DF: peritos buscam material genético de vítimas em carro de maníaco
Blazer prata usada em pelo menos três casos por Marinésio Olinto passou por perícia. Homem é assassino confesso de duas mulheres
atualizado
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A Blazer prata, placa JFZ 3420-DF, do cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, pode ajudar a solucionar os crimes dos quais ele é acusado. O carro foi apreendido e passou por análise dos peritos. Eles buscam principalmente material genético das vítimas. O Metrópoles flagrou o momento em que o veículo chegou, nessa terça-feira (27/08/2019), à 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina). Nesta quarta-feira (28/08/2019), continua estacionado na DP. Dentro estão algumas contas, uma redinha de cabelo, óleo de motor, uma caixa grande no banco de trás, envelopes e propagandas.
A perícia foi feita no fim de semana, segundo fontes policiais. Fios de cabelos, sangue, entre outros materiais genéticos, caso sejam identificados pelos peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, podem ser confrontados com o DNA das vítimas. Marinésio é assassino confesso da advogada e funcionária do Ministério da Educação (MEC) Letícia Sousa Curado, 26, e da auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47.
O carro, que está no nome do cozinheiro, foi usado nos dois crimes pelo homem, considerado pelos investigadores como um maníaco. Ele morava no Vale do Amanhecer, é casado há 19 anos e tem uma filha de 16. No trabalho, um supermercado da Asa Norte, o homem omitiu que tinha veículo. Inclusive recebia vale-transporte.
Se passando por motorista de transporte pirata, Marinésio abordava as vítimas em paradas de ônibus ou rodoviárias. Na última sexta-feira (23/08/2019), parou em um ponto perto da casa de Letícia, no Arapoanga, Planaltina. A jovem pretendia chegar até a Esplanada dos Ministérios, onde trabalhava, e entrou no veículo. Não sabia que estava diante de um maníaco.
No caminho, o homem a assediou. Letícia começou a gritar e foi esganada por Marinésio. O corpo dela foi jogado em uma manilha às margens da DF-250. O próprio assassino levou a polícia ao local, no começo da tarde de segunda-feira (26/08/2019). Sob muita emoção, o corpo da jovem foi enterrado no início da tarde dessa terça (27/08/2019) no Cemitério da Planaltina.
Muitas vítimas reconheceram o maníaco após a divulgação de imagem dele na imprensa e, pelo modus operandi do homicida, a Polícia Civil decidiu reabrir inquéritos de três casos, referentes ao período de 2014 e 2015, dadas as semelhanças das circunstâncias das mortes que ele confessou.
Marinésio pode ser o responsável por ao menos 12 ataques a mulheres, incluindo Genir, Letícia e outras que estão desaparecidas até hoje, além de vítimas que conseguiram fugir das agressões do cozinheiro. As acusações são de assédio sexual, estupro e homicídio.
Investigadores apuram se o destino de Letícia e Genir foi o mesmo de outras duas mulheres que sumiram no DF. Há cerca de um ano e meio, por exemplo, uma babá que morava na Fercal desapareceu no Altiplano Leste após embarcar em um ônibus e descer nas proximidades da Barragem do Paranoá. No dia chuvoso, a mulher pegou uma lotação e nunca mais foi vista.
Indícios de participação
A polícia também investiga se o cozinheiro tem relação com o desaparecimento de Gisvânia Pereira dos Santos Silva, 34. Ela foi filmada por câmeras de segurança em um posto de gasolina em Sobradinho, na região da Nova Colina. A gravação de 6 de outubro de 2018, por volta das 4h40, são as últimas imagens conhecidas da mulher.
Em vídeo ao qual a polícia teve acesso, Gisvânia estava acompanhada de um homem. Ele foi identificado à época, mas os policiais descartaram a participação dele no sumiço da mulher, pois ela saiu sozinha do posto. O corpo nunca foi encontrado.
O delegado-chefe da 31ª DP, Fabrício Augusto Machado, admite a possibilidade de haver relação entre os casos: “Ela também estava em um ponto de ônibus, em Nova Colina. A informação é que uma pessoa chegou em um veículo e teria feito a lotação. Tudo indica que tenha sido o Marinésio. Existem várias evidências que levam a crer que ele pode ser o autor”, reforçou.
Crimes semelhantes
Casos ocorridos em 2014 e 2015 que seriam arquivados, em razão da não identificação de autoria, agora têm um suspeito: Marinésio. “Um deles tem a história de uma Blazer, mesmo modelo de veículo usado por Marinésio, que será checada”, disse a delegada Jane Klébia, chefe da 6ª DP (Paranoá), que investiga o caso Genir. A PCDF apura quando Marinésio adquiriu o veículo prata.
Desde que ele foi preso, pelo menos três mulheres foram à 31ª DP e disseram ter escapado dos ataques de Marinésio após aceitarem embarcar no carro dele.
Um dos casos foi de uma jovem de 23 anos abordada na Rodoviária de Planaltina, em 11 de agosto, com mesmo modus operandi: o homem oferecia carona ou se passava por loteiro. A moça também foi à delegacia. Ela contou que esperava o transporte quando Marinésio, até então desconhecido da vítima, parou a sua GM Blazer prata e ofereceu carona. Ao perceber que ele seguia para o Morro da Capelinha, a mulher entrou em pânico e pediu que o criminoso parasse o veículo. “Agora, você vai comigo para lá”, teria dito o acusado, segundo depoimento da jovem.
Ela começou a gritar, dizendo que iria pular do carro. Só então Marinésio resolveu deixá-la sair do automóvel. A vítima conta ainda que não registrou ocorrência na ocasião por temer a repercussão do episódio. Após o caso de Letícia vir à tona, a moça reconheceu o acusado e procurou a 31ª DP.
“Falou que eu era lixo”
Uma adolescente,de 17 anos vítima de estupro reconheceu o maníaco como seu agressor. Em depoimento, a menina afirmou ter sido violentada pelo homem em abril deste ano.
“Peguei o ônibus para ir ao Itapoã. Quando desci na parada, ele passou. Ficou me olhando e me abordou com uma faca. Disse que, se eu não entrasse no carro, ele ia me matar. Me levou para a região dos pinheiros e me estuprou. Depois, pegou meu pescoço, me jogou para fora e disse que eu era um lixo”, contou a garota, que esteve na delegacia acompanhada da mãe.
De acordo com a mãe da adolescente, a garota mudou completamente o comportamento desde o fato: “Parou de usar maquiagem. Tentou suicídio três vezes. Começou a contar a história dois meses depois do estupro. No momento em que ela me contou, fomos a uma delegacia e ao Conselho Tutelar. Minha filha está tendo acompanhamento psicológico”.
“Ele acabou com a vida dela. Ela chegou e falou que estava com nojo dela mesma, que tinha sido abusada. Ela tem medo de andar, não sai de casa”, desabafou a mulher.
Reação
Em outra ocorrência, duas irmãs estiveram na Blazer com o maníaco, após aceitarem uma carona na volta de um show. Entramos e falamos para onde iríamos. De repente, percebemos que ele mudou o percurso e foi em direção à Rajadinha. Nesse momento, me forçou a pegar nas partes íntimas dele. Eu disse que não queria, porque sou casada”, comentou a irmã mais velha.
Foi quando a jovem, de 18 anos, encontrou uma panela de ferro no banco traseiro da Blazer e disse a Marinésio que quebraria o vidro do carro caso ele não parasse o veículo. “Ele parou e descemos desesperadas. Um outro motorista viu a movimentação e nos trouxe até a porta de casa”, relatou a mais nova.
Com 1,60 m de altura, chama atenção o fato de o acusado escolher vítimas, de forma aleatória, com estatura maior. A polícia acredita que o maníaco cometia os crimes utilizando armas. Isso porque foi encontrada uma tesoura no veículo dele. Além disso, ele não tinha marcas de lesões no corpo, indício de que as vítimas não teriam reagido.
Nesta quarta-feira (28/08/2019), a polícia aguarda o depoimento de uma mulher que disse ter sido estuprada pelo cozinheiro. Moradora do Paranoá, ela antecipou, por telefone, que está se sentindo humilhada e envergonhada. Por isso, reúne força e coragem para denunciá-lo.