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Começa corrida por renegociação de dívidas. Veja dicas e cuidados

No DF, 793 mil famílias estão endividadas. Especialistas fazem alertas para quem pretende fechar acordo com o credor

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1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O Distrito Federal tem 793.202 famílias com débitos pendentes, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) para setembro, divulgada pela Federação do Comércio do DF (Fecomércio) nessa segunda-feira (21/10/2019). O número representa 80,3% das famílias brasilienses. Supera os 77,7% registrados no mesmo período de 2018.

A solução para muitas delas é a renegociação da dívida junto ao credor. A procura por um acordo para quitar os débitos cresce nos últimos meses do ano, segundo aponta a economista do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) Marcela Kawauti.

“É uma época em que as pessoas recebem dinheiro extra. O FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço] agora, logo mais, tem 13º; algumas empresas pagam participação nos lucros, bônus”, explica. “A renegociação é sempre interessante, porque o consumidor consegue chegar no meio-termo, que é bom para ele e para o credor também”, acrescenta.

As vagas temporárias de fim de ano também contribuem com o cenário positivo para quitar as dívidas. No Distrito Federal, de acordo com a Fecomércio-DF, as contratações nos últimos meses de 2019 devem gerar 3 mil vagas. A chance de efetivação anima: 92,2% dos empresários entrevistados pela federação disseram que a possibilidade existe.

No país, são muito comuns os feirões de renegociação de débitos. De setembro a outubro, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) do DF realizou um mutirão com quatro instituições financeiras. Foram 1,2 mil consumidores atendidos e cerca de R$ 8 milhões renegociados. Do total, 58% dos casos resultaram em acordos.

Na primeira quinzena deste mês, foi a vez de a Caixa Econômica Federal promover a Semana de Conciliação. A instituição ofereceu a possibilidade de regularização de débitos para 120 mil clientes do banco em todo o país. Os descontos chegavam a 90%.

A semana fez parte da campanha Você no Azul, com alternativas de renegociação para clientes com débitos em atraso há mais de um ano. Até o início do mês, 276 mil clientes regularizaram a situação com o banco, somando R$ 2,4 bilhões em pagamentos. Os atendimentos continuam na internet.

Não espere

Apesar de os mutirões atraírem muitos consumidores endividados, Kawauti aponta que não é preciso esperar que eles aconteçam para buscar um acordo com as instituições financeiras. “Se você já tem como fazer a negociação, é melhor procurar logo o credor, porque quanto mais se espera, mais cara fica a dívida”, afirma a economista.

Assim como a Caixa, o Banco de Brasília (BRB) renegocia débitos com atraso, de pelo menos um ano, com descontos de 30% a 90% para pagamentos à vista, por meio do site da instituição financeira. Podem ser beneficiadas pessoas físicas e jurídicas com dívidas de até R$ 100 mil. Lançada em agosto, a campanha segue até dezembro.

O Banco do Brasil também recebe propostas de renegociação em sua página na internet. Há ainda o Serasa Consumidor, que disponibiliza o processo on-line, de forma gratuita, pelo site ou aplicativo. A plataforma conta com 30 parceiros – bancos, empresas de telefonia e instituições de ensino, por exemplo – para atendimento em tempo real. O consumidor pode conseguir descontos de até 90%.

Atenção

As ferramentas oferecidas pelos bancos podem ser a solução para sair da inadimplência, mas é preciso estar atento. A recomendação é colocar no papel o valor gasto no mês e a renda, para saber quanto seria possível assumir em uma proposta de renegociação.

“O que a gente acompanha com mais frequência é o consumidor fazer um acordo que ele não consegue pagar. Duas parcelas depois, volta para a situação de inadimplência”, afirma a economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Ione Amorim.

Se o consumidor tiver mais de um débito, é importante que priorize o de taxa de juros mais elevada. Outra recomendação é que ele não opte por parcelas a perder de vista. “O alongamento da dívida também a torna maior”, aponta Ione Amorim.

Para dívidas de cheque especial e cartão de crédito, a dica é: procure logo por um acordo com o banco. A economista aponta que, em alguns casos, mesmo que o consumidor não tenha o dinheiro para quitá-la por completo, o consumidor deve buscar por um desconto com o pagamento à vista, podendo chegar ao valor disponível em conta.

Ciclo do endividamento

Ione Amorim alerta para os perigos dos mutirões de fim de ano, época que reúne as festas de Natal e o período de férias de muitos brasileiros. “É uma data que tem um apelo [comercial] muito forte, e o próprio mercado e os bancos contam com isso. É um conflito com o que a gente espera de educação financeira”, afirma.

Segundo ela, os mutirões para negociação dos débitos nesta época do ano podem até ser propositais. “Apenas criam mecanismo para que esse consumidor volte a comprar, tirando-o temporariamente dessa condição para [depois] levar de volta”, afirma.

“É importante que o consumidor faça um bom planejamento. Se ele renegociar a dívida, que tenha outras fontes [de renda] para conseguir fazer suas compras. O objetivo não é que as pessoas não viajem ou não comprem presentes, mas que façam isso com planejamento para evitar ficar nesse ciclo de endividamento”, acrescenta.

Marcela Kawauti aponta que o consumidor precisa definir as prioridades. “Se não fizer isso, ele vai se deixar levar por essa fase de fim de ano, em que todo mundo é muito incentivado a gastar”, assinala.

Após quitar a dívida, a economista do SPC Brasil sugere que o consumidor faça uma autocrítica. “Será que eu fiquei inadimplente porque gastei muito no cartão de crédito? Será que é porque eu gastei mais do que devia, não me controlei? Essa autocrítica é importante para que o consumidor consiga evitar cair nesse problema de novo”, ressalta Marcela Kawauti.

Veja o que considerar antes de fechar um acordo:
  • Faça os cálculos de quanto a família recebe e gasta em um mês, para saber quanto está disponível no orçamento para o pagamento da dívida;
  • Organize também uma planilha de gastos futuros, já que a renegociação geralmente gera parcelas;
  • Não espere por um mutirão de renegociação. Procure o credor e negocie, para evitar o aumento da dívida;
  • Em caso de mais de um débito, priorize o pagamento daquele cuja taxa de juros é mais elevada. Procure logo por um acordo, nessa situação;
  • Opte por acordos com número menor de parcelamentos, já que o alongamento da dívida pode torná-la maior.

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