DF registrou 34 mortes e 8.946 acidentes no trabalho em apenas 1 ano
Vigilante Marcelo Mendes, 50 anos, foi atropelado por um trem do Metrô durante expediente e ficou com sequelas sem conseguir trabalhar
atualizado
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A morte de uma operária em meio a construção no Sol Nascente chamou a atenção para uma realidade cruel. Todos os dias no Distrito Federal ao menos 20 trabalhadores sofrem algum acidente durante o serviço. Os números representam uma média superior a 8 mil casos por ano.
Os dados são do Ministério da Previdência Social em um recorte de 2019 a 2022 – o órgão ainda não tem as informações do ano passado. De acordo com os casos, cerca de duas pessoas morrem por mês e 211 ficam incapacitadas permanentemente. Apenas em 2022, o DF registrou 34 mortes e 8.946 acidentes no trabalho.
O vigilante Marcelo Mendes, 50 anos, jamais vai esquecer da noite em que foi atropelado por um trem da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) durante o expediente. Ele atravessava de um lado para o outro do trilho para ajudar um amigo, quando um vagão com farol apagado atingiu o trabalhador.
O homem ficou 17 dias em coma no Hospital de Base do DF (HBDF), outros 30 internado e 80 dias aguardando por uma cirurgia, que até hoje não ocorreu. Os ossos quebrados tiveram uma calcificação irregular e, atualmente, Marcelo Mendes tem dificuldade em andar.
“De metrô eu não ando mais, não consigo. Fiquei traumatizado mesmo”, disse Marcelo. Ele contou que uma vez tentou, mas, ao entrar na estação, ficou assustado. “Só de ouvir o barulho eu não consegui ficar lá”, disse.
Além da dificuldade de se movimentar, Marcelo também sentiu o impacto financeiro após o acidente, já que era o provedor da família. Ele recebia R$ 3,5 mil, mas desde o acidente a renda caiu drasticamente. “Hoje recebo R$ 1,5 mil pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], para fazer uma feira é R$ 600, ainda tem gasolina.”
Marcelo abriu um processo contra a empresa, que tramita em segredo de justiça.
Morte de operária
Sônia Cristina de Moraes, 57 anos, era auxiliar de limpeza e caiu do segundo andar do edifício, uma altura em média de seis metros, de uma obra no Sol Nascente caiu de um dos pavimentos da construção e morreu na terça-feira (23/1).
As obras em andamento fazem parte de uma das etapas do Residencial Horizonte, um empreendimento com 70 apartamentos de moradia popular e três lojas, na Quadra 105 do Sol Nascente.
De acordo com o filho de Sônia, o contador Wesley Cristiano, 36, a mãe ainda respirava no momento em que o socorro chegou, segundo testemunhas. “Por causa da altura, acho que a queda, que foi muito alta, pode ter gerado alguma hemorragia interna”, disse o contador.
A construção, ao custo de R$ 10,6 milhões, é erguida pela empresa privada Unik Engenharia e Incorporações LTDA., responsável pelas obras do residencial lançado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab), no âmbito do programa Morar Bem, do Governo do Distrito Federal (GDF).
Morte em montagem de estrutura
Em 31 de agosto de 2023, Genes Gomes Coelho, 39 anos, morreu após parte da estrutura da montagem do desfile de 7 de Setembro desabar e cair de uma altura de 13 metros.
Outros três trabalhadores que prestavam serviço para a empresa Palco Locação se feriram no acidente e estão internados no Hospital de Base do DF (HBDF). São eles: Jassé Dionísio de Sousa, 37 anos; Jardelmo Nunes da Silva, 35; e Maxwell Meira da Silva, 30.
A morte de Genes foi lamentada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República. “A Secom manifesta sentimentos de solidariedade aos trabalhadores e suas famílias. E fica à disposição para auxiliar no que for necessário”.
Morte de Covid-19
Em 2021, Admilson Santos morreu sem conhecer o filho. Ele era cobrador de ônibus e foi contaminado pela Covid-19. Após 15 dias internado, o homem veio a óbito. A esposa, Daniela Fernandes Soares, ficou grávida e sem renda. Em 2023, a empresa Auto Viação Marechal Ltda. foi condenada a pagar indenização por danos morais – arbitrada em R$ 200 mil – e danos materiais, na forma de pensão vitalícia, pelo óbito do trabalhador.
A família processou a companhia de ônibus sob a alegação de que ele teria contraído Covid por “ter ficado exposto à livre circulação do vírus dentro dos veículos público lotados”, que não cessaram a prestação de serviços durante o ápice da pandemia.
Dados
O Ministério da da Previdência Social não tem os dados dos trabalhadores de 2023, mas os números apresentados mostram números aproximados durante os anos. Em 2019, foram 8.836 acidentes de trabalho. Em 2020, no auge da pandemia, o número caiu para 5.974, já em 2021, foram 8.098 registros e no ano passado 9.152 ocorrências. Desse total, foram 22 mortes em 2019, 30 em 2020, 44 em 2021 e 34 em 2022.
Os dados são referentes a concessões de auxílio-doença pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas, do Ministério da Previdência Social. Esse auxílio é dado apenas a trabalhadores que contribuem à Previdência, sendo descontado na folha de pagamento de pessoas com carteira assinada ou pago diretamente, como é obrigatório para o microempreendedor individual (MEI).
O auxílio-doença é o benefício pago, mensalmente, para o trabalhador ficar incapacitado para o trabalho, por mais de 15 dias, por motivo de doença ou acidente.