Os fantasmas do GDF. Em 2016, 33 servidores mortos receberam salário
Grupo se inclui em pagamentos irregulares identificados pela Controladoria Geral do DF entre 2015 e 2016. Prejuízo total supera R$ 133 mi
atualizado
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Não é só a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que assombra as finanças da gestão Rodrigo Rollemberg (PSB). Hoje, os gastos com pessoal em Brasília comprometem 80% do orçamento do Distrito Federal e impedem o GDF de nomear novos servidores. A situação é agravada por um fenômeno do além: entre 2015 e 2016, 33 servidores do Executivo local receberam salários mesmo após terem morrido.
Esse grupo de 33 fantasmas está incluído em uma auditoria promovida pela Controladoria-Geral do DF. O órgão identificou que, entre 2015 e 2016, o GDF gastou R$ 133 milhões em pagamentos irregulares a servidores públicos.Em um dos casos, referente a um servidor da Casa Civil do Distrito Federal que faleceu em maio de 2014, os vencimentos só foram cortados em julho de 2016.
Além do pagamento a falecidos, os problemas incluem nomeações dobradas, repasses ilegais e benefícios inflados. A auditoria ainda não somou o total de quanto os servidores mortos receberam, mas a conta já supera os R$ 50 mil.
Teremos um resultado desses dados até junho deste ano. Sugerimos uma série de providências a serem tomadas pelos órgãos
Marcos Tadeu de Andrade, controlador-geral adjunto
Além da Casa Civil, os servidores mortos que continuaram recebendo estavam lotados nas secretarias de Esporte e Turismo; de Mobilidade; de Infraestrutura; e de Saúde.
Entre os outros problemas identificados pela Controladoria-Geral, também há uma série de benefícios irregulares. Na Secretaria da Saúde, por exemplo, 78% dos servidores receberam gratificação de 30% sobre os salários, mas esse percentual só poderia sera aplicado àqueles que têm doutorado. No entanto, apenas 8% dos quadros da pasta possuem esse tipo de qualificação acadêmica. O pagamento extra é amparado por decisão judicial.
Soluções
Na tentativa de evitar que mais dinheiro público escoe pelo ralo, a Controladoria-Geral publicou 49 sugestões de mudança. Embora não haja obrigatoriedade em cumprir essas orientações, o Tribunal de Contas do DF (TCDF) também participa do processo e pode cobrar explicações do governo.
Uma das sugestões para melhorar o processo é implementar o Sistema Único de Gestão de Recursos Humanos (SIGRH). Outra é aprimorar o Sistema de Avaliação dos Títulos para Concessão da Gratificação de Titulação, a fim de permitir a verificação do título junto à instituição que a emitiu e ao Ministério da Educação.
GDF planeja mudanças
A Secretaria de Planejamento (Seplag) já acatou uma das determinações: fez estudos para a implementação do SIGRH e pretende economizar 3% do valor mensal da folha de pagamento. O TCDF determinou a apresentação de um novo estudo sobre a situação de órgãos do executivo local em comparação aos da administração federal. Segundo a Seplag, “as adequações técnicas apontadas pelo Tribunal estão sendo providenciadas”.
Por meio de nota, a assessoria da secretaria lembrou que o sistema usado atualmente pelo governo tem mais de 20 anos e está com uma linguagem desatualizada. “Os processamentos não são automatizados e há dificuldades para manutenção. Além disso, um dos itens que o compõem não tem representante comercial no Brasil, o que impede a aquisição de licenças e o suporte técnico. O novo sistema mudará isso”, informou.
A Secretaria de Saúde também fará mudanças. Vai recadastrar os servidores que receberam as gratificações por titulação e analisar cada situação. “Não é um processo rápido de ser feito. Mas as auditorias têm ajudado a melhorar o sistema a cada dia”, completou o controlador-geral adjunto.