Rapidez na entrega e qualidade turbinam produção de cogumelos no DF
Setor faturou R$ 2,3 milhões entre 2017 e 2018 e comercializou 57 toneladas de seis tipos diferentes do produto. Expansão continua
atualizado
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Nos últimos dois anos, aumentou a chance de o brasiliense consumir, em restaurantes ou feiras orgânicas, cogumelos cultivados no Distrito Federal. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), atualmente existem 17 produtores registrados e seis em vias de entrar no mercado.
Ainda conforme a Emater, esse grupo em fase de consolidação faturou R$ 2,3 milhões entre 2017 e 2018 e comercializou 57 toneladas de shimeji, shitake, cogumelo paris, champignon, eryngui e shimofuri no mesmo período. A tendência é que novos empreendedores surjam e aqueçam ainda mais o nicho.
Vanguarda
Pioneiros nesse tipo de produção no DF, os irmãos Gilsérgio dos Santos Silva e Henrique dos Santos Bona (foto em destaque) assistem com bons olhos o crescimento dos concorrentes. Eles compraram um terreno de dois hectares na rua 1 do Núcleo Rural Lago Oeste, em 2004, e tiram o sustento do comércio do fungo há 14 anos.
“Com certeza, muita gente em Brasília necessita dessa produção. Cresceram o lado gastronômico no DF e a busca dos restaurantes por produtos frescos e de melhor qualidade, com foco local. Os chefs recebiam produtos que não eram de qualidade boa e, agora, têm essa possibilidade. Mudou o nível da entrega”, afirma Gilsérgio.
Ele explica que a compra de estados com maior tradição nesse tipo de produção, a exemplo de São Paulo, costuma significar viagens longas dos cogumelos nos caminhões de entrega, o que reduz a qualidade final. “Quanto mais fresco, melhor. O cogumelo em conserva é quase a mesma coisa, mas a conserva é um processo químico e eles usam materiais de branqueamento que podem ser cancerígenos. É um problema”, opina.
Seu irmão, Henrique, mora na propriedade onde os empresários montaram a estrutura e conta que eles decidiram atuar em todas as áreas da produção. Portanto, eles se envolvem desde a preparação de feno e material orgânico, que geralmente é titica de galinha, para formar o bolo de compostagem, até o colhimento e venda dos fungos.
“É difícil porque feno é fibroso, então precisa de gente muito forte para revirar, mesmo com uma máquina. Cada etapa exige um cuidado, um controle de temperatura, de umidade. Não pode ter mosquito, não pode deixar de ter água. É muita coisa”.
Henrique dos Santos Bona, produtor
No clima seco e árido do cerrado, a produção só é possível por meio das estufas com controle climático. No caso do carro-chefe da empresa dos irmãos, o champignon, não há necessidade de controle de iluminação, mas variantes como o shimeji já exigem mais esse cuidado – e por isso menos são feitos em menor escala.
No começo
O engenheiro agrônomo da Emater-DF Luiz Márcio Takayoshi Ueno foi um dos grandes responsáveis pelo aquecimento da produção de cogumelos no DF. Há alguns anos, ele disse ter notado que essa era uma área com poucos atores locais e constatou dificuldade de ter acesso ao produto nas feiras. “Verifiquei que havia espaço para crescimento. Muitas pessoas estão se tornando vegetarianas, por exemplo, e isso é mais uma possibilidade mercadológica”, disse.
Sua constatação se transformou em um grupo em redes sociais para trocar conhecimentos com os poucos produtores e alguns aspirantes. A coisa cresceu além das expectativas e houve interesse de técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em ajudar o cenário do DF. “Hoje, o pessoal está motivado, porque antigamente era uma luta solitária”, orgulha-se.
Mesmo com os avanços, ainda falta um longo caminho até alguma empresa ou órgão público do DF ter capacidade de ajudar mais os produtores. Luiz admite, por exemplo, que atualmente não há uma referência para verificar valores médios de produção baseado em tamanho de terreno ou outra variante. “Mas estamos melhorando muito o acompanhamento para termos mais informações para quem precisa”, garante.
Na outra ponta
Todo esse entusiasmo contagiou o engenheiro civil Túlio Henrique Barreto de Santana e sua mulher, a engenheira agrônoma Valéria Oliveira Fonseca Barreto de Santana, 38, a arriscarem o empreendimento próprio.
Há dois anos, o departamento em que o homem trabalhava em uma grande empreiteira encerrado por força das investigações da operação Lava-Jato. Sem emprego e desiludido com o mercado de trabalho, ele fez um curso sobre cogumelos e decidiu investir no negócio.
“Comprei duas chácaras no Pólo de Cinema de Sobradinho e, por ser uma das partes mais altas do DF, a paisagem é bonita e o clima ajuda. Estou fazendo desde o trabalho do peão até o do engenheiro, para economizar”, afirma satisfeito.
Ele reclama da burocracia, como o período de quatro meses para enfim conseguir ligar a rede de energia do local. Mas, mesmo quando está debaixo do sol quente, vacando valas para erguer estruturas, diz ter realizando um sonho: “Sempre quis ter uma empresa e me motiva saber que é uma área em crescimento e com demanda cada dia mais alta.”
Juntando as economias da época de engenheiro, decidiu tomar para o empreendimento a responsabilidade por todas as etapas, desde o laboratório para cultura das sementes, onde o fungo vai crescer, até a comercialização dos cogumelos.
“Eu já fiz contato com alguns gerentes comerciais de linhas de supermercado. Fiz contato com restaurantes também e um conhecido meu que trabalhava com cogumelo tradicional. Eu estou igual doido, porque é muita coisa para resolver. Mas feliz”, afirma.