Queda “modesta” no preço da gasolina revolta consumidores do DF
Custo do litro nas bombas da capital não acompanhou a redução do valor nas refinarias, atrelada à baixa do dólar
atualizado
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A diminuição do preço no litro da gasolina, que chegou a ultrapassar os R$ 5 em postos do Distrito Federal em setembro, ainda não foi suficiente para aliviar o peso no bolso dos consumidores brasilienses. No último mês do ano, os motoristas ainda pagam caro e se sentem enganados quando percebem: apesar da diminuição no valor cobrado nas refinarias, o que chega às bombas tem um acréscimo difícil de ser explicado de forma convincente.
A queda no valor do produto vendido pela Petrobras está relacionada à redução do preço do barril de petróleo, atrelada à baixa do dólar. Depois, nas distribuidoras, são aplicados os impostos sobre a mercadoria, além da margem de lucro. Os revendedores, por sua vez, também retiram sua fatia.
Nesta quarta (5/12), o combustível vai chegar às refinarias a R$ 1,53 o litro. Em comparação com o valor estabelecido no dia 6 de novembro, houve queda de 12,7%. Enquanto isso, nos postos, conforme levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), só houve diminuição de 3,6% no preço, em relação ao início do mês de novembro. A média no DF era de R$ 4,45 na última semana de novembro.
Hoje, contudo, a grande variação do valor é verificada também nos postos: no Petrolino, em Taguatinga, o litro era vendido a R$ 4,13 na terça-feira (4). No Lago Sul, o preço chegava a R$ 4,42. As cifras, embora menores do que há semanas, ainda assustam os consumidores.
Sempre é caro. A gente se assusta e nem percebe a diferença
Valdemar Júnior, 49 anos, servidor público
Política de preços
O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli explica que a principal razão para a diminuição do preço é a estabilidade do dólar. No entanto, o especialista critica a política de preços do petróleo.
No mês de outubro, a moeda norte-americana recuou e era vendida a R$ 3,71. De novembro a dezembro, o valor aumentou cerca de 3%, chegando a R$ 3,84. O preço do barril de petróleo foi de US$ 63,04 a US$ 54,20, uma queda de 14% no mesmo período.
“O que a gente vem observando é que essa política de reajustes sistemáticos de preços acaba favorecendo principalmente a última etapa da cadeia. Quando o preço se eleva, os empresários aumentam instantaneamente. Quando baixa, não se vê o mesmo movimento. O consumidor fica um pouco perdido, até porque perdeu a referência de preço. Ele nem consegue acompanhar e se sente impotente”, argumentou Piscitelli.
Consumidores reféns
O advogado Alexandre Jorge, de 45 anos, abastece sempre no Lago Sul, onde fica seu escritório. Com R$ 100 conseguiu colocar 23 litros do combustível no carro. “Não está nada bom. Eu lembro que, em setembro de 2017, a gasolina chegou a R$ 2,99. Tinha que custar no máximo R$ 4 o litro. Os postos não estão repetindo a queda do preço nas refinarias”, reclamou.
A combinação de preços é o motivo para que os valores continuem altos, opina o médico Marcos Vieira, de 55 anos. “A Justiça já atuou contra o cartel, mas a gente sabe bem que os postos combinam os valores. No Lago Sul, os preços são praticamente os mesmos”, argumentou. “Pelo menos a qualidade é boa”, pontuou.
Gerente de um posto na 208 Sul, Eliedison Rodrigues afirmou que o valor do combustível sofreu redução após as eleições. “Quando cai o preço da Petrobras, a gente também diminui. Desde essa época, já diminuiu várias vezes”, comentou.
Morador de Valparaíso de Goiás (GO), o motorista de aplicativo Rogério Alves da Silva, de 41 anos, abasteceu o carro pela terceira vez em Brasília, mas só porque estava de passagem. “Aqui é caríssimo. O preço é bem diferente do de Goiás”, afirmou. No posto onde ele comprou gasolina na terça (4/12), na 202 Sul, o litro era vendido a R$ 4,26.
Esperança na queda do ICMS
O economista Ronalde Silva Lins, membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF), acredita que a diminuição dos impostos seria suficiente para agradar aos consumidores, e deposita esperanças no governo de Ibaneis Rocha (MDB).
A equipe econômica do governador eleito já adiantou que existe a intenção de diminuir a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em seu governo.
“O preço da gasolina é alto por causa de impostos. Se houvesse uma vontade da parte empresarial em baixar, com certeza diminuiria mais. Está faltando gestão administrativa para diminuir os custos, mas a tendência é de queda no próximo governo”, analisou.
O ICMS, segundo a Petrobras, representa 31% do preço da gasolina vendida nas bombas. A alíquota praticada no DF, de 28%, é aplicada sobre a base de cálculo do litro, que passou para R$ 4,5780 no dia 26 de novembro. Os impostos nacionais compõem em 15% o valor do combustível.
Carga tributária
O presidente do Sindicombustíveis-DF, Paulo Tavares, afirma que a realidade do preço alto da gasolina não vai mudar enquanto a carga tributária não for modificada e a política de preços da Petrobras continuar como está.
O consumidor não vai estar satisfeito nunca. Você tem um custo alto, e nós somos o menor da cadeia produtiva. Enquanto não se cortar os impostos, não vai resolver. Nem as distribuidoras têm mais gordura para queimar. A margem da revenda e da distribuição, hoje, é em torno de R$ 0,70, enquanto o governo distrital leva R$ 1,40
Paulo Tavares, presidente do Sindicombustíveis-DF
Manutenção cara e demissões
O cenário para os empresários é de alto custo para a manutenção de funcionários e espaço físico e pouco lucro sobre o preço de compra, afirma Tavares. Ainda segundo ele, a estimativa é que mais de 3 mil funcionários de postos de combustíveis tenham sido demitidos em 2017 e 2018. “Hoje, você vê postos fechados à noite, poucos funcionários trabalhando. Nosso lucro é de 6% sobre o valor da venda”, diz.
Para o economista Roberto Piscitelli, colocar a culpa nos impostos é um pretexto usado pelos empresários do setor. “Eles sempre dizem que o preço é elevado por causa do governo, mas será que eles não poderiam diminuir o lucro?”, questionou. “De fato, a carga tributária é elevada, mas o Brasil não é uma exceção em comparação a outros países”, completou o especialista.