Diaristas do DF denunciam assédio sexual em redes sociais. Veja conversas
Homem faz proposta de emprego e pede que funcionárias trabalhem com roupas curtas. Em um dos casos, cliente chegou a pedir “faxina e sexo”
atualizado
Compartilhar notícia
A diarista Franciane Sousa, 31 anos, moradora de Ceilândia, decidiu usar as redes sociais para fazer um post de alerta para as colegas de trabalho. Ao oferecer os serviços de limpeza, a mulher foi assediada por um homem que se identificou como cliente. Após dizer que tinha interesse na faxina, o sujeito passou a disparar propostas indecentes, entre elas, sugerindo que a moça fosse trabalhar de “shortinho bem curto”. Em troca, pagaria R$ 500, além da diária.
“Quis alertar, porque se esse homem chegou a esse ponto, de fazer esse tipo de proposta, talvez ele faça outra coisa”, disse, preocupada, em entrevista ao Metrópoles. Franciane fez a publicação em um grupo para diaristas do DF no Facebook: “Pessoal, tome cuidado com esse tipo de postagem de emprego”, e colou um print da conversa.
O que Franciane não esperava era que outras diaristas contassem que também receberam proposta igualmente pornográfica do mesmo do sujeito, identificado apenas pelo primeiro nome na rede social.
O Metrópoles conversou com quatro mulheres. Em todos os casos, o homem usou a mesma abordagem: após a diarista demonstrar interesse pelo serviço, ele pergunta se o marido da funcionária não se importaria de ele ser solteiro. E, então, afirma que pagaria a mais se a mulher se submeter a usar as roupas curtas que ele pedia.
Girlane Santos, 36 anos passou pela mesma situação. “Que constrangedor. Anunciei meu serviço, mandei até meu cartão, aí ele perguntou se meu marido não se importava [de ele ser solteiro]. Eu falei que não, e aí ele disse que pagava mais R$ 170 [pelas roupas curtas]. Até pensei em xingar ele, mas eu estava em oração”, explica a mulher.
A diarista conta já ter recebido esse tipo de proposta anteriormente. Da primeira vez, ela, prontamente, respondeu que era casada. Mesmo assim, o assediador não desistiu e chegou a propor pagar ao marido de Girlane na intenção de “comprar” a aprovação dele. Dessa vez, além dos R$ 170 pelas roupas curtas, o suspeito disse que daria mais dinheiro “se gostasse”.
“Fiquei com vergonha de mim mesma, quando ele disse que se gostasse me dava mais dinheiro. Até o bloqueei. Meu marido me tirou de todos os grupos”, relembra Girlane.
Outra diarista que também diz ter sido alvo das investidas do assediador é Fernanda Alvez. Ela e uma colega, que preferiu não se identificar, disseram que o homem pediu “faxina e sexo”.
“Ele me mandou mensagem, falou quanto era a diária e perguntou se eu podia trabalhar de roupa curtas, que ele me pagava R$ 300”, contou. “Perguntou se eu fazia faxina e sexo”, completa a mulher.
Crime comum
Nenhuma das vítimas registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Todas disseram que, como não chegaram a ser fisicamente agredidas, não procuraram as autoridades. Segundo Aline Maia Rebouças, delegada da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), esse tipo assédio é bastante comum.
“Às vezes é mais sub-reptício, começa com um anúncio objetivo. Mas quando a funcionária vai na residência, ele dá em cima da pessoa, se porta de uma forma que constrange a funcionária”, contou a delegada. Em alguns casos, segundo a policial, o homem em questão anda sem roupas pela casa, toca na diarista, entre outros tipos de abuso.
Aline alerta sobre a importância de as diaristas registrarem ocorrência na delegacia, e que nem sempre é necessário o contato físico para que as autoridades tomem uma atitude. “Até conversas por telefone ou WhatsApp podem mostrar desvio”, afirma a delegada.
“Estamos todas apavoradas”, conta Franciane, a diarista que fez a primeira postagem sobre o caso. “A gente tem que encontrar uma maneira de se defender. Isso é um perigo. É muito importante a gente procurar ajuda, porque é muito sério”, ponderou a moça.
O Metrópoles tentou contato com o acusado de assediar as mulheres no grupo de diaristas. Um homem chegou a atender a ligação da reportagem, mas desligou o telefone em seguida. Depois, mesmo com diversas tentativas, a chamada passou a cair direto na caixa de mensagens. O espaço segue aberto para possíveis manifestações.
Denuncie
A Polícia Civil do DF disponibiliza diversos meios para recebimento de denúncias:
* Disque 197, opção 0 (zero);
* E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br;
* WhatsApp (61) 98626-1197.
Não é necessário se identificar.