DF: Saúde testará vermífugo no tratamento de pacientes com Covid-19
Pesquisadora solicitou apoio da Secretaria de Saúde para usar nitazoxanida. A princípio, o fármaco será experimentado em até 500 pessoas
atualizado
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A Secretaria de Saúde decidiu aderir à pesquisa sobre eficácia do vermífugo nitazoxanida no tratamento do novo coronavírus e testará o fármaco em até 500 pacientes infectados pela doença. A aprovação foi concedida recentemente e a ideia, segundo a pasta, é iniciar a testagem em 10 unidades básicas de saúde (UBS) – mas esse número pode chegar a 30, a depender da evolução dos estudos.
Responsável pelo ensaio clínico, a médica Patrícia Rocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), solicitou ao secretário de Saúde do estado, Francisco Araújo, autorização para realizar testagem com o fármaco nas unidades básicas de saúde da rede pública local. O pedido foi reforçado pelo secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégica do Ministério da Ciência e Tecnologia, Marcelo Marques Morales. A pasta tem financiado o ensaio médico promovido pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (Cnpem).
A ideia é observar a prescrição do medicamento em pessoas no estágio inicial da doença. “Um segundo estudo com a nitazoxanida, aprovado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa irá analisar os efeitos da nitazoxanida em terapia precoce de pacientes que apresentem pelo menos dois dos sintomas mais comuns de Covid-19 (febre e/ou tosse seca e/ou fadiga), até o terceiro dia do início da apresentação dos sintomas”, explicou a médica no ofício encaminhado ao gestor.
De acordo com a Secretaria de Saúde, os pacientes testados “terão acesso à medicação e a placebo, além da realização do teste swab no dia zero e no dia sete,” após a confirmação do diagnóstico positivo para Sars-CoV-2. O método já vinha sido usado em 17 unidades federais, como o Hospital das Forças Armadas (HFA). Além das contraindicações, não há evidências sobre efeitos colaterais causados pela medicação.
“Fármaco promissor”
No documento, a especialista explica que a nitazoxanida é um fármaco promissor, pois apresenta biodisponibilidade por via oral, assim como extenso uso comercial, envolvendo milhões de pacientes adultos e crianças em todo o mundo. “Sob minha coordenação técnica, estamos executando ensaio clínico para verificar se o uso de nitazoxanida reduz os sintomas, taxa de intimação nas UTI e mortalidade em pacientes com pneumonia induzida pelo SARS-CoV2”, continuou a médica e pesquisadora.
A nitazoxanida entrou no radar da população brasileira após o titular do Ministério da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, anunciar ter encontrado um medicamento já comercializado que apresentou 94% de eficácia em ensaios de laboratório contra o Sars-CoV-2. O remédio é utilizado para infecções do aparelho gastrointestinal provocadas por vírus, como o rotavírus, ou bactérias, como a ameba. O medicamento, em seu uso correto, tem contraindicações para pessoas com problemas no fígado ou nos rins.
No caso de confirmada a autorização local, esta será a terceira etapa de testes em humanos. Na primeira fase, 500 pacientes se revezaram entre os que receberam o composto e os que ingeriram placebo (substância sem efeito algum). Na segunda, realizada em unidades hospitalares comandados pela União, mais 500 doentes com quadro clínico clínico considerado avançado foram orientados a fazer uso da substância.
A diferença entre as fases está na gravidade dos sintomas dos pacientes. Inicialmente, apenas pessoas com indícios mais evidentes, como febre alta e tosse, participaram do estudo. Na pesquisa mais recente, infectados com sintomas leves e mesmo assintomáticos poderão ser testados, já que não há contraindicações severas para pessoas com Covid-19, especialmente as que acumulam comorbidades.
Investidas
A comunidade científica está em uma corrida frenética para encontrar tratamentos e vacinas. Quando aparece uma nova doença, é comum que os estudos comecem por medicamentos que já existem no mercado, testando por “aproximação” a efetividade deles para o problema a ser enfrentado.
Cientistas brasileiros já testaram dois mil medicamentos com o objetivo de identificar fármacos capazes de inibir proteínas fundamentais para a replicação viral em casos de Sars-CoV-2. Pesquisadores encontraram seis moléculas eficazes, que seguiram para testes in vitro. Nessas testagens, dois dos compostos reduziram a replicação viral em células.
Em maio, o ministro Marcos Pontes já havia antecipado a intenção de usar o medicamento em até 500 pacientes, alguns deles internados no HFA, que é de responsabilidade da União. Na oportunidade, o ex-astronauta também informou ter interesse na testagem no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade de referência no tratamento da doença, mas necessitaria de autorização do Governo do Distrito Federal (GDF).
Estudos
Desde que a pandemia alcançou o Brasil, 76 estudos sobre o coronavírus foram aprovados na Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde, ligada ao Ministério da Saúde. Desses, 21 são protocolos de tratamento que envolvem ensaios clínicos.
Em pesquisa realizada na China, a nitazoxanida foi reprovada em uma fase anterior ao uso em humanos, na bancada do laboratório mesmo, pois a quantidade necessária da substância para matar o novo coronavírus se mostrou tóxica para o desenvolvimento de um fármaco.
Um estudo encomendado pela Associação Médica Americana (AMA) avaliou 109 artigos científicos sobre tratamentos clínicos – testes com medicamentos em pacientes – relacionados ao novo coronavírus. O resultado, entretanto, foi decepcionante. De acordo com a revisão, nenhum dos artigos conseguiu comprovar a eficácia dos tratamentos que vêm sendo aplicados.