DF tem a maior fila proporcional do programa Bolsa Família
No Distrito Federal são 66,9 mil beneficiários e 17,9 mil pessoas na fila de espera
atualizado
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A fila de 1,6 milhão de brasileiros à espera para ganhar o benefício do Bolsa Família não está distribuída igualmente pelo país. Em São Paulo, 280,5 mil pessoas estão habilitadas a receber dinheiro pelo programa, mas a contribuição não está sendo paga por falta de recursos. Já em Rondônia, são 7,3 mil.
É natural, entretanto, que os lugares com maior população tenham extensa lista de espera. Para avaliar a situação proporcionalmente, é necessário comparar o número de brasileiros que aguardam entrar no programa com a quantidade de beneficiários no local.
Nesse critério, o DF é o campeão – com fila de 26,8% do total de pessoas inscritas no programa na unidade da Federação. São 66,9 mil brasilienses recebendo o benefício e 17,9 mil aguardando a ajuda financeira.
Completando o pódio, estão Roraima, com fila de 20,4%, e São Paulo, com lista de espera de 20,2%. Na outra ponta, Maranhão (6,9%), Paraíba (7,6%) e Piauí (8%). Os dois gráficos a seguir mostram a diferença entre o ranking absoluto e o ranking relativo:
Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Aninho Irachande, a fila com essa quantidade de pessoas é uma decisão política. “Não é escassez de recurso, é o plano do governo brasileiro para reduzir o apoio aos programas sociais e, em especial, às camadas mais pobres”, assinalou.
O governo publicou no fim de março a Medida Provisória nº 929, que abriu crédito extraordinário de R$ 3 bilhões para tentar salvar o país da crise do novo coronavírus. Esse dinheiro vai acrescentar cerca de 1,2 milhão de pessoas ao programa, mas isso não será suficiente para zerar a fila. Quando o presidente Jair Bolsonaro assumiu o comando da República, em janeiro de 2019, não havia ninguém esperando para receber o benefício.
A entrada de pessoas no programa aquecerá o consumo no território nacional. “Cada real do Bolsa Família tem efeito multiplicador de 1,6 na economia. Além de ser um investimento social, o dinheiro do benefício ajuda nos índices do país. É uma forma barata e fácil de dinamizar a economia. Mas ao deixar os brasileiros esperando, o governo infelizmente abre mão disso”, apontou Irachande.
“O apoio exclusivo aos empresários tem pouco efeito no aquecimento econômico, porque na ponta não tem quem consuma. O Bolsa Família aquece a demanda”, prosseguiu.
Como exemplo, o cientista político apontou estados que tem bolsões de pobreza. “Neles, os beneficiários compram produtos de primeira necessidade, como comida e higiene. Isso é ofertado nos municípios por pequenos empresários. Se você tira a renda do trabalhador no ciclo de produção, essa roda não gira. O efeito multiplicador é um aspecto por si só já incentivador para política de estímulo, e não o contrário”, concluiu.
Desde 2015 não era tão grande
A fila do programa Bolsa Família atingiu o quarto maior valor da série histórica dos últimos seis anos. Em fevereiro de 2020, semanas antes de a pandemia do novo coronavírus chegar ao país, 1,6 milhão de pessoas estavam habilitadas para receber o benefício, mas esperavam a aprovação do governo federal. As informações foram obtidas pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
A lista de espera só foi maior em um outro momento da série histórica (janeiro de 2014 e fevereiro de 2020): durante a crise em 2015, que culminaria com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Em maio daquele ano, a fila atingiu seu pico de 1,9 milhão de pessoas.