Família acampada na rua que pôs doações em carro deixou Asa Norte
Segundo os que permanecem na 111/112 Norte, supostos moradores de rua podem ter pegado Uber para levar o que ganharam para casa
atualizado
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Um dia depois de uma filmagem que mostra supostos moradores de rua colocando doações recebidas dentro de um carro na 111/112 Norte viralizar nas redes sociais, o Metrópoles foi até a quadra na manhã deste domingo (29/12/2019). A família, porém, havia deixado o local.
Os que permanecem acampados às margens do Eixo W disseram que a família mostrada nas imagens foi embora nesse sábado (28/12/2019). Porém, não sabem dizer quem são as pessoas e onde moram.
A gravação foi feita do Bloco I da 112 Norte. Ao observar a família, com crianças de colo, usando um Sandero, moradores da região iniciaram discussões nos grupos da prefeitura da Asa Norte.
Assista ao vídeo:
A indignação gira em torno de um possível “favorecimento” ou falsidade ideológica com aproveitamento da solidariedade das pessoas. Um dos moradores afirma existir “uma ‘indústria’ de mendicância”. “Pessoas que não são, de fato, miseráveis, mas se instalam na rua porque é lucrativo. Fazer doações na rua não é uma boa opção”, alerta um integrante do grupo de WhatsApp.
No entanto, como acontece todos os anos com a chegada das festas de Natal e Réveillon, o contingente de pessoas que vivem em situação de rua no Distrito Federal tende a aumentar. Muitas vêm de outras cidades em busca de doações e espalham moradias improvisadas, especialmente nas áreas mais nobres da capital.
Há cerca de duas semanas, a família do vigia de carros João de Lima Silva, 30 anos, se instalou no Eixinho W, no mesmo lugar onde o vídeo foi gravado. Com a esposa, três filhos pequenos e uma amiga, eles foram para o local tentar conseguir ajuda.
De acordo com João, os outros pedintes que estavam na mesma quadra, possivelmente, chamaram um motorista por aplicativo para que pudessem levar tudo o que ganharam para a casa deles.
“Só vem para a rua pedir doações quem realmente precisa. Essa família estava aqui havia dias e, ontem [sábado], foi embora. Não sabemos de quem é o carro. Provavelmente, foi um Uber que eles pediram para levar as coisas que ganharam”, opinou.
O vigia de carros vive com a família em Planaltina de Goiás (GO) e diz que, há 25 anos, pede ajuda no DF, nesta época do ano.
“Sou natural da Bahia. Estou aqui com a minha família porque precisamos conseguir roupas, alimentos e brinquedos para as crianças. Levamos uma vida difícil e o que entra em casa não dá para praticamente nada. Ganhamos muitas coisas boas nos últimos dias e, hoje (domingo), voltamos para a casa felizes. Vamos fazer uma ceia de Réveillon”, acrescentou.
Dúvidas
Moradores da quadra, no entanto, se mostram preocupados com a situação e afirmam ter dúvidas se as pessoas realmente precisam de ajuda.
“Nós flagramos mais de uma vez eles colocando doações no carro. É comum aparecer veículos para levar o que eles ganham. Fica a dúvida se ali estão realmente pessoas que precisam ou apenas aproveitadores. Eles são bem-vestidos. Usam aparelho celular. Vem para a região preparados. Não chegam por acaso”, pontuou uma mulher que mora no Bloco J da 112 Norte, de onde o vídeo foi filmado.
Veja fotos registradas pela moradora:
O zelador de um dos residenciais, que preferiu não se identificar, também comentou a situação nas redondezas. “Eles vêm com muitas crianças, que costumam pedir também. Mas não ofereciam risco. Ficaram aí por cerca de 15 dias. Desde ontem (sábado), começaram a desmontar as barracas e saíram”, destacou.
Um comerciante e morador da Asa Norte disse que se sente intimidado. “Além de esperarem as doações, caminhavam pela comercial pedindo. Todos os dias, a gente ficava sem saber se realmente precisavam”, ressaltou.
Crescimento
Ao saber da situação, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) afirmou que fará uma abordagem social na região para possíveis encaminhamentos. A investigação se há falsidade ideológica ou não é de responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública, disse a pasta.
Segundo levantamento da Sedes, neste fim de ano o número de pessoas em situação de rua cresceu cerca de 20%. São famílias que relatam residir no Entorno do Distrito Federal e que vêm para o DF no intuito de arrecadar doações e retornam às suas casas posteriormente.
“Preparado para esse incremento, o Serviço Especializado de Abordagem Social de Rua foca a atuação em regiões mais estratégicas, como nas áreas centrais de Brasília, oferecendo tanto o acolhimento quanto o retorno domiciliar. Porém, são pessoas que não buscam necessariamente o atendimento socioassistencial do DF. O foco é a caridade das pessoas”, destacou a secretaria, por meio de nota.
A atuação da pasta é semanal em todos os pontos mapeados, por meio da abordagem social. No DF, existem atualmente três mil pessoas em situação de rua. As principais áreas são Plano Piloto, Ceilândia e Taguatinga.
“O trabalho é feito diariamente, com 30 equipes de abordagem de rua. Durante esse trabalho, nos espaços públicos, são apresentados os serviços socioassistenciais e oferecido encaminhamento psicossocial, ou para um dos centros de atendimento ou no núcleo de acolhimento da pasta”, assinalou a Sedes.