Servidor do sistema carcerário é infectado por doença que afeta presos
Lotado no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), agente policial de custódia apresentou sintomas de impetigo bolhoso e está afastado
atualizado
Compartilhar notícia
Os servidores do sistema carcerário estão preocupados com a notícia de que um agente policial de custódia foi afastado das atividades por contrair uma infecção na pele. O homem foi diagnosticado com impetigo — ao lado da escabiose (sarna), a enfermidade já afetou 2.601 presos do Complexo Penitenciário da Papuda e contaminou até mesmo parentes durante as visitas nos últimos meses. O caso é o primeiro registrado entre as pessoas que trabalham no sistema carcerário do Distrito Federal.
A doença provoca coceira intensa, feridas e bolhas purulentas na pele. O profissional está de atestado médico e ficará afastado das funções até que o tratamento seja concluído. Atualmente, ele usa antibióticos para conter o avanço da doença.
A associação teve acesso ao laudo médico do servidor e chegou a publicar um texto de alerta na página institucional da entidade. No documento, são dadas instruções de prevenção ao impetigo e à escabiose.
Pela primeira vez tivemos a notícia de que um dos nossos servidores foi contaminado. Isso faz nossa preocupação aumentar. Medidas drásticas precisam ser tomadas com celeridade, antes que se torne uma epidemia e mais servidores sejam acometidos pela doença
Carlos Lima, presidente da AACP
Ao Metrópoles, o dirigente informou que pedirá uma reunião de emergência com os profissionais da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) para buscar uma solução o mais rápido possível. O balanço divulgado pelo GDF nesta segunda (31/7) mostra que os registros da doença não param de crescer. No último dia 24, eram 2.095 contaminados. Agora, já somam 2.610. Ou seja, quase 600 novos casos em uma semana.
O alto índice incomoda outra categoria: a de agentes de atividades penitenciárias. Com 1.290 servidores, eles reclamam da falta de cuidado do poder público. “Pedimos um núcleo de tratamento médico para os servidores. Estamos expostos às doenças. E se as nossas famílias forem contaminadas?”, questiona o presidente do Sindicato de Agentes de Atividades Penitenciárias (Sindpen), Leandro Allan Vieira.
Vistorias
Órgãos como o Conselho de Direitos Humanos do Distrito Federal (CDHDF) e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados também já cobraram providências à Sesipe.
Integrantes do CDHDF e da CDHM visitaram a Papuda na sexta-feira (28/7) para verificar a situação dos doentes e constataram que muitos presidiários ainda apresentam sintomas da doença. “Em uma cela com 40 detentos, encontramos 35 infectados. Muitos presidiários relataram não terem sequer passado por atendimento. A situação é preocupante”, afirmou Michel Platini, presidente do CDHDF.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social informou que a Sesipe não foi comunicada sobre afastamento de servidores em razão das doenças de pele. Nem sobre visitantes que tenham sido contaminados e esclareceu que não há motivos para suspender as visitas.
Risco
O surto de doenças infecciosas na Papuda foi revelado pelo Metrópoles em 13 de julho. Na ocasião, 10 esposas de detentos da Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF 1) relatavam ter lesões nos braços e nas pernas. Depois de pedidos da Justiça e do MPDFT, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social iniciou o tratamento dos presos em cinco das seis unidades da capital.
De acordo com a Secretaria de Segurança, das seis unidades prisionais – Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I), Penitenciária do Distrito Federal II (PDF II), Centro de Internamento e Reeducação (CIR), Centro de Detenção Provisória (CDP), Centro de Progressão Penitenciária (CPP) e Penitenciária Feminina (PFDF) – apenas nesta última foram descartadas as doenças de pele. No total, o sistema tem 15.311 detentos.
A pasta informa ainda que após o diagnóstico das doenças, os médicos prescreveram a medicação de uso oral e tópico e ainda orientaram os custodiados sobre questões de higiene, principalmente quanto à importância de se lavar as mãos. Agora, a equipe médica passa a avaliar os procedimentos adotados a fim de constatar a eficácia do tratamento, que em caso de negativa será revisto.
“É importante esclarecer que as celas estão sendo higienizadas e aquelas que abrigam detentos com escabiose a limpeza inclui o uso de criolina, seguindo as recomendações médicas”, destaca a nota.
*Nome fictício