Divórcio na pandemia: quarentena aumenta procura por advogados de família
Números oficiais ainda são baixos porque cartórios estavam fechados, mas busca por defensores confirma alta nas separações
atualizado
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Acostumar-se com um cotidiano de restrições no período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus não tem sido tarefa fácil. Especialmente porque, além de ter mudado consideravelmente a rotina das pessoas, a quarentena também está desfazendo lares.
A convivência diária na mesma casa está sobrecarregando física e emocionalmente muitas famílias brasileiras. Com isso, a procura por divórcios tem aumentado, embora os números oficiais, por enquanto, se mostrem baixos no DF – mas em função do fechamento dos cartórios da cidade.
Advogados de família, no entanto, confirmam que são cada vez mais procurados para consultoria sobre o tema.
Segundo Eliene Bastos, diretora do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam) da região Centro-Oeste, apesar de não haver um dado estatístico, já que os escritórios de advocacia não podem revelar a quantidade de atendimentos, o que se percebe é uma procura maior nos pedidos de divórcio.
“Não ocorre em todos os casos, claro, mas o confinamento imposto e obrigatório tem provocado crise em alguns relacionamentos”, disse.
Veja o que diz a advogada:
“De fato, eu estou sendo procurada para consultas. A pandemia está mexendo com as famílias e provoca repercussões jurídicas. São decisões que interferem nos aspectos emocional e financeiro”, explicou Eliene Bastos.
Cartórios
No Brasil há dois tipos de divórcio. No mais simples, chamado de extrajudicial, casais podem se separar de forma mais rápida, pelo cartório, amigavelmente. Já o divórcio judicial ou litigioso é realizado diante de um juiz e envolve questões mais complexas, como falta de consenso entre o casal, partilha de bens, pensão e guarda de filhos.
De acordo com levantamento mais recente da Associação dos Notários e Registradores do DF (Anoreg-DF), em abril de 2020, a quantidade de escrituras de divórcio foi menor do que em abril de 2019: 105 contra 244, respectivamente.
No entanto, o presidente da instituição, Allan Guerra, considera que, como os cartórios estão funcionando mediante agendamento prévio, a quantidade de atos diminuiu, deixando uma demanda represada.
“É possível afirmar, seguramente, que não há menos intenção de divorciar. Com a quarentena, em 19 de março, o TJDFT estabeleceu que os cartórios fechassem e depois foram voltando a funcionar, mas de forma agendada. Com essa regra nova de atendimento, a quantidade de atos diminui. Só os mais urgentes estão sendo realizados”, assegurou.
Para Guerra, é possível afirmar que, com a situação do país, as pessoas deixarão para oficializar essa separação no fim da pandemia.
Apoio emocional
Em Brasília, um grupo terapêutico chamado de Mulher Metamorfose foi criado para auxiliar as mulheres.
A psicóloga Jaqueline Aguiar é a idealizadora do projeto Eu sou o amor da minha vida. O objetivo é ajudar mulheres no cuidado emocional, autoestima e sexualidade.
O grupo se reúne por meio de uma plataforma on-line, com a participação de, no máximo, seis pessoas.
“O isolamento acirrou os conflitos nas relações. Se o casamento acabou na pandemia é porque ele já estava passando por problemas. A reclamação mais frequente por parte da mulher é a tripla jornada. São mães, trabalhadoras e donas de casa. A pandemia evidenciou algo que ela já estava sentindo e não está mais disposta a suportar”, disse a psicóloga.
“Muitas vezes, elas não têm com quem compartilhar suas angústias, não têm o acolhimento de quem passou pelo que elas estão vivendo. Estou aqui para mostrar que a terapia é importante para ela entender essa transição”, completou.
Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho, basta acessar o endereço @eusouamordaminhavida no Instagram.
Assista ao vídeo da psicóloga:
Uma mulher de 37 anos que preferiu não se identificar integra o grupo. Recém-separada, ela encontrou uma forma de buscar em outros relatos um nov jeito de viver.
“Vivia num relacionamento de cerca de 10 anos, casamos e tivemos a nossa filha. Eu havia descoberto algumas traições e perdoado, mas a relação não estava me fazendo mais bem. Com a quarentena e o convívio próximo, descobri que não queria mais viver essa mentira e pedi pra ele sair de casa.”
De acordo com ela, a situação é complicada porque eles ainda não oficializaram a separação no papel. “Estamos esperando voltar ao normal para assinarmos. Enquanto isso, a terapia me ajuda a entender o caminho que escolhi.”