Dia das Mães: mulheres trans relatam experiências da maternidade
Andressa passou pela transição quando o filho já tinha 4 anos. Nathalia vai comemorar o 1º Dia das Mães com o marido, que está grávido
atualizado
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Há vários tipos de mães, e isso é indiscutível. No dia delas, comemorado neste domingo (8/5), as famílias brasileiras se reúnem para celebrar as diferentes experiências com a maternidade. Apesar de distintas, todas vivem um sentimento em comum: o amor. Segundo a inspetora da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) Andressa Simões Costa Souto, 42 anos, esta é a única exigência quando se pensa em filhos.
Homem trans se casa com melhor amiga de adolescência após transição
Andressa reconheceu-se feminina desde cedo, mas só assumiu sua verdadeira identidade de gênero com o passar dos anos. O medo do preconceito e da falta de oportunidade no mercado de trabalho fez com que ela deixasse a transição para depois. Antes disso, casou-se e ganhou o que considera o melhor presente de sua vida, o nascimento do pequeno Davi.
“Na minha adolescência eu já sabia que era transexual, mas escolhi não sofrer. Almejava ter uma vida boa e sabia que se me assumisse seria mais difícil. Esperei conquistar espaço profissional e decidi me expressar depois de uma estabilidade emocional. Me divorciei e passei pelo processo de transição quando o Davi tinha 4 anos”, explica.
Casada há dois anos com a advogada Gláucia Garcia, 46, Andressa divide a guarda de Davi com a ex-esposa. Apesar de ter aprendido a chamá-la de mãe, vez ou outra a criança acaba deixando escapar um “papai”. A gafe, porém, não é motivo de estresse ou constrangimento para a moradora da Asa Sul, que se apega ao essencial na relação dos dois: o amor do filho por ela.
Veja fotos da família
Apesar de estar plenamente satisfeita com o que vê no espelho, Andressa passou por momentos delicados durante a infância e a adolescência. Ao Metrópoles ela revelou que chegou a apanhar do pai quando se vestiu de mulher pela primeira vez, aos 11 anos. Ainda hoje o medo se faz presente.
Ser transexual no Brasil é sobreviver dia após dia em meio à violência. O país é considerado o que mais mata pessoas trans em todo o mundo. Somente em 2021, foram registrados, pelo menos, 140 assassinatos por crime de ódio de gênero, de acordo com o Dossiê dos Assassinatos e da Violência, divulgado pela Associação Nacional de Travestis de Transexuais (Antra).
O Distrito Federal é a 18ª unidade da Federação onde mais se matou pessoas trans em 2021, com dois assassinatos. “Para o Davi, eu tento ensinar que as pessoas são diferentes, mas as diferenças têm de ser respeitadas, e precisamos fazer de tudo para ter uma boa convivência em sociedade. O restante é opção dele, e nós o apoiaremos em tudo”, enfatiza Andressa.
Para a ativista de direitos humanos Paula Benett, a maternidade trans é uma realidade como qualquer outra. Porém, destaca, faltam políticas públicas inclusivas que acolham e possam dar suporte a esta população desde o início do processo, ainda na gravidez. “É preciso proteger esses casais da violência a que são submetidos e conscientizar a sociedade da importância de respeitar esta existência. Lembrando que há várias configurações que envolvem pessoas trans e maternidade, podendo ser mãe ou pai”, explica.
Primeiro dia das mães
Diogo Luiz Guimarães, 28, sonha em ser pai desde criança. Agora, junto à esposa, Nathalia Vasconcellos, 31, vai poder realizar o grande sonho. O morador de Samambaia está grávido do primeiro filho do casal.
A gestação foi bem aceita pela família, e o casal trans diz estar ansioso pela chegada do pequeno Luiz Henrique. A previsão é que Diogo entre em trabalho de parto em julho.
“Estamos muito felizes e não temos receio do que as pessoas possam falar de nós. Por ser ativista e militante, empoderei muito meu marido, e nós aprendemos a lidar com muitas coisas”, explica a gestora de projetos sociais Nathalia Vasconcellos.
Ao Metrópoles a futura mamãe revela que o marido sofria quando era chamado no feminino, pelo fato de estar grávido. “A gente percebia que as pessoas ficavam confusas e acabavam o tratando como mulher. Era um desconforto para ele, mas teve de aprender a relevar. Precisamos viver, não dá para ficar preocupando com tudo o que as pessoas pensam ou falam. Nós criamos um escudo”, ressalta.
A maternidade é uma realidade que Nathalia não esperava viver. Apesar de ter se identificado com o gênero feminino desde criança, ser mãe ainda era algo distante para ela. Agora, a ansiedade para o primeiro Dia das Mães é grande. Juntos há 12 meses, os dois decidiram que irão conversar com o filho sobre transexualidade desde a infância.
“É o meu primeiro Dia das Mães. É uma expectativa que nunca senti antes. Ele vai crescer cercado por pessoas trans. Vai ser inserido nesse mundo. Criança não nasce preconceituosa, é muito mais fácil ensinar a aceitar e respeitar desde cedo. Vai ter pais trans, padrinhos trans, e tenho certeza de que será uma criança como qualquer outra, feliz e inteligente”, completa Nathalia.
Desde 2017, o médico sanitário Luiz Fernando Marques trabalha no Ambulatório Trans do DF, na 508/509 Sul. Segundo o profissional, as pessoas estão se identificando com as suas expressões de gênero cada vez mais cedo. “Mas isso não tem nada de novo. Sempre existiu. A diferença é que estamos vivendo em um momento histórico em que as pessoas trans estão tendo mais visibilidade, apesar de ainda faltar muito para sermos um lugar de igualdade e respeito”, comenta.
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