Do céu ao inferno: motoristas de aplicativos sofrem com perda de renda
Segundo dados do sindicato da categoria, de 35% a 40% dos motoristas desistiram de rodar no Distrito Federal
atualizado
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No último ano, a vida dos motoristas de aplicativo virou de cabeça para baixo. O trabalho que sustentava a casa e permitia até viagens de férias e trocas de carro agora tira o sono. A crise econômica, a pandemia de Covid-19 e os custos elevados transformaram lucro em prejuízo, o que tem inviabilizado a atividade.
Segundo Marcelo Chaves, presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos de Transporte Privado Individual por Aplicativos no Distrito Federal (Sindmaap-DF), “hoje, em média, de 35% a 40% dos motoristas desistiram de rodar no Distrito Federal”.
A desistência de trabalhadores impacta também no tempo de espera para o cliente. De acordo com Marcelo Chaves, alguns usuários têm reclamado de demora na chegada dos veículos ao local de partida.
Luciano Brito, 27 anos, começou a trabalhar na Uber assim que ficou desempregado há mais de um ano: “No começo, ainda antes da pandemia, era muito bom. Naquele tempo, compensava trabalhar nos apps. A gasolina era mais barata. Tudo era mais barato”.
Morador de Taguatinga Norte, Luciano trabalhava com coleta de lixo e encontrou na atividade uma oportunidade. Agora, já pensa em desistir. “Cada dia que passa fica pior. Eu mesmo só estou prestando serviço por aplicativo de transporte porque não tem vaga de emprego, por isso ainda estou rodando”, lamenta o motorista. “A nossa realidade, hoje, é que temos mais gastos e menos lucro”, conclui.
Quem também já pensa em migrar de atividade é o motorista Lúcio Neves, 61 anos. O trabalhador, que reside na Samambaia Sul, tem buscado outras formas de compensar o prejuízo. “Já há algum tempo faço renda extra para compensar ”, revela Lúcio Neves, que vem atuando paralelamente com venda de alimentos.
Outro motorista ouvido pela reportagem lembra da época boa da profissão: “Durante muito tempo, foi interessante, dava para sustentar a família, trocar de carro e até viajar. Mas, atualmente, estou pagando para trabalhar’, declarou sob condição de anonimato, com medo de sofrer retaliações das empresas.
Já o músico Gabriel Raddad, 25 anos, recorreu ao transporte por aplicativo quando veio a pandemia. Impossibilitado de cantar nos bares e eventos por conta do lockdown, a solução encontrada foi se cadastrar na Uber e na 99.
“Quando comecei a rodar pelos apps, eles pagavam quase R$ 1 por km. Com o tempo, foi diminuindo, e não tenho carro próprio. Parou de compensar”, explicou Gabriel, que voltou a se dedicar às apresentações musicais no DF, principalmente em Ceilândia, cidade onde mora.
O outro lado
Em nota, a Uber disse que “vem acompanhando os aumentos de preço dos combustíveis nos últimos meses, entende a insatisfação causada pelos seus impactos em todo o setor produtivo e, por isso, a empresa tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos”.
A empresa também alega que, conforme a campanha de vacinação avança e a reabertura de atividades são autorizadas, a demanda pelo serviço cresce: “Com isso, os ganhos de quem dirige com o app da Uber têm sido os maiores desde o início do ano. Em Brasília, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.150 a R$ 1.250 na semana”.
A 99 também foi procurada, mas não respondeu à reportagem.
(*) Allan Ricardo é estagiário do Programa Mentor e está sob supervisão da editora Maria Eugênia