DF tem mais pacientes na fila por UTI com hemodiálise que vagas
Nefrologistas pedem que governos garantam tratamentos dialíticos durante a pandemia de coronavírus
atualizado
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O aumento nas internações de pacientes com Covid-19 nos últimos dias fez com que a procura por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com hemodiálise também crescesse no Distrito Federal. Dados da Sociedade Brasiliense de Nefrologia (SBN) mostram que a capital não está conseguindo acompanhar a demanda dos pacientes que precisam desse tipo de tratamento.
O DF tem atualmente 172 leitos com suporte de hemodiálise para adultos que contraíram a Covid-19. Segundo a SBN, na noite de quarta-feira (3/3), 21 pessoas que estavam na lista de espera por uma UTI no DF precisavam de um leito com suporte de hemodiálise. A informação teria sido passada à entidade pela Central de Regulação da Secretaria da Saúde.
Na mesma hora, contudo, o painel dos leitos de UTI da Sala de Situação da Secretaria de Saúde (SES) apontava que restavam 20 leitos desse tipo vagos. Às 21h10 desta quinta-feira (4/3), o número de vagas de UTI para suporte com hemodiálise desceu para sete.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), a “hemodiálise é o procedimento através do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim doente não pode fazer”. O procedimento retira do corpo os resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos.
Dentre os pacientes mais graves com coronavírus, que já estão internados, de 20% a 30% precisam de suporte dialítico. Os dados são da Sociedade Americana de Nefrologia (ASN, na sigla em inglês), que recomenda ainda aos hospitais aumentarem a capacidade para atender os pacientes que apresentam falha nos rins.
“Pedimos que as agências governamentais que supervisionam os centros de diálise no mundo em desenvolvimento assegurem o apoio aos nefrologistas e a outros profissionais de saúde que fornecem tratamentos de diálise que salvam vidas a esses doentes vulneráveis”, afirma a entidade.
Preocupação nacional
Boletim publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) nessa terça-feira (3/3), de forma extraordinária, revela que 18 estados, além do Distrito Federal, estão com a ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinados a pacientes com Covid-19 acima de 80%.
Em comparação com o último boletim, publicado há uma semana – em 22 de fevereiro – pelo Observatório Covid-19, da Fiocruz, seis estados passaram a fazer parte dessa faixa crítica da ocupação de leitos. São eles: Pará, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhã e Piauí. Pela primeira vez desde o início da pandemia, segundo a Fiocruz, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores.
“A questão de sobrecarga nos sistemas de saúde é uma preocupação desde o início da pandemia e agora, principalmente, deve-se olhar para esses indicadores como um alerta real. Os dados são muito preocupantes, mas cabe sublinhar que são somente a ‘ponta do iceberg’”, avalia a Fiocruz.
“Por trás deles estão dificuldades de resposta de outros níveis do sistema de saúde à pandemia, mortes de pacientes por falta de acesso a cuidados de alta complexidade requeridos, a redução de atendimentos hospitalares por outras demandas, possível perda de qualidade na assistência e uma carga imensa sobre os profissionais de saúde”, prossegue.
Na noite dessa quinta-feira (4/3), três hospitais públicos do Distrito Federal atingiram 100% dos leitos de UTI para pacientes com Covid-19 ocupados: Hospital de Base e os regionais de Ceilândia e da Asa Norte. Outros cinco contratados pelo Governo do Distrito Federal e mais nove particulares também já estão lotados.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde afirma que vem trabalhando na mobilização de leitos desde dezembro, de acordo com a disponibilidade de cada hospital em liberar leitos que antes estavam sendo ocupados por pacientes não Covid-19.
Diz ainda que a pasta vem ampliando a oferta de leitos de UTI gradativamente e com base na capacidade dos hospitais da Rede de Saúde e continuará neste trabalho para, cada vez mais, ampliar a oferta desse serviço à população necessitada.