“Dos cuecas”: integrante de igreja acusado de estupros preferia meninos
Segundo delegado do caso, encontros só com garotos eram liderados por integrante de igreja acusado de estupros por jovens: 12 foram ouvidos
atualizado
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Doze jovens com idades entre 14 e 21 anos já se apresentaram à 20ª Delegacia de Polícia (Gama) para denunciar Elithon Carlito Silva Pereira, 30 anos, como autor de abusos sexuais contra as vítimas. Os crimes teriam começado em 2017, enquanto Tom – como o homem é conhecido na comunidade católica do Distrito Federal – trabalhava como líder de liturgia da Paróquia Nossa Senhora da Aparecida, no Gama. Os depoimentos colhidos até agora indicam que o acusado tinha predileção por abusar de meninos.
De acordo com o delegado Renato Martins, à frente das investigações, o caso veio à tona durante uma live da banda de Elithon, realizada no dia 17 de maio. “Durante a apresentação, apareceu um comentário chamando ele de pedófilo e estuprador”, relata.
Após a repercussão, Elithon teria chamado membros do grupo que ele comandava e pedido desculpas por certas condutas. Revoltados, alguns dos participantes entraram em contato com o padre responsável pela paróquia onde o suspeito morava – o religioso encaminhou o caso à Polícia Civil do Distrito Federal.
“Os cuecas”
Ainda conforme o delegado responsável pela apuração, os abusos ocorriam fora da igreja, durante reuniões que eram conhecidas como “dos cuecas”, comandadas por Tom e que contavam com a participação de jovens – muitos eram coroinhas, espécie de ajudantes dos padres nas celebrações católicas.
O suspeito era justamente o responsável pelo acolhimento da juventude no templo do Gama.
“O interesse dele era só nesses meninos. Acontecia um retiro ou reunião na casa de alguém e, depois das leituras, ocorriam os abusos”, explica Renato Martins.
Livre
Apesar da gravidade dos fatos, Elithon segue em liberdade, visto não ter sido preso em flagrante. Ele se apresentou à 20ªDP, mas preferiu não se manifestar.
“Ainda estamos colhendo depoimentos, enviamos algumas vítimas ao IML [Instituto Médico Legal], a fim de concretizar os elementos que temos”, ressalta o delegado da 20ª DP.
A polícia prefere ainda não divulgar o modo de atuação do suspeito, mas confirma que as investigações estão divididas em duas frentes: estupro ou violação sexual mediante fraude. O trabalho segue em sigilo, pois a maior parte das vítimas era menor de idade quando os crimes supostamente ocorreram.
Após a divulgação dos fatos, a DP recebeu mais uma denúncia de abuso contra Elithon, dessa vez em Santa Maria, divulgada pelo Metrópoles nessa terça (26/05). Os pais de uma das vítimas que procuraram a PCDF disseram que o crime teria ocorrido em 2016.
Fiéis da congregação ouvidos pela reportagem relatam que, após a denúncia dos pais do coroinha, Tom deixou o ministério e passou a morar na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Gama, a convite do padre da igreja.
O Metrópoles também revelou que o investigado tentou uma vaga no Conselho Tutelar da cidade no último pleito realizado: teve, ao todo, cinco votos (confira na galeria abaixo).
Repúdio e afastamento
O delegado esclarece que a igreja foi pega de surpresa. “Era uma pessoa de confiança, que morava em um quartinho lá. Ajudava o padre em várias coisas”, diz Renato Martins. O próprio pároco do templo teria levado Elithon às autoridades policiais: segundo a Arquidiocese de Brasília, o religioso prestou todos os esclarecimentos e tem colaborado com os investigadores.
Em nota, o comando da Igreja Católica na capital repudiou o caso, ressaltou que nem o padre nem sua congregação têm relações com os supostos crimes, e afirmou só ter tido conhecimento das denúncias após elas começarem a ser registradas na Polícia Civil.
Também em nota, o Ministério Vida e Luz, do qual Tom fazia parte, confirmou ter tomado conhecimento das denúncias apresentadas contra o suspeito e pontuou que Elithon está desligado de todas as atividades religiosas.
Ainda no documento, a entidade afirma que aguarda o fim das investigações para se pronunciar sobre as acusações. “O ministério coloca-se à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento”, diz trecho da nota.
Em entrevista ao Metrópoles, o padre Luís Meire, da Paróquia Santa Mãe de Deus, em Santa Maria, negou ter tomado conhecimento de casos no templo religioso, onde é pároco desde 2018. “Ele era um paroquiano comum, que fazia parte dos grupos da paróquia. Todos esses casos ocorreram no Gama. Até agora, não chegou nenhuma mãe ou pai para denunciar casos na nossa paróquia. Pode até ter ocorrido [casos em Santa Maria], mas ainda não tomei conhecimento”, ressaltou.
Segundo o religioso, Elithon morava em Santa Maria, mas deixou a cidade para residir na paróquia do Gama em 2014.
A reportagem entrou em contato com Elithon para comentar as acusações, mas ele não respondeu. O espaço está aberto para manifestações.