metropoles.com

Mais de 70 mil têm deficiência e sofrem com acessibilidade no DF

No Distrito Federal, 2,4% da população tem algum tipo de deficiência. Problemas de infraestrutura e acessibilidade dificultam dia a dia

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Minerva Studio/istock
cadeiranteacessibilidade
1 de 1 cadeiranteacessibilidade - Foto: Minerva Studio/istock

O Distrito Federal tem 70.556 habitantes com alguma dificuldade de locomoção. O número corresponde a 2,4% da população da capital do país, segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). O estudante Jean Mendonça dos Santos, 24 anos, é um deles. Cadeirante, o morador de Ceilândia divide a rotina entre consultas, passeios no parque, curso de computação gráfica e uma das maiores paixões dele: acompanhar jogos do Flamengo.

Porém, para realizar as atividades, ele precisa fazer adaptações, devido às dificuldades motoras. Jean tem uma malformação conhecida como mielomeningocele — que provoca espinha bífida — e perdeu os movimentos da perna quando criança. Agora, luta por mais acessibilidade nos transportes públicos da cidade.

“O nome da síndrome é tão difícil que eu não consigo nem falar, só sei que tenho. O importante é que levo minha vida como uma pessoa normal e passo por cima de todas as minhas barreiras. Não vejo nada como problema e tento achar solução para tudo”, comentou Jean.

A condição é apenas uma das características de Jean, que preza pela independência e tenta fazer a maior parte das atividades diárias sozinho. Ele usa transporte por aplicativo para ir ao hospital e, depois das consultas, sempre passeia pelo Parque da Cidade para tomar água de coco.

Veja fotos de Jean 

6 imagens
Ele gosta de fazer passeios com a família
Jean costuma assistir aos jogos do Flamengo no Mané Garrincha
Estudante considera estádio exemplo de acessibilidade para pessoas com deficiência
Jean e o amigo acompanham jogos do time do coração
Ativista fez palestras sobre acessibilidade no transporte público para a empresa São José
1 de 6

Jean tem 24 anos

Reprodução
2 de 6

Ele gosta de fazer passeios com a família

Reprodução
3 de 6

Jean costuma assistir aos jogos do Flamengo no Mané Garrincha

Reprodução
4 de 6

Estudante considera estádio exemplo de acessibilidade para pessoas com deficiência

Reprodução
5 de 6

Jean e o amigo acompanham jogos do time do coração

Reprodução
6 de 6

Ativista fez palestras sobre acessibilidade no transporte público para a empresa São José

Reprodução

O dia mais esperado é quando há jogo do Flamengo na cidade. “É minha paixão. Um momento muito bom e em que me sinto muito confortável, pois tem muita acessibilidade no estádio (Mané Garrincha). Para mim, o local é um exemplo de inclusão para pessoas com deficiência”, ressalta.

Ativista pela acessibilidade arquitetônica e urbanística na cidade, o flamenguista preparou um treinamento para motoristas e cobradores da empresa de ônibus São José, em agosto.

“Foi uma oportunidade muito boa de contar da minha história e de passar algumas das nossas dificuldades para aqueles que trabalham com o transporte. Não é fácil ter deficiência e precisar andar de ônibus; então, foi muito bom poder mostrar o que passamos no dia a dia. As calçadas não têm rampa de acesso, as ruas são muito esburacadas, e a locomoção para cadeirantes está muito precária”, elencou.

Locomoção comprometida

Cerca de 13% da população (393.462) do Distrito Federal têm dificuldade de enxergar e precisa de adaptações para conseguir se locomover pela cidade. Sinara Zardo, diretora de acessibilidade na Universidade de Brasília (UnB), considera que o DF tem avançado em se tratando de legislação para pessoas com deficiência, mas ainda peca na garantia da aplicação desses direitos por meio da arquitetura da cidade.

“É uma responsabilidade dos gestores públicos a diminuição de barreiras para os PCDs (pessoas com deficiência). Melhorar calçadas, vias de acesso, transporte, prédios públicos e privados. Precisamos trabalhar na mudança de cultura e postura nas questões de acessibilidade, porque é um direito da pessoa com deficiência, mas são mudanças que beneficiam todo mundo”, completa a especialista.

Quem sentiu na pele essas dificuldades foi a servidora pública Roberta Dias de Sousa, 45 anos. Com o joelho esquerdo operado e precisando de muletas, ela passou perrengues nas ruas do DF.

“O que me incomodou muito foi ver que, até perto dos hospitais, as calçadas estão quebradas e com postes no meio do trajeto. É revoltante ver que a acessibilidade ali, um lugar aonde precisamos ir, é tão precária. E a situação é a mesma em vários outros lugares”, comentou Roberta.

Moradora de Vicente Pires, Roberta gravou um vídeo para mostrar a situação das calçadas em Taguatinga. Ela relata que pedestres têm de passar por cima dos canteiros, pois os carros estacionam em local indevido. Além disso, para quem é cadeirante ou precisa de muletas, a locomoção é ainda mais complicada.

Veja vídeo

“Ninguém pensa na gente”

Maria Clara de Santana, 13 anos, também sofre com a falta de acessibilidade no DF. Moradora da Asa Sul, ela mede 86 centímetros, devido ao nanismo, causado por uma síndrome conhecida como displasia do tipo McKusick.
Na casa da adolescente, a disposição dos móveis e eletrodomésticos é pensada para atender às necessidades dela, mas as ruas nem sempre têm os ambientes mais favoráveis para pessoas de menor estatura.

“Não há vasos sanitários ou pias adaptadas, e os balcões de atendimento são sempre muito altos. Sinto falta de prateleiras mais baixas nos locais, cadeiras baixas nas praças de alimentação de shoppings, nos aeroportos e nos cinemas. Os botões dos elevadores também são muito altos, às vezes”, critica Maria Clara.

5 imagens
Adolescente mora com os pais
Ela enfrenta dificuldades com a falta de acessibilidade no DF
Maria Clara mede 86 centímetros
A jovem tenta ser mais independente
1 de 5

Moradora de Asa Sul tem 13 anos

Reprodução
2 de 5

Adolescente mora com os pais

Reprodução
3 de 5

Ela enfrenta dificuldades com a falta de acessibilidade no DF

Reprodução
4 de 5

Maria Clara mede 86 centímetros

Reprodução
5 de 5

A jovem tenta ser mais independente

Reprodução

No Brasil, síndromes que causam essa condição afetam, em média, uma em cada 25 mil pessoas, segundo a Associação Nacional de Pessoas com Nanismo. Mãe de Maria Clara, Claudiene Rosa de Santana, 32 anos, conta que incentiva a filha a ser independente e a fazer algumas atividades sozinha, mas sente medo pelas questões da acessibilidade e do preconceito.

“É uma luta e uma superação dos nossos próprios medos para incentivá-la e dar autonomia a ela. É complicado, porque, se deixo-a no shopping sozinha, ela não consegue subir no vaso sanitário. Então, ela tem de ir com alguém que possa dar esse suporte. Não estamos muito preparados para isso, porque o mundo lá fora não está”, lamenta Claudiene.

Apesar disso, a adolescente frequenta escola, faz dança, teatro e grava vídeos para o YouTube. “As pessoas não pensam na gente em quase nada. São superações diárias de mobilidade. Não me lembro de nenhum lugar pensado para pessoas com nanismo. Exclusão, a gente sofre sempre, mas meus pais sempre me ensinam a ter a vida de uma adolescente da minha idade.”

Transporte para PCDs

Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria da Pessoa com Deficiência afirmou que o Executivo local tem “avançado e implementado mais acessibilidade” nas vias públicas da cidade.

O secretário Flávio Santos destaca que o processo de inclusão é “evolutivo e constante”; por isso, ainda “há muito” para fazer na capital federal. “As formas de resolver são estabelecendo políticas públicas coerentes e desenvolvendo ações que possam garantir a essas pessoas mais qualidade de vida. Estamos minimizando essa problemática da mobilidade com programas como o DF Acessível”, destacou.

O DF Acessível teve início em fevereiro e promove o transporte de pessoas com deficiência no trajeto de casa até um destino escolhido e vice-versa. Os interessados devem se cadastrar pelo site do programa.

Os veículos têm rampa para acesso de cadeiras de rodas, ar-condicionado, dois boxes para cadeirantes e cinco assentos. A proposta, segundo a empresa de transportes coletivos TCB, é atender 250 pessoas por dia.

Como se inscrever para o serviço?

O serviço não atende a todas pessoas com deficiência. É necessário atender a alguns critérios:

  • Ser morador do Distrito Federal;
  • Ter deficiência e severa redução de mobilidade, temporária ou permanente, que impossibilite a pessoa de usar, com conforto e segurança, os meios convencionais de transporte;
  • Ter renda familiar per capita inferior a dois salários-mínimos (R$ 2.424).

Violação de direitos

O Disque 100 é uma das principais ferramentas para denunciar situações de violação aos direitos das pessoas com deficiência. O serviço é gratuito, coordenado e operacionalizado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?