DF: Moradores do Sol Nascente relatam sofrimento após chuva
Região do Trecho III teve ruas alagadas e lixo espalhado depois de temporal. Comunidade reclama da falta de infraestrutura e de apoio
atualizado
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A chuva forte que tem caído nos últimos dias no Distrito Federal voltou a causar prejuízos aos moradores do Sol Nascente, em Ceilândia. Na tarde desse domingo (21/10), nova enchente tomou conta do Trecho III da comunidade. Segundo os moradores, o impacto da chuva foi intensificado por causa de obras que estão sendo realizadas na área. Ou seja, mais lama.
“Aqui está um verdadeiro ‘Deus nos acuda’. Mas a nossa esperança é a última que morre. Tenho fé que um dia a estrutura daqui vai melhorar”, afirmou a dona de casa Izoneide Louzeiro, 50. Moradora da chácara 115 há sete anos, ela contou que ruas alagadas são um cenário frequente no local. Dona Izoneide disse que ja´chegou a ter as telhas e as paredes da chácara danificadas. “Quando chove e minha filha de 14 anos vai para a escola, eu fico com medo por ela. A enxurrada é muito forte por aqui. A água desce com tudo”, lamentou.
Na Rua 2, as obras de pavimentação começaram a ser realizadas recentemente. Pedestres andam sobre o barro e passam entre tratores, esperando a conclusão do asfalto. Nas demais ruas do Trecho III do Sol Nascente é possível ver lixo espalhado por todo o chão após o temporal.
“Não tem como não alagar aqui quando chove. O lugar não tem infraestrutura, a realidade é essa. É sempre a mesma coisa”, indignou-se o vendedor Wagner Correia, 32 anos. “O Trecho III tem asfalto há um tempo, mas as ruas ligadas, não. E só começaram a colocar este ano, perto da eleição”, afirmou. Da loja onde trabalha, conta já ter visto de tudo nas chuvas, até mesmo móveis sendo levados correnteza abaixo.
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Obras
A atividade é intensa nos pontos de pavimentação. A dona de casa Elizângela dos Passos, 37, tirou o carro da garagem assim que soube que era a vez de sua rua passar pelas obras, nesta segunda-feira (22). Elizângela utiliza o veículo para buscar e levar seus filhos no colégio, mas o carro ficou preso na garagem, nesta manhã. É que a presença de tratores impediu temporariamente a circulação na Rua 2.
Já a vendedora Cristiane Maria dos Santos, 38, caminhava para fazer compras no mercado quando a chuva teve início. Rapidamente, ela se escondeu no local coberto mais próximo, uma Igreja. “Fiquei ‘presa’ na igreja. Não tive coragem de sair de lá. A água quase batia nos meus joelhos e chovia muito na hora”, explicou.
Segundo ela, o fator mais agravante quando chove no Sol Nascente é a quantidade de lixo e sujeira que se espalha pelas ruas. Na Rua 73B, por exemplo, onde vive, não há os chamados “papalixos”, as lixeiras comunitárias. “As pessoas ficam com preguiça de caminhar até onde tem um reservatório de lixo e jogam as coisas no chão. Quando chove, isso só agrava a situação”, reclamou.
Para Cristiane, a força das águas, combinada à falta de estrutura na comunidade, são muito preocupantes. Quando as enchentes acontecem, ela afirma que seus filhos ficam impossibilitados de irem estudar. “Fica inviável”.
Obras
Em 2017, um relatório da Controladoria-Geral do DF (CGDF) apontou irregularidades nas obras de infraestrutura do Sol Nascente. Desde que operários e máquinas iniciaram as intervenções, em fevereiro de 2015, o GDF repassou R$ 13,5 milhões a mais do que a estimativa inicial às construtoras responsáveis por levar drenagem e pavimentação à região. Embora os trabalhos no Trecho III só tenham chegado a uma rua, os recursos para todo o Setor Habitacional já estão empenhados.
Segundo o relatório da CGDF, o problema é que o aditivo milionário pode ter sido empenhado desnecessariamente. Entre setembro e novembro de 2016, auditores do órgão inspecionaram todos os contratos firmados entre a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos e os três consórcios de construtoras: Consórcio Nascente, Consórcio Nascente II e Consórcio Nascente III.
A auditoria depreendeu que os aportes extraordinários trouxeram “impacto nos princípios da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa”. O Trecho I, licitado por R$ 41,5 milhões, contou com cinco aditivos, que fizeram o custo aumentar em R$ 8,4 milhões. O caso continua sob investigação.