“Difícil olhar para meu filho”, diz marido de Letícia, morta há 1 ano por Marinésio
Kaio Fonseca diz que criança fala da mãe: “Pediu para a gente enviar uma balinha no foguete para que chegasse até ela”. Assassino está preso
atualizado
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A morte da funcionária do Ministério da Educação (MEC) Letícia Sousa Curado, 26 anos, completou 365 dias nesse domingo (23/8). O assassino confesso da jovem advogada, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 42 anos, está preso na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF1), e aguarda julgamento, ainda sem data definida para ocorrer.
Letícia foi assassinada numa sexta-feira, em Planaltina. Ela desapareceu após sair de casa para ir ao trabalho, na Esplanada dos Ministérios. Marinésio a pegou na parada de ônibus, se identificou como loteiro e depois a estrangulou.
O corpo da funcionária terceirizada do MEC foi encontrado dentro de manilha localizada às margens da DF-250, na mesma região, em 26 de agosto de 2019, dois dias após o crime.
Ao Metrópoles, o marido da vítima falou sobre a perda e como foram os 365 dias sem a presença da esposa. A advogada e Kaio Fonseca Curado Melo, 26, viviam juntos há oito anos. Eles têm um filho de 4 anos.
“Perdi o meu apoio, a minha esposa, o meu amor. É uma dor que você acaba se acostumando, mas que está guardada dentro do peito”, resumiu Kaio.
“A lágrima cai com as lembranças dela. Ainda é difícil olhar para o meu filho. Hoje, ele já entende que a mãe está no céu. Outro dia até pediu para a gente enviar uma balinha no foguete para que chegasse até ela”, acrescentou.
Kaio relatou ainda que os dois deixaram o apartamento onde a família residia antes do crime e que ainda é muito difícil retornar ao local. “Quando eu passo em frente a parada do crime, eu não olho”, revelou.
Veja o depoimento de Kaio:
Em relação ao julgamento de Marinésio, o marido da vítima disse que a família entende que, com a pandemia do novo coronavírus, o Fórum entrou de recesso e os trâmites ficaram atrasados. “Por direito do preso, ele também recorreu e ainda não marcaram uma data de audiência. Ainda aguardamos por essa conclusão.”
Caso
Além de Letícia, o cozinheiro também confessou ter matado Genir Pereira de Sousa, 47. Desde que o caso envolvendo Letícia veio à tona, 17 mulheres ou familiares de desaparecidas procuraram a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para denunciar Marinésio.
Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), devido a trâmites processuais que precisam ser cumpridos, ainda não há data definida para a realização do júri do réu.
Apontado pela PCDF como maníaco em série, ele foi condenado a 10 anos de prisão, em maio deste ano, pelo estupro de uma adolescente de 17 anos, ocorrido em uma área isolada do Paranoá, em 2018. Após a decisão, Marinésio deixou o Centro de Detenção Provisória (CDP) e foi transferido para a Penitenciário do Distrito Federal 1 (PDF1) e divide o cárcere com outros 12 detentos.
Nesta sexta-feira (28/8), o cozinheiro estará no Fórum de Planaltina, às 16h, para a audiência de três casos de abuso sexual. Em uma das acusações, ele atacou duas irmãs, de 18 e de 21 anos. O caso foi em 24 de agosto, um dia após o assassinato de Letícia Curado. Atualmente, Marinésio responde processualmente pelas mortes de Letícia e Genir e por cinco crimes de violência sexual.
Defesa
Exatamente 26 dias após o crime, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Marinésio à Justiça por homicídio quintuplamente qualificado no caso de Letícia. As qualificadoras incluem motivo torpe, porque a vítima se negou a manter relações sexuais; meio de execução (esganação); dissimulação, por fingir ser loteiro; feminicídio; e por ele tentar manipular a cena do crime para disfarçar tentativa de estupro.
O cozinheiro foi denunciado, ainda, por tentativa de estupro, ocultação de cadáver e pelo furto dos pertences de Letícia, uma vez que foram encontrados fichário, celular e bens da vítima dentro do carro do assassino confesso.
A denúncia de feminicídio foi oferecida ao Tribunal do Júri de Planaltina e a Justiça acatou a denúncia do MPDFT no início do mês de outubro de 2019. Marinésio pode pegar 46 anos de prisão, caso condenado, segundo estimativa do Ministério Público. Mas em audiência de instrução realizada também em outubro, no Fórum de Planaltina, a defesa do cozinheiro tentou desqualificar o caso como feminicídio.
Segundo o advogado do acusado, o réu confesso teria tido um surto quando assassinou a vítima. As teses completas, porém, serão apresentadas pela defesa no julgamento de Marinésio, no Tribunal do Júri, que ainda será marcado.
“Marinésio foi pronunciado e a defesa recorreu da pronúncia. O recurso está no TJDFT para os desembargadores decidirem em relação à pronuncia de alguns crimes que a defesa entende que ele não cometeu. Como, por exemplo, estupro e furto, além de qualificadoras que não são cabíveis”, comentou o advogado Marcos Venício Fernandes Aredes.
“Nós verificamos que muita coisa está sendo desmistificada. Ele não é um cara violento e nem um monstro ou maníaco. Ele confessou, para mim, que, depois que fez 41 anos, passou a ter um apetite sexual aguçado. É bom pai e era um excelente marido. Trabalhamos para que ele venha a pagar somente pelo que ele fez”, finalizou o advogado.