Dois enfermeiros de Brasília morreram com coronavírus
Conselhos regional e nacional da categoria receberam denúncias de falta do material necessário para o tratamento da doença. Secretaria nega
atualizado
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Dois enfermeiros do Distrito Federal morreram infectadas pelo novo coronavírus. O dado foi divulgado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). No país, o balanço total é de oito mortes e 11 casos suspeitos. Além do Distrito Federal, São Paulo e Recife tiveram registros de profissionais com a doença.
A primeira vitima fatal da Covid-19 no DF foi a enfermeira de 61 anos Viviane Rocha de Luiz. Ela morreu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em 23 de março. Graduada em enfermagem, ela era assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Segundo informações do Governo do Distrito Federal (GDF), Viviane entrou no Hran no dia 22 de março, com quadro de febre, desconforto respiratório e histórico de contato com paciente infectado pela Covid-19 que veio de São Paulo.
Viviane Rocha tinha comorbidades, de acordo com boletim médico. Sofria de obesidade mórbida, hipertensão arterial sem tratamento e era ex-tabagista. O quadro evoluiu para parada cardiorrespiratória às 11h40 do dia 23 de março.
Viviane fez exame específico para a Covid-19, mas o primeiro resultado foi inconclusivo. Depois, a contraprova seguiu para o laboratório da Fiocruz. No dia 29 de março, houve a confirmação da doença.
Já o enfermeiro Geovani Comochena, 37 anos, faleceu no último domingo (05/04). Sem a possibilidade de realizar o velório, o corpo do homem foi cremado em Valparaíso (GO), na segunda (06/04).
Comochena trabalhou no Abrigo dos Excepcionais de Ceilândia, que lamentou a morte em seu perfil do Facebook: “Que Deus o receba na glória do senhor e conforte toda sua família. Estamos muito tristes pela sua partida. Obrigado por ter sido uma pessoa maravilhosa com todos nós”.
Um amigo escreveu: “Com muita dor e pesar comunico o falecimento de um grande amigo de infância, em decorrência do coronavírus. Uma grande perda: vai com Deus, meu irmão”.
Denúncias
Ao Metrópoles, o Cofen afirmou que recebeu 66 denúncias de enfermeiros do Distrito Federal. A maior parte delas é referente à insuficiência ou inadequação de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Uma enfermeira que atua na UPA de Sobradinho relatou à reportagem que não tinha máscara para os servidores. O alívio surgiu na segunda-feira (07/04), quando poucas unidades chegaram de Planaltina.
“A chefia nos orientou para não atendermos sem material. Todo dia há uma certa dificuldade. Se está assim agora, imagina quando as pessoas voltarem para as ruas e aumentar o número de contágio? Na odontologia, por exemplo, que atende apenas emergência, temos uma máscara N95 compartilhada entre a equipe”, desabafou.
O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) fez uma visita ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e denunciou que a unidade, referência no atendimento a pacientes com coronavírus no DF, sofre com a escassez de insumos básicos. Também apontou situação precária da climatização na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Segundo servidores que pediram para não ser identificados, as máscaras N95 usadas pela equipe são doação e ninguém sabe até quando elas vão durar. Para piorar a situação, o ar-condicionado não funciona e o suor deteriora ainda mais rápido os EPIs.
“A climatização é inadequada e funciona precariamente. Isso precisa ser reparado urgentemente, não pode ficar assim. A situação a que os profissionais estão submetidos causa desgaste físico, emocional e picos de estresse que colocam em risco o desempenho da equipe e a vida das pessoas”, afirmou o presidente do Coren-DF, Marcos Wesley.
Com as apurações realizadas na fiscalização, o Conselho afirmou que vai tomar as providências necessárias para cobrar das autoridades competentes o fornecimento regular de EPIs e a correção das irregularidades nas instalações de trabalho.
Outros órgãos
Além do Coren-DF, participaram da força-tarefa o Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro), o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) e a Ordem dos Advogados do Brasil.
“Estamos fazendo a nossa parte, fiscalizando e correndo atrás de soluções para os problemas que encontramos, mas não depende somente de nós. Todas as instituições e a sociedade civil como um todo precisam cobrar do governo que garanta aos profissionais de fnfermagem condições seguras de trabalho. É necessário cuidar de quem cuida”, finalizou Marcos Wesley.
O que diz a Secretaria de Saúde
Em nota enviada à reportagem, a Secretaria de Saúde do DF diz seguir o protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) no uso de EPIs e atua no intuito de assegurar o abastecimento dos profissionais da rede com os equipamentos.
De acordo com a pasta, o estoque disponível pode ser consultado no site do órgão (clique aqui).
“Está em andamento processo de dispensa de licitação para compra emergencial de EPIs, incluindo macacões, sapatilhas, luvas, aventais, capotes e máscaras, para assegurar o abastecimento da rede pública por 180 dias”, garante da secretaria na mensagem.
Ainda segundo a nota, os serviços de saúde são constantemente alertados sobre as medidas que a serem adotadas para utilização dos EPIs nos atendimentos aos casos suspeitos ou confirmados de coronavírus. “Isso inclui medidas de prevenção e controle da propagação do vírus desde a chegada do paciente, triagem, espera do atendimento e durante toda assistência prestada”, aponta a pasta.
Mortes no DF
O Distrito Federal viu o número de óbitos registrados por coronavírus dobrar em apenas quatro dias: passou de seis para 12. A capital do país tem 503 casos confirmados de infecção por Covid-19, segundo balanço divulgado na noite de terça-feira (07/04).
Na última sexta-feira (03/04), Brasília registrava a sexta morte, a de uma moradora do Lago Sul de 61 anos que não resistiu às complicações da doença e morreu no Hospital Alvorada, onde estava internada desde 29 de março.
Daquele dia para cá, o número de óbitos por Covid-19 dobrou: já são 12 pacientes mortos em função de complicações provocadas pela doença.