mês. Quando os restaurantes comunitários foram criados, cada refeição saía a R$ 2,49. O governo subsidiava a diferença entre o valor cobrado da comunidade e o realmente gasto. Com o passar dos anos, esse valor foi aumentando, chegando a R$ 5,71 por refeição.
“Se não fosse feita esta correção, chegaríamos a uma situação em que não seria mais possível pagar”, explica a secretária de Planejamento, Leany Lemos. Ela destaca que em 2001 o valor do salário-mínimo era de R$ 180 e, agora, é R$ 788. Para o governo, quem utiliza os restaurantes tem condição de arcar com o novo preço.
A vendedora Maria Soares, 45 anos, pensa diferente. Ainda acredita que o valor de R$ 3 não será mantido por muito tempo. “Como a qualidade da comida não deve aumentar, a quantidade de pessoas nos restaurantes vai diminuir muito”, aposta.
Nova gestão
Uma licitação única para os restaurantes comunitários está em fase de recursos na Secretaria de Gestão Administrativa e Desburocratização. Com o certame conjunto, o gasto do governo com o processo é menor, já que, em média, uma licitação custa R$ 15 mil. Além disso, o novo modelo de compras adotado permite que empresas de todo o país participem da disputa, o que aumenta a concorrência e, assim, a chance de melhores preços.
Quatro empresas saíram vencedoras da licitação, ainda não encerrada. Uma delas, com sede em Brasília, ganhou sete dos 14 lotes (cada restaurante representa um lote). Os outros sete refeitórios ficaram divididos entre três empresas de Goiás e uma do Espírito Santo. Como o certame não foi finalizado, o órgão não informou quando os contratos entrarão em vigor.
Localização
Os restaurantes comunitários funcionam em Brazlândia, Ceilândia, Estrutural, Gama, Itapoã, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião e Sobradinho II. Uma nova unidade está em construção no Sol Nascente.
Foto destaque: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil