DF tem 427 pacientes na luta contra a hanseníase. Saiba onde tratar
A campanha nacional Janeiro Roxo orienta a população sobre a importância do diagnóstico e do tratamento precoce da hanseníase
atualizado
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A campanha nacional Janeiro Roxo orienta a população sobre a importância do diagnóstico e do tratamento precoce da hanseníase. Cercada por mitos e preconceitos, a doença, antigamente conhecida como lepra, tem cura, mas pode causar incapacidades físicas se a identificação dela for tardia ou o tratamento for inadequado.
No Distrito Federal, atualmente, existem 427 pacientes em tratamento. Em 2020, houve 219 casos novos da doença identificados na capital. Já em 2021, o número de casos novos foi 125, reflexo do cenário da pandemia de Covid-19, que comprometeu a quantidade de diagnósticos. Os dados são do Ministério da Saúde.
De acordo com a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), em 2020, 16 pessoas foram internadas na rede de saúde local com hanseníase. Em 2021, foram 21 internações. Ainda não há dados disponíveis do ano de 2022.
A SES-DF ressalta que oferece tratamento e medicamentos na rede pública a pacientes com hanseníase. A pessoa deve procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência para acesso ao tratamento e orientações.
Preconceito em torno da doença
Uma das moradoras do DF que recebeu o diagnóstico de hanseníase em 2021 foi Ana Emília Souto de Oliveira, de 53 anos. Ela, que vive em área rural de Planaltina, soube que tinha a doença em julho do ano passado, após apresentar sintomas como manchas na pele e febre.
“Eu fiquei toda empolada, cheia de manchas, e procurei o hospital de Planaltina de Goiás. De lá, fui encaminhada para o hospital de Planaltina-DF. Uma dermatologista me passou uma pomada e eu vim para casa, mas fiquei ainda pior, senti que estava queimando minha pele”, conta.
Ana Emília, então, voltou à unidade de saúde, onde chegou a ficar internada, com febre, bolhas no corpo e pés inchados. “Fiz teste de Covid e não era. Fiquei lá tomando remédios e depois fiz o teste para hanseníase, que deu positivo”, relata.
Ela conta que logo após receber o diagnóstico iniciou tratamento no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Também levei meu filho e meu esposo para serem examinados lá e, graças a Deus, eles não contraíram a doença.”
Ana trabalhava como diarista antes de manifestar os sintomas. Agora, está afastada do trabalho.
De acordo com o Ministério da Saúde, a hanseníase apresenta longo período de incubação, ou seja, o tempo em que os sinais e sintomas se manifestam desde a infecção. “A médica não sabe desde quando eu tenho. No decorrer do tratamento, as manchas devem ir reduzindo, mas ainda tenho na pele”, comenta.
Para Ana, é importante desmistificar a questão da transmissão da doença. “Já fui em locais que falei que tenho hanseníase e as pessoas começaram a passar álcool em tudo, sendo que eu não transmito, pois faço tratamento. Uma assistente social uma vez disse que eu não devia nem estar saindo de casa, e não é assim. Existe um preconceito”, lamenta a moradora de Planaltina.
Como é transmitida?
A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen. A transmissão da hanseníase acontece por tosse ou espirro de uma pessoa doente, que esteja sem tratamento, para outra – após “contato prolongado e contínuo”, segundo o Ministério da Saúde.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia no Distrito Federal (SBD-DF), umas das organizadoras da campanha Janeiro Roxo, muitos desconhecem que é possível a cura e que existe tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Conforme a entidade, são detectados, a cada ano, cerca de 30 mil casos novos no país. “Na grande maioria, a pessoa mora com o contatante de hanseníase, mas é uma transmissão muito demorada, não é tão fácil como a transmissão de Covid-19”, reforça o dermatologista da SBD-DF Ciro Martins Gomes.
O Centro-Oeste responde pela segunda região com maior percentual de casos (20%), ficando atrás apenas do Nordeste (43%). Na sequência vem o Norte (19%, o Sudeste (15%) e o Sul (4%).
Quais os sintomas?
Manchas brancas, marrons ou avermelhadas; caroços; feridas; ressecamento e hipersensibilidade da pele são alguns dos indicativos de hanseníase. Os principais sintomas são:
- Manchas (esbranquiçadas, amarronzadas e avermelhadas) na pele com mudanças na sensibilidade dolorosa, térmica e tátil
- Sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo dos nervos dos membros
- Perda de pelos em algumas áreas e redução da transpiração
- Inchaço e dor nas mãos, pés e articulações
- Dor e espessamento nos nervos periféricos
- Redução da força muscular, sobretudo nas mãos e pés
- Caroços no corpo
- Pele seca
- Olhos ressecados
- Feridas, sangramento e ressecamento no nariz
- Febre e mal-estar geral
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da hanseníase é realizado por meio do exame físico geral e dermatoneurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.
A identificação precoce, o tratamento oportuno e a investigação de contatos que convivem ou conviveram, residem ou residiram, de forma prolongada com caso novo diagnosticado de hanseníase são as principais formas de prevenção.
A SBD enfatiza que, em caso positivo para hanseníase, é importante que o paciente oriente as pessoas com as quais mantém contato próximo e regular (familiares, amigos, colegas de trabalho) a também irem ao médico para serem examinadas.
Tratamento pelo SUS
Quem tem diagnóstico de hanseníase deve começar a tomar os medicamentos prescritos imediatamente. Ao fazer isso, o paciente deixa de ser transmissor da doença.
“A doença endêmica afeta países em desenvolvimento como o Brasil. Mas felizmente dispomos de tratamento gratuito no SUS que leva à cura. Após a primeira dose de medicação, o paciente não transmite mais. Quanto mais precoce o diagnóstico e o início do tratamento, melhor o resultado para evitar sequelas”, informa o dermatologista Ciro Martins Gomes.