DF nunca elegeu deputados autodeclarados pretos para a Câmara e Senado
Candidatos passaram a declarar cor/raça a partir de 2014. Desde então, nem deputados federais nem senadores pretos foram eleitos pelo DF
atualizado
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A população do Distrito Federal nunca contou com um representante autodeclarado preto no Congresso Nacional. Após os resultados de mais uma eleição para Câmara dos Deputados e Senado, dos nove escolhidos para as duas Casas, 66% são brancos, embora 57% dos habitantes do DF sejam pretos ou pardos.
Desde 2014, todos os candidatos ao processo eleitoral devem declarar com qual cor ou raça se identificam. Ao todo, a população do Distrito Federal foi às urnas três vezes desde então. Em nenhuma das ocasiões houve um preto eleito ou ao menos metade de negros para o Congresso.
Em 2014 e 2018, foram escolhidos sete deputados federais brancos e apenas um pardo, em cada um dos pleitos. Para o Senado, os três escolhidos, nas duas eleições, foram brancos. Neste ano, passou a valer uma nova legislação que destina mais recursos do Fundo Eleitoral para votos dados a candidatas mulheres e pessoas negras. Porém, nem com o incentivo houve uma mudança significativa.
Ainda sem pretos, a população do DF elegeu seis brancos e três pardos para o Congresso em 2022. No Senado, Damares Alves (Republicanos), estreante, se junta a Leila do Vôlei (PDT) e Izalci Lucas (PSDB), que cumprem agora a segunda metade do mandato de oito anos. Todos são brancos.
Na Câmara dos Deputados, apenas Fred Linhares (Republicanos), Professor Reginaldo Veras (PV) e Gilvan Máximo (Republicanos) declararam-se pardos. Para Dalila Negreiros, pesquisadora da UnB e doutora em Estudos da Diáspora Africana pela Universidade do Wisconsin, a população negra do DF não se vê nas Câmaras representativas.
“O movimento negro, historicamente, tem suas candidaturas, mas elas têm mais desafios para o financiamento das campanhas e de apoio pelos partidos. No DF, há um histórico eleitoral relativamente recente em relação ao Brasil. Em 1994, foi eleito o primeiro deputado distrital negro, o deputado Cafu. É importante não esquecer essas histórias”, pontua.
A especialista ainda cita ter havido um considerável número de candidaturas negras nas últimas eleições, mas que enfrentaram barreiras, enquanto políticos brancos tiveram mais facilidades. “Essa legislatura, sobretudo, elegeu bastante policiais, militares e pastores. Há também filhos e netos de políticos famosos que já têm uma vantagem do sobrenome conhecido. Essa não é a experiência de candidatos negros.”
Cientista política doutoranda em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora em Feminismo, Relações de Gênero e Raça, Vanessa Machado também afirma que a pouca representatividade tem relação direta com o histórico de racismo institucional do país. “Infelizmente é comum, ainda hoje, mesmo com as cotas raciais, observarmos os espaços de privilégio e poder majoritariamente brancos. Isso é observado também no Legislativo brasileiro”, diz. Na visão da pesquisadora, é preciso observar essas discrepâncias e fomentar iniciativas que corrijam as desigualdades.
“Recentemente, algumas medidas estão sendo adotadas para reversão das históricas desigualdades raciais na política. Contudo, notamos que são medidas ainda insuficientes para avançarmos mais nesse processo de equidade racial nos espaços de poder”, sintetiza.
Perfil
Os representantes do DF na Câmara dos Deputados em 2023 serão duas mulheres e seis homens. A maior parte, quatro deles, declararam como profissão o cargo de deputado. Há ainda um empresário, um militar, um jornalista e uma bancária. A média de idade dos parlamentares é de 52 anos, enquanto a média de bens chega a R$ 1,5 milhão. Outra informação que chama atenção é de que apenas dois são naturais de Brasília.
Apesar do pequeno aumento do número de pardos, de um para três entre 2018 e 2022, houve redução na quantidade de mulheres. Em 2018, elas eram maioria, com cinco deputadas. Naquele ano, os deputados federais tinham média de 44 anos e R$ 2,1 milhões em bens. A bancada mais rica das últimas quatro eleições foi a de 2010, quando os oito eleitos tinham, em média, R$ 17.111.721,10 em bens.