DF terá força-tarefa para orientar pais sobre depressão e suicídio
Saúde, Educação e Segurança vão dar dicas de como proceder ao notarem comportamentos diferentes das crianças e dos jovens
atualizado
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Em razão do aumento da procura por atendimento em unidades da Saúde e de queixas de pais e professores em escolas sobre o jogo on-line Baleia Azul, que desafia os jovens a se automutilarem e até cometerem suicídio, as autoridades do Distrito Federal decidiram agir. Docentes e familiares de alunos da rede pública de ensino vão receber orientação para reconhecer comportamentos emocionais diferentes em crianças e adolescentes.
O objetivo é fazer com que os profissionais de educação e os responsáveis saibam agir diante de problemas associados à depressão, que podem tornar os estudantes vulneráveis a crimes praticados por meio de redes sociais ou aplicativos de telefones celulares.
Dados obtidos com exclusividade pelo Metrópoles indicam que apenas nos primeiros 19 dias deste mês de abril, 13 pessoas cometeram suicídio na capital federal. Integrantes das secretarias de Saúde, de Educação e da Segurança Pública e da Paz Social se reuniram nesta segunda-feira (24/4) para formular a estratégia de ação. Cada uma das pastas, dentro das suas atribuições, trabalhará conteúdos relacionados ao tema.
Na Saúde, a ideia é desenvolver temáticas a fim de fortalecer emocionalmente esse público vulnerável. Na Segurança, os familiares e docentes serão orientados sobre os canais de denúncia caso o adolescente seja ameaçado ou forçado a praticar atos contra a sua integridade pela internet.
Caso de polícia
Na semana passada, o Metrópoles contou a história da mãe de uma adolescente de 15 anos, que registrou ocorrência na 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II). Segundo a mulher, a filha aderiu a um grupo no Facebook e iniciou os 50 desafios impostos pelo moderador do jogo. No entanto, a garota desistiu e recebeu ameaças.
De acordo com o boletim de ocorrência, a pessoa que mandava a jovem cumprir determinadas tarefas, como se mutilar, disse: “Você vai se arrepender e morrerá de qualquer jeito”. Preocupada, a mãe decidiu acionar a polícia.
Segundo os pais, a adolescente chegou a cumprir três tarefas, incluindo fazer cortes nas mãos, assistir a filmes e ouvir músicas indicadas pelo grupo. Porém, após esses atos, ela teria pedido para deixar a corrente. Em resposta, recebeu as ameaças.
O pai relata que a menina não exibia comportamento estranho e só ficou sabendo do caso quando uma amiga de sua filha avisou à direção do colégio em que ambas estudam . “A diretora nos chamou para explicar o que estava acontecendo e nos orientou a buscar a polícia por causa das ameaças”, contou.
O que mais assustou os pais foi que, no bojo das ameaças, foram descritos detalhes da rotina da filha. Eles acreditam que as informações foram obtidas por meio do próprio perfil da adolescente nas redes sociais.
A preocupação em relação ao jogo se espalhou pelo país depois que oito estados registraram casos de suicídio e mutilações. São eles: São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Paraíba, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Em um dos casos, o de Bauru (SP), um adolescente de 17 anos tentou se jogar do viaduto sobre a Rodovia Marechal Rondon depois de postar em sua página no Facebook a frase: “A culpa é da baleia”.
Como funciona
Em geral, adolescentes são chamados para grupos fechados no Facebook e no WhatsApp — ou contatados até mesmo pelo Instagram — para participar do jogo, que consiste em cumprir 50 tarefas preestabelecidas por curadores.
Esses curadores, na maioria das vezes, também são adolescentes com perfis falsos nas redes sociais. Os 50 desafios incluem cortar os braços com facas, assistir a filmes de terror na madrugada, pendurar-se em parapeitos de prédios e, na tarefa final, suicidar-se.
Dica de especialista
A psicóloga Stéphanie Sabarense, especializada em terapia cognitivo-comportamental e com experiência em depressão e suicídio de adolescentes, diz que não é possível apontar um único fator que explique a aderência cega desses jovens à tal “brincadeira”. Muito menos pode-se dizer que eles já possuíam tendências suicidas antes do encontro com o Baleia Azul.
“Não acho que seja a busca do suicídio propriamente dito”, sublinha. “Tem a ver com a procura por adrenalina, pelo proibido, que é própria do adolescente”, diz. Como a adolescência é uma fase de transição, todo o cuidado é pouco.
Se ela acontece de maneira tranquila – com o adolescente andando em grupinhos e não mais com a família, querendo se encontrar –, normal. Quando ele não se encaixa em grupo nenhum, começa a procurar essas coisas para sentir que faz parte de algo.
Stéphanie Sabarense, psicóloga
Por fim, a especialista reforça que os pais devem ter sempre controle do que crianças e adolescentes fazem na internet, além de atenção total à rotina do filho — se ele tem chegado em horários distintos ou andado com grupos diferentes, por exemplo. (Com informações da Agência Brasília)