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DF: apenas 5% das pessoas com mais de 60 anos estão trabalhando

Ao todo, capital tem 303 mil idosos. Dificuldade pode ser justificada pela cultura de que jovens são mais produtivos

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Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
As dificuldades de se manter ou voltar ao mercado de trabalho depois dos 60 anos.
1 de 1 As dificuldades de se manter ou voltar ao mercado de trabalho depois dos 60 anos. - Foto: Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Arranjar um trabalho no Distrito Federal não está fácil. De acordo com a última Pesquisa de Emprego e Desemprego no DF (PED) da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), divulgada em agosto, a capital tinha 313 mil desempregados.

Dependendo da idade, a presença no mercado é ainda mais rara. É o caso dos idosos. Apenas 5,7% dos 303 mil brasilienses com mais de 60 anos estão trabalhando. Desse total, 23% não contam com aposentadoria nem emprego, ainda segundo dados da Codeplan.

Para o intervalo entre 50 e 59 anos, a taxa de ocupação é de 16,2%. Por outro lado, 41,3% das pessoas entre 25 e 39 anos estão no mercado.

Em nível nacional, a população idosa representava, em 2018, 7,8% dos trabalhadores formais do país, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O número já foi menor: de 2012 a 2018, a quantidade de pessoas com mais de 50 anos no mercado cresceu 20%, segundo dados do Pnad Contínua, calculado pelo IBGE.

Continuar ou voltar para o serviço depois dos 50 anos pode ser motivado, por exemplo, pela necessidade de complementar a renda ou a escolha de se manter ocupado, mesmo tendo direito à aposentadoria.

Voz da experiência

Odelsa Jatobá (foto em destaque), 62 anos, trabalha há três como cuidadora de idosos, área em que acredita ser bem-vinda a experiência. “Muitas famílias preferem a nós, com nossos cabelos brancos, porque temos mais sabedoria, mais respeito”, conta.

Esse perfil ajudou a cuidadora a não ficar tanto tempo sem um trabalho. Foi indicada por um conhecido. Técnica em enfermagem há 17 anos, Odelsa precisou apenas complementar os conhecimentos com um curso de cuidadora.

Natural de Recife, em Pernambuco, ela conta que o emprego chegou em um momento difícil. “Vim para Brasília a fim de ajudar minha filha e me acomodei, fiquei na minha zona de conforto. Com algumas mudanças na vida dela, eu tive que partir para outra coisa”, conta.

Apesar de ter encontrado uma oportunidade rapidamente, a cuidadora acredita que nem sempre é assim. “Para trabalhar em outro campo, eu teria mais dificuldade sim, por causa da idade. Acredito até que se eu fosse para outra empresa não seria tão fácil.”

Odelsa já planeja a aposentadoria. “Uma hora temos que parar”, afirma. Ela faz uma poupança para quitar a casa em que mora. No entanto destaca que trabalhará enquanto puder.

O professor da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Fernando Valente de Pinho afirma que a dificuldade de pessoas mais velhas encontrarem emprego é uma herança da década de 1970, quando se estabeleceu que o trabalhador ideal estaria entre os 35 e 50 anos.

Além do aspecto cultural, há a vantagem salarial. “[Os mais novos] Estão sempre dispostos a trabalhar por menos para ganhar experiência. As nossas empresas estão muito mais predispostas a navegar em um mar onde elas sempre acumulem capital”, afirma.

O professor, no entanto, destaca que pagar menos por alguém que tem mais ânimo nem sempre é a solução para uma empresa eficiente. “Produtividade não é produção. O mais novo pode produzir mais, mas produtividade é eficácia: produzir o máximo com mínimo.” O segredo estaria no equilíbrio entre o conhecimento dos mais velhos e a vontade dos mais novos em aprender.

Há quem prefira mais idade

Odelsa trabalha na Acvida. “Contratamos cuidadores [de idosos] dentro do perfil dos clientes, que costumam preferir pessoas mais tranquilas. Geralmente [esse perfil] tem a ver com pessoas de mais idade”, conta Adriano Machado, diretor da empresa.

Apesar de contratar pessoas de todas as idades, o perfil ideal para Machado é o de maiores de 50 anos. “Profissionais acima dos 50 anos possuem visão de mercado e experiência”, acredita Machado.

“Esse tipo de profissional tem foco em qualidade de vida, objetivos bem traçados, e, acima de tudo, tem capacidade de saber ouvir e habilidade de passar por crises sem abalos”, aponta o empresário.

Outras plataformas nasceram para ajudar a população mais velha a se manter ou entrar no mercado de trabalho. A Maturijobs é uma delas. O fundador do site se inspirou na avó, que precisou parar de trabalhar aos 80 anos e, sem encontrar outro emprego, piorou a saúde física e mental.

O site reúne oportunidades de emprego, capacitação profissional, empreendedorismo e networking para pessoas maduras e experientes. Atualmente, a página na internet abriga 927 empresas e 108 mil profissionais. Ao todo, o Maturijobs recebeu 57 mil candidaturas para empregos em todo o país.

Recomendações

O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Paulo Sardinha, afirma que, para se manter ou voltar ao mercado de trabalho, o profissional precisa se atualizar na área de trabalho, com cursos de reciclagem, por exemplo.

Dessa maneira, o trabalhador mais velho diminui os riscos de ser substituído por causa do conhecimento estar defasado em relação ao jovem que acabou de sair da faculdade.

O presidente da ABRH, no entanto, reconhece que nem sempre é possível pegar esse caminho. Para ele, a rotina pesada – somando a carga horária do trabalho e os cuidados com a família – costuma afastar as pessoas de novos cursos.

Por isso, Sardinha afirma: “As organizações, a sociedade e o governo deviam se reunir a fim de preparar as pessoas para a chegada desse momento”.

Ele aponta, ainda, que é possível se preparar ao longo da vida para tomar um outro rumo após os 60 anos. “Muitas pessoas costumam se preparar para que, depois de uma intensa vida corporativa, possam se dedicar à vida acadêmica”, explica.

Independentemente de qual rumo o trabalhador resolve tomar após ficar mais velho, é importante que essa seja uma preocupação de muitos anos antes de a idade chegar.

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