Mãe reclama de negligência em atendimento à filha com síndrome de Down
Pedagoga diz que filha sofreu reação alérgica após prescrição de antibiótico em UBS e, depois, teve atendimento negado. Secretaria contesta
atualizado
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Já faz uma semana desde que uma consulta de rotina virou pesadelo para a pedagoga Maria Elizabeth de Souza Silveira, 58 anos, e a filha, Vanessa Souza Alabarce, 30, que tem síndrome de Down. A mulher reclama de mau atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) 2 de Taguatinga Norte e no hospital regional da cidade (HRT).
O caso, que parecia simples, teve início no último dia 17, um domingo, quando Vanessa passou a apresentar uma tosse forte. “Ela já tinha um atendimento médico marcado para segunda-feira [18] na UBS 2 de Taguatinga, então deixei para que isso fosse olhado lá”, lembra Maria Elizabeth.
No dia seguinte pela manhã, as duas foram à unidade e o médico receitou dois antialérgicos para Vanessa. No entanto, ela piorou. “Na terça [19], minha filha teve febre de 38,5 ºC à tarde, e à noite quase chegou aos 39 ºC. Vi que precisaria levá-la de volta ao posto médico”, diz a pedagoga.
Ao retornar à UBS na quarta-feira (20) pela manhã, Maria Elizabeth conversou com o mesmo médico, que receitou um antibiótico para Vanessa. “Avisei para o doutor que ela é alérgica a todos os antibióticos que existem. Mesmo assim, ele achou que eu estava inventando coisas e disse que não teria problema tomar o remédio”, relata a mãe.
No mesmo dia, conta, Vanessa reagiu mal ao tratamento receitado. Os pés e as mãos ficaram inchados e vermelhos, e ela passou a andar com muita dificuldade.
Negativa de atendimento
Inconformada com o resultado do tratamento, Maria Elizabeth voltou com a filha para a UBS 2 na quinta (21/3), Dia Internacional da Síndrome de Down. “Chegando lá, o médico não quis nem olhar a Vanessa. Mandou recado por meio da enfermeira, dizendo que era para ir a um hospital, porque o caso já não era mais problema dele”, afirma.
Mãe e filha foram então para o HRT, onde o acolhimento foi ainda pior, segundo Maria Elizabeth. “Não quiseram nem classificar minha filha. A enfermeira disse que, por ela estar sem febre, não era caso de urgência e eles só estavam atendendo quem estivesse morrendo”, contou. A pedagoga filmou o momento em que discutiu com uma atendente no hospital.
Confira, no vídeo abaixo, a discussão entre Maria Elizabeth e uma funcionária do HRT:
Após as negativas de atendimento, a mãe desistiu de procurar ajuda na rede pública de saúde e passou a cuidar da filha por conta própria. “Passei o fim de semana tratando dela. Fiz um chá e ela melhorou da vermelhidão e da febre”, conta.
Mais problemas
Além da anomalia genética, Vanessa ainda sofre com a bactéria H. pylori no estômago e espera há mais de dois meses uma endoscopia que deveria ser feita com urgência. “Desde janeiro que espero a realização do exame. Minha filha já não tem vontade de comer mais nada e perdeu 13 kg nesse tempo. Preciso saber se ela está com alguma úlcera”, diz a mãe.
Vanessa também foi diagnosticada com depressão há nove anos. Desde que o pai morreu, afirma a mãe, a filha não disse mais nenhuma palavra. “Antes, a Vanessa conseguia frequentar o ensino normal e tocava teclado. Hoje, não conversa mais, precisa tomar remédio controlado e eu vivo para cuidar dela.”
O outro lado
A Secretaria de Saúde (SES) informou, por meio de nota, que a paciente foi atendida na UBS 2 de Taguatinga. Segundo a pasta, Vanessa esteva na unidade para ser reavaliada devido à alergia apresentada após iniciar a medicação.
Em contato com a gerência da UBS 2, a Secretaria de Saúde afirmou que a mãe da paciente foi orientada a aguardar o atendimento, que seria prestado pela ordem de chegada. No entanto, ela não esperou. Ainda de acordo com a SES, Maria Elizabeth retornou à unidade no período da tarde e, novamente, foi informada que a filha seria atendida, porém ela se negou a esperar.
Com relação ao incidente no Hospital Regional de Taguatinga, a secretaria disse que a paciente “foi acolhida no pronto-socorro e recebeu a classificação de risco verde, portanto é improcedente a informação de que ela não teria sido classificada”.