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Distrito Federal é lar de ao menos 6,6 mil estrangeiros

De acordo com a Polícia Federal, a maioria dos imigrantes é de origem portuguesa. Grande parte escolhe Brasília pelo desenvolvimento econômico da região

atualizado

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estrangeiros df
1 de 1 estrangeiros df - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Nos últimos anos, o Distrito Federal tem se tornado lar de muitos estrangeiros que procuram o Brasil – seja ao fugir de algum tipo de conflito em seus países de origem, seja em busca de melhores condições de vida. Até julho do ano passado, 6.646 deles declararam ser residentes da capital, de acordo com a Polícia Federal, que não incluiu nos cálculos os imigrantes que possuem passaporte diplomático. Portugueses são os estrangeiros que mais vivem por aqui, com 1.302 registros até 2015. Entre os paquistaneses, a concentração é menor: apenas 26 escolheram o DF para morar, segundo a PF (veja tabela abaixo).

Entre eles, está o homem acusado de terrorismo pela própria mulher, por supostamente planejar um atentado contra o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek,  no último domingo (10/7). A denúncia, no entanto, não se confirmou e o homem foi liberado. Ele teria entrado no Brasil em 2014, na época da Copa do Mundo, e conseguido um visto permanente após se casar e ter um filho com uma brasileira.

Não há como informar se o paquistanês chegou a pedir refúgio no país. De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), “o sigilo rege o procedimento [de refúgio] de modo a garantir a confidencialidade das informações do solicitante em relação a uma possível prática persecutória”.

Morador de São Sebastião, ele segue alguns padrões verificados por especialistas da área de que grande parte dos imigrantes que não vêm ao DF para cumprir funções diplomáticas fixam residência fora do Plano Piloto.

A maioria acaba se concentrando em outras regiões administrativas, justamente pelo alto custo de vida do Plano Piloto. Eles formam redes de parentes, amigos e familiares e se aglomeram em uma mesma área. Um domina melhor o português e vai ajudando os outros. Essas pessoas encontram suporte e isso acaba facilitando o processo

Aline Maria Thomé Arruda, professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB)

E o motivo de eles procurarem a capital, segundo Aline, está intimamente relacionado ao desenvolvimento econômico do DF. “Temos muitos casos de estrangeiros que vêm por conta do emprego em embaixadas, mas também podemos falar de outros casos. Vários muçulmanos vieram para trabalhar em abatedouros de frango que exportam o produto para o Oriente Médio, por exemplo, o que gerou muito emprego entre eles aqui”, analisa a especialista. O abate Halal, como é chamado, deve ser realizado por pessoas da cultura e segue uma série de procedimentos específicos, como ser feito de frente para Meca (cidade sagrada para os muçulmanos).

Diferenças culturais
Ainda de acordo com a professora, o choque de culturas não é tão perceptível na capital federal como em outras cidades, a exemplo de São Paulo. O marroquino Farid Jabrane (na foto, com a mulher e as filhas), 40 anos, ilustra bem a teoria. Há 14 anos no Brasil, ele morou por um mês na terra da garoa antes de se mudar para o DF.

“Um amigo meu já vivia aqui e falou: ‘Farid, São Paulo é muito grande. Você é recém-chegado e pode ser perigoso. Vem para cá’. E eu vim. Não falava uma palavra em português”, relembra, bem-humorado.

Por ser formado em literatura inglesa, ele conta que lia muito sobre a cultura ocidental e não teve problemas para se adaptar aos costumes locais. “Sempre fui uma pessoa do mundo, disposta a conhecer tudo. Como eu estudava bastante, já entendia um pouco da cultura e sabia o que poderia encontrar por aqui”, conta Jabrane.

O desembarque no Brasil foi uma aventura. “Eu dava aulas de francês no Marrocos e pedi o afastamento não remunerado no trabalho. Pensei: ‘Se der errado, é só voltar'”, completa. Mas não foi preciso retornar à terra natal. Hoje, Jabrane é professor da Secretaria de Educação do DF, casado com uma brasileira e pai de três brasilienses. Voltar a morar no país de origem já não é uma opção.

O angolano Adriano Belmiro, de 27 anos, também não teve problemas de adaptação à cultura brasileira. Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), ele chegou à capital em 2011 para estudar. “Não tive muitas dificuldades e acho que isso se deve ao grande e permanente contato que os angolanos e outros países africanos falantes do português têm com a cultura brasileira”, afirmou Belmiro.

“Grande parte das novelas que passam em Angola são brasileiras. Essa realidade se estende à música e é observada também na literatura, quer seja originalmente brasileira ou traduzida de outras línguas para o português. Esse contato prévio que temos com a cultura através dos meios de comunicação facilitou bastante o processo”, completou o jornalista.

Editoria de Arte/Metrópoles

 

Refugiados
De acordo com o Conare, o DF concedeu 1.311 pedidos de refúgio a estrangeiros até julho de 2016. Outras 693 solicitações estão em fase de análise.

A pesquisa “Integração dos refugiados no Distrito Federal: a importância do aprendizado da língua portuguesa na inserção do mercado de trabalho”, realizada este ano como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Ana Luiza Jardim, 22 anos, na Universidade Católica de Brasília (UCB), destaca que a maior aglomeração de refugiados está em Samambaia, com 53% do total. A jovem realizou um estudo com 15 imigrantes, sendo dois da Síria, seis do Haiti, três de Gana e quatro da Guiné, e traçou um perfil dos estrangeiros que pediram refúgio na capital.

Segundo o estudo, pessoas nessa situação buscam regiões administrativas afastadas do Plano Piloto por não terem condições de morar nas áreas centrais, especialmente pelo elevado custo de vida. Dos 15 entrevistados, apenas um se declarou muito satisfeito com o mercado de trabalho encontrado na capital. Quatro demonstraram muita insatisfação com o cenário. Sete se disseram satisfeitos e outros três insatisfeitos.

Ana Luiza contou ao Metrópoles que não pensava em trabalhar na área das relações internacionais quando entrou na universidade. O interesse pelo tema surgiu a partir de um estágio voluntário que fez no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Fiz o estágio e ele acabou despertando um lado meu que eu nem conhecia. Foi extremamente interessante. Esse é uma tema que ainda está em descobrimento no país e não existem pesquisas concretas”, acrescentou. “O estudo me abriu uma visão mais clara das dificuldades que essas pessoas enfrentam no dia a dia”, completou.

Em sua pesquisa, Ana Luiza verificou que a maioria dos estrangeiros veio ao DF com a preocupação de conseguir um sustento a partir do trabalho – e melhorar a condição de vida de forma mais rápida. “Encontrar um lugar para abrigar suas famílias” foi a prioridade de cinco dos entrevistados, ocupando a segunda posição no ranking. Por fim, apareceram os itens “aprender português” e “conseguir ajuda financeira da sociedade civil ou do governo”.

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