Doenças de pele contaminaram cinco servidores de presídios do DF
Agente policial de custódia e quatro agentes penitenciários se tratam: um tem coceira intensa há 30 dias. Presos doentes passam de 2,6 mil
atualizado
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Subiu para cinco o total de servidores contaminados com doenças de pele em unidades prisionais do Distrito Federal. Até o dia 31/7 apenas um agente policial de custódia tinha o impetigo diagnosticado. Na última sexta (4/8), quatro agentes penitenciários denunciaram que também apresentavam sintomas. Um deles, lotado no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, está com escabiose (ou sarna) há um mês e não consegue resultado com o tratamento indicado pelo médico.
As coceiras provocadas pela doença altamente contagiosa já geraram feridas no tórax do servidor. Com medo de contaminar a família, ele tem se mantido afastado da esposa e dos filhos. Houve ainda outro caso no CIR; um na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF1) e outro, de uma servidora, na Penitenciária Feminina do DF (PFDF, popularmente conhecido como Colmeia).
Os cinco trabalhadores do sistema prisional foram diagnosticados com escabiose. “Começou uma coceira intensa no meu antebraço esquerdo no final de junho. Durou 20 dias. Usei pomadas para melhorar. Deu algumas bolhas no local”, afirmou o funcionário da PDF1.Segundo ele, a família não foi contaminada porque ele toma o cuidado de lavar as roupas de trabalho separadamente das peças dos demais integrantes da casa. “A gente revista os presos, as toalhas, roupas de cama… É difícil não se contaminar”, relatou o homem, que pediu para não ter o nome divulgado.
Sindicatos pressionam GDF
Com a possibilidade de o número de casos entre os servidores aumentar, o presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias (Sindpen-DF), Leandro Allan, convocou para a próxima quinta-feira (10/8) uma assembleia com a categoria. O objetivo é definir uma estratégia de atuação frente ao surto de doenças que atingiu as seis unidades do sistema penitenciário local. Ao todo, o DF conta com 1.290 servidores na área.
Queremos atendimento médico para os servidores. Precisamos de equipamentos de proteção individual. Vamos pedir ao GDF que nos dê suporte. O atendimento aos agentes não pode ser a exceção, precisa ser a regra
Leandro Allan, presidente do Sindpen-DF
O presidente da Associação dos Agentes Policiais de Custódia da Polícia Civil do DF (AAPC), Carlos Lima, também pediu uma reunião com o governo a fim de cobrar medidas “drásticas” contra impetigo, escabiose, tínea, pitiríase e furunculose, as cinco moléstias que se disseminaram até o momento entre 2.610 detentos brasilienses.
Coceira, feridas e bolhas de pus
O sistema carcerário do DF é formado por seis unidades: Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I), Penitenciária do Distrito Federal II (PDF II), Centro de Internamento e Reeducação (CIR), Centro de Detenção Provisória (CDP), Centro de Progressão Penitenciária (CPP) e Penitenciária Feminina (PFDF). Hoje, todas têm casos registrados de doença de pele que provocam coceira, feridas e bolhas purulentas na pele dos infectados.
A sarna ou escabiose provoca coceira intensa, principalmente durante a noite ou em dias quentes. O tratamento é com remédio via oral, um antiparasitário. O impetigo ocorre de duas formas, ambas causadas pelas bactérias Streptococcus pyogenes ou Staphylococcus aureus. É transmitido pelas mãos, pelo contato com o doente ou com pertences – roupas, cobertores, lençóis ou brinquedos.
A grande preocupação dos gestores das áreas de segurança e saúde pública é que as moléstias não contaminem todos os detentos do sistema: 15.311. De acordo com o infectologista da Aliança Instituto de Oncologia, Tarquino Erastides, é preciso ferver as roupas de cama, calças e camisas; passar ferro quente nos colchões, oferecer o tratamento aos infectados e manter condições de higiene que não permitam a proliferação do parasita da sarna e da bactéria causadora do impetigo.
“Não adianta tratar os doentes se a higienização não for feita. Vira um ciclo vicioso. Na verdade, a sarna deve ter provocado a coceira, produzido escoriações e aberto a proteção natural da pele para o aparecimento do impetigo, que é provocado por bactéria”, afirmou o especialista.
Segundo a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), unidades médicas dos presídios, ligadas à Secretaria de Saúde, vêm trabalhando para estabilizar o surto entre a população carcerária. “Vale mencionar que o impetigo é uma infecção que tem maior possibilidade de proliferação em ambientes com aglomeração de pessoas, como escolas, creches, quartéis e presídios, assim como escabiose, tineas, ptiríase e furunculoses, identificadas em outras unidades prisionais. Além disso, ocorrem com mais frequência nesta época do ano”, comentou o órgão por meio de nota.