DF teve média de 2 casos de violência política por dia nas eleições
No mês das eleições, o DF registrou 86 crimes relacionados a violência política. Injúria e ameaça foram os mais frequentes
atualizado
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Em um mês, entre os dias 2 de outubro e 2 de novembro, o Distrito Federal registrou 86 crimes relacionados a violência política. O número representa uma média de, pelo menos, duas ocorrências por dia.
As informações são da Polícia Civil do DF (PCDF), obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A maioria das ocorrências registradas nas delegacias da capital federal, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, é de injúria, crime que consiste em atribuir palavras ou adjetivos ofensivos a alguém.
Confira o número de ocorrências em cada crime:
- Injúria: 25 ocorrências
- Crimes diversos: 19 ocorrências
- Ameaça: 18 ocorrências
- Em apuração: 7 ocorrências
- Lesão corporal dolosa: 5 ocorrências
- Contravenções: 5 ocorrências
- Eventos diversos: 3 ocorrências
- Dano: 2 ocorrências
- Roubos diversos: 1 ocorrência
- Desacato: 1 ocorrência
Polarização e brigas
Em 26 de outubro, por exemplo, uma confusão na Rodoviária foi protagonizada por bolsonaristas, petistas, um deputado distrital e a Polícia Militar. A briga teve troca de acusações sobre agressões e racismo.
Na ocasião, uma equipe da PMDF e uma mulher de 59 anos, cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL), foram até a 5ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) para denunciar pessoas que trabalhavam na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. Ela vende sombrinhas no local, e conta que teria sido constantemente hostilizada por uma petista. O caso acabou na delegacia.
Já no último dia 2, o locutor Alex Sandro Soares, mais conhecido como Alex Blau Blau, 45 anos, foi alvo de ofensas racistas próximo ao Quartel-General do Exército, onde manifestações bolsonaristas ocorrem desde 1º de novembro. O locutor da Rádio Metrópoles fotografava Brasília para um trabalho de fotojornalismo da faculdade, quando teria ouvido a seguinte frase: “Volta para casa, macaco, aqui você vai morrer”.
A vítima trajava uma camiseta vermelha com a logomarca do Metrópoles. Ele diz que uma horda de apoiadores do presidente da República se juntou ao redor dele e, enquanto três pessoas se aproximaram para tentar ajudá-lo a sair do local, criminosos passaram a agredi-lo verbal e fisicamente.
Pós-eleições
Marcela Machado, doutora em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), acredita que, agora que passou a eleição presidencial há quase um mês, a tendência é que haja o arrefecimento dos atos que negam o resultado das urnas.
“A gente teve um presidente derrotado, que não conseguiu reeleição, mas que, ao mesmo tempo, saiu muito bem sucedido de um primeiro turno, no que tange a fazer grande parte das pessoas que estavam ao redor dele ser eleita. Até o próprio partido dele fez uma grande maioria. Foram 99 candidatos do PL eleitos para a Câmara dos Deputados“, comenta a doutora.
“Aí, chega no segundo turno, e esse presidente que teve sucesso expressivo no Senado, nos governos estaduais e na Câmara não é eleito. Isso gerou um clima de insatisfação por parte de quem apoia Jair Bolsonaro (PL)“, completa Marcela.
Para a especialista, a insatisfação dos apoiadores de Bolsonaro após a derrota do atual presidente se traduz em violência política, em certos casos.
“Acho que a tendência daqui para frente é esse tipo de manifestação ir se arrefecendo. Isso não significa que esse cenário em que existem pessoas pró-Bolsonaro e pró-Lula vai diminuir, até porque a polarização é o que mantém esse jogo político vivo, e também soma-se à não manifestação do presidente da República, que foi derrotado. Porém, acredito que esse movimento da insatisfação permanece ainda, mas tende a se arrefecer”, avalia.
Marcela Machado pontua, ainda, que são naturais manifestações durante e após o período eleitoral; no entanto, diz que é preciso avaliar a legitimidade desses atos e se são democráticos.
“Temos que ver até que ponto as manifestações respeitam o direito do outro de se posicionar a favor ou contra um candidato. Violência política não é aceitável de maneira alguma. Isso não é legitimo, não é democrático e é algo que tem que ser duramente combatido”, conclui a doutora em ciência política.
Alta de violência política no país
No Brasil, o número de casos de violência política cresceu e é 400% maior do que o registrado em 2018. Os dados, analisados entre 2 de setembro de 2020 e 2 de outubro de 2022, fazem parte de um monitoramento das organizações da sociedade civil Justiça Global e Terra de Direitos.
Em pouco mais de dois anos, o Brasil registrou 523 casos de violência política, divididos entre assassinatos (54), atentados (109), ameaças (151), agressões (94), ofensas (104), criminalização (6) e invasões (5).