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Dulcina: artistas precisam de R$ 600 mil em 9 dias para evitar leilão

Prédio com Teatro e Faculdade Dulcina de Moraes vai a leilão em 14 de setembro. Artistas inciam uma saga em poucos dias reverter venda

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Foto da fachada do Dulcina com contas de atrasadas
1 de 1 Foto da fachada do Dulcina com contas de atrasadas - Foto: Breno Esaki/Metrópoles

Artistas locais correm contra o tempo para salvar uma joia cultural do Distrito Federal. A sede da Fundação Brasileira de Teatro está a caminho de leilão neste mês, com a data marcada para 14 de setembro. No mesmo lugar, há o prédio tombado do Teatro Dulcina de Moraes e a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes – mantidos pela fundação.

Para tentar reverter a situação, artistas locais se reuniram para tentar arrecadar R$ 600 mil, o que avaliam ser valor suficiente para quitar o débito que leva o prédio a leilão, com os valores corrigidos. A nove dias para a data, os protagonistas do cenário cultural levantaram apenas R$ 2 mil.

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Obras de arte e chapéu sob medida são encontrados
Equipe trabalha para recuperar e encontra novos documentos
Quadro do século 19 é parte do acervo de Dulcina
Até o momento 218 figurinos foram catalogados, há mais 1,8 mil
Equipe trabalha da recuperação dos materiais
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Fundação tenta reerguer teatro Dulcina e evitar leilão

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Obras de arte e chapéu sob medida são encontrados

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Equipe trabalha para recuperar e encontra novos documentos

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Quadro do século 19 é parte do acervo de Dulcina

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Até o momento 218 figurinos foram catalogados, há mais 1,8 mil

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Fundação atolada em dívida

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Cenário Cultural tenta manter o Dulcina

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Tempos áureos, em que espetáculos se apresentavam no teatro Dulcina com a casa cheia

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Com energia, é possível identificar o que está em funcionamento

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A exibição da produção acontece no próximo domingo (27/8), véspera da data em que se completa 27 anos de sua morte

Divulgação

O valor doado é atualizado diariamente às 18 horas no site do Grupo de Teatro Scutum, que pode ser acessado neste link. O endereço eletrônico também tem as informações bancárias para a doação.

A vaquinha foi organizada na sexta-feira (1º/9) como o último recurso para tentar reverter a venda do patrimônio cultural do DF. Para o secretário-geral do Sindicato dos Artistas e  Técnicos em Espetáculos de Diversões no Distrito Federal (Sated), Wellignton Abreu, o objetivo é quitar qualquer dívida. “Temos feito um esforço enorme para que o prédio não vá a leilão”, destaca.

Abreu, que também é membro do Conselho de Cultura do DF, faz parte do movimento que organiza a vaquinha para impedir a venda do prédio. “Temos uma conta zerada que será administrada por três pessoas e o montante arrecadado será ajuizado em nome da fundação”, explica.

“Mandaremos os extratos para todos e todos serão fiscalizadores das contas. Vamos tentar de tudo até o dia do leilão”, detalha.

“Se não conseguirmos o valor, não tem o que fazer o prédio vai a leilão”, destacou o presidente da Fundação Brasileira de Teatro, Gilberto Rios. Para ele, só resta essa solução para impedir o trâmite judicial.

Edital

Às 17h13 de 30 de agosto, o juiz federal Alexandre Machado Vasconcelos, da 18ª Vara Federal, assinou o edital com as últimas orientações para a venda do prédio.

“No local existe o prédio da Fundação Brasileira de Teatro, composto de dois subsolos, térreo e quatro pavimentos superiores. O prédio não é novo, e precisaria de reformas, encontrando-se atualmente fechado em virtude de corte de energia elétrica e do abastecimento de água”, destaca o documento.

A avaliação do prédio e o lance mínimo é de R$ 18 milhões no documento, embora o valor da dívida, seja, de fato, R$ 423.875,07. Esse valor foi atualizado em 27 de julho de 2023 com juros que não param de correr. Em maio, por exemplo, o débito estava em R$ 328.467,34.

O teatro e a faculdade têm sede no Conic, coração do Plano Piloto – área nobre do Distrito Federal. Caso o espaço não seja arrematado em 14 de setembro, outra data também já foi previamente estabelecida: 28 de setembro. Se o processo correr, a partir de outubro o cenário do Conic pode começar por mudanças.

Dívidas

Mais antiga que a construção de Brasília, a Fundação Brasileira de Teatro está atolada em dívidas. A entidade, que guarda 70 anos da história do teatro nacional, foi trazida pela própria Dulcina de Moraes do Rio de Janeiro para Brasília.

As dívidas são de origem diversas, como trabalhistas, previdenciárias, multas tributárias, débitos com Governo do Distrito Federal, juros acumulados, processos, entre outros. A maior fatia desse bolo de dívidas é a previdenciária – são R$ 16.023.637,63.

O endividamento deixa o CNPJ da fundação em condição negativa, o que não permite receber emendas e outros tipos de repasses financeiros.

Na sequência, foi estimado o montante de R$ 3.451.081,58 em dívidas, decorrentes de processos que a fundação perdeu. “A grande maioria desses processos só foi perdido à revelia, inclusive a ponto de serem executados em razão da falta de defesa técnica”, conta o atual secretário-executivo da Fundação Brasileira de Teatro, Roberto Neiva.

Às luzes

Uma das diversas dívidas que a Fundação Dulcina de Moraes acumulou foi em relação às contas de energia. O espaço chegou a passar três anos na escuridão. O palco do Teatro Dulcina de Moraes foi iluminado pela primeira vez em 25 de julho. O prédio tombado acumulava dívidas com a Neoenergia, chegando ao valor de R$ 480 mil e a partir de negociações com a distribuidora permitiram reduzir os débitos para R$ 65 mil e ganhar prazo para o pagamento.

As negociações fazem parte da estratégia adotada pela atual gestão da fundação que pretende – caso consiga manter o espaço – revitalizar o local e dar sequência às atividades culturais no espaço. A estimativa é agora tentar parcerias para que, em um ano, o teatro possa voltar a ser acessível ao público.

Em nota, a Neoenergia destacou que realizou uma série de reuniões com os responsáveis pelo local e ofereceu uma renegociação dos débitos, com condições para facilitar o pagamento e manter as faturas em dia.

Herdeiro de Dulcina

“O ator que sou hoje é porque eu passei pela faculdade Dulcina de Moraes”, afirmou o ator Deo Garcez, que está atualmente no ar na novela Fuzuê, da Rede Globo. Garcez é conhecido por  grandes obras nacionais, como as novelas Xica da Silva, O Cravo e a Rosa, e está há oito anos em cartaz com a peça Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade. Deo chegou a ter aula com Dulcina, por isso é considerado no cenário brasiliense de teatro um herdeiro de Dulcina.

“É o símbolo mesmo do profissionalismo, da qualidade técnica, da qualidade artística. A atriz grandiosa, genial e ao mesmo tempo mestra, porque ela ensinava muito bem, ela valorizava talentos”, contou em tom de admiração. O ator tinha saído do Maranhão para morar em Brasília e encontrou uma oportunidade de crescer na carreira artísticas estudando na fundação.

Veja a entrevista na íntegra: 

“A Dulcina é um patrimônio nacional, até um patrimônio histórico cultural do Brasil e, porque não dizer, do mundo. Uma mulher que teve toda a importância no século passado. Ela foi uma heroína, ela é uma heroína”, emendou o ex-aluno e ator global. Para ele, a admiração pela Dulcina aparece como uma bênção antes de entrar em cena. “No camarim, eu tenho sempre um porta-retrato com a foto dela ali, como uma inspiração. Ela é o meu amuleto”, declarou-se.

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