DF: delegado diz que há indícios de que mãe planejou matar filha
Em depoimento à polícia, Giuvan disse suspeitar de ter sido dopado por Laryssa de Moraes, com quem teve Júlia, 2 anos, morta a facadas
atualizado
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O delegado-chefe da 12ª DP (Taguatinga Centro), Josué Ribeiro da Silva, afirmou que há indícios de que a morte de Júlia, 2 anos e 2 meses, foi premeditada. Isso porque, em depoimento, Giuvan Félix, 25, pai da menina, disse suspeitar de ter sido dopado por Laryssa de Moraes, 21, mãe da pequena, no dia do crime.
“Fizemos o exame toxicológico no Giuvan e o resultado deve sair em 15 dias. Caso essa possibilidade seja confirmada, mudamos a versão para premeditação, ou seja, a mãe teria elaborado um plano para matar os dois”, explicou Josué. O delegado ainda contou que o pai da garotinha estava desolado na unidade de saúde em que foi atendido. “Às vezes, a ficha de algumas pessoas demora a cair. Quando ele foi tratar de seu corte no rosto, chorou muito no hospital, e a todo momento perguntava por sua filha”, pontuou o investigador.
Em depoimento à PCDF, Giuvan informou sobre uma suposta tentativa de Laryssa de matar a filha afogada em uma banheira. Em sua defesa, a mãe da criança disse que apenas havia saído do banheiro e deixado Júlia sozinha. Quando voltou, a garotinha estava se afogando.
Presa em flagrante, Laryssa vai responder por homicídio duplamente qualificado e lesão corporal. Caso condenada, a mulher pode pegar de 12 a 30 anos de pena.
O corpo de Julinha, como a menina era tratada, foi enterrado nesta sexta-feira (14/02/2020) em Padre Bernardo (GO), município goiano no Entorno do Distrito Federal. Durante o sepultamento, a mãe de Laryssa de Moraes pediu perdão em nome da filha.
“Gostaria que vocês não julgassem as pessoas. Só Deus tem o direito de julgar e condenar. Eu estou sofrendo muito. Ela vai pagar pelo que fez”, destacou a merendeira Luciana Pires da Silva, 37. “É um pedido de uma mãe”, acrescentou a mulher, que chorou copiosamente abraçada a um ursinho de Júlia.
Muito abatido, Giuvan Félix chorou bastante durante o cortejo e não deu uma palavra. Permaneceu ao lado do jazigo, parecendo estar em choque. A família do recepcionista não se conforma com a barbárie. “Não foi por falta de aviso. Ela (Laryssa) tentou matar Júlia afogada em uma banheira e inventou uma desculpa que foi um acidente. Desde então, o Giuvan pediu a guarda da menina”, lembrou Elves Rodrigues de Oliveira, 30, tio paterno da menina. O episódio teria ocorrido há seis meses.
“Ele estava lutando pela guarda. Amava muito a minha sobrinha e dava para ela o que ele tinha e o que não tinha”, frisou Elves, muito abalado. Ele diz que os esforços agora são para dar todo o apoio para Giuvan, que foi inocentado. “Temos que consolar e ver como ele fica. Não é fácil para um pai perder uma filha desse jeito. Ainda mais que ele presenciou tudo”, ressaltou.
Família despedaçada
Durante o velório, Giuvan se ajoelhou ao lado do caixão branco de Júlia. Tia paterna do pai de Júlia, a dona de casa Maria dos Reis Rodrigues Araújo, 40, está inconformada. “Nós consideramos a Laryssa um monstro. Ela tem que pagar pelo que fez. O Giuvan também foi vítima dela. Nós temos certeza da inocência dele. O meu sobrinho não teve culpa”, assinalou.
Ainda segundo Maria dos Reis, a família está despedaçada. “Vamos lembrar da Júlia como um bebê feliz que gostava de brincar e, principalmente, da vida”, salientou. “Nós estamos sentindo a dor do meu sobrinho. Um menino muito carinhoso e sensível. A gente espera que ele consiga se levantar para cuidar da outra filhinha dele de 1 ano. Queremos que ela (Laryssa) o deixe viver e ter o luto dele em paz.”
O crime
O crime ocorreu na madrugada de quinta-feira (13/02/2020), na Chácara 148 da Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires, e ganhou repercussão nacional. Em depoimento à 12ª DP, Laryssa narrou detalhes de como executou, a facadas, a própria filha. Segundo a jovem, a barbárie ocorreu na cozinha da quitinete de três cômodos onde morava com o pai da criança.
Ela contou ter acordado por volta de 5h30. Depois, colocou sobre a pia um colchão de berço e levou a filha até a bancada. “Tentou, primeiro, dar uma facada, mas não deu certo. A bebê começou a chorar. Foi aí que ela tentou sufocá-la com a mão, fechou os olhos e acertou outras duas vezes”, descreve o delegado Josué Ribeiro.
Após tirar a vida da criança, Laryssa foi ao quarto onde o pai de Júlia dormia e tentou acertá-lo. Ex-companheiro da assassina confessa, Giuvan Félix teria acordado assustado e, na tentativa de desarmar a mulher, acabou se ferindo no rosto.
Depois de tomar a faca de Laryssa, ele se deparou com a filha ensanguentada e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Enquanto Giuvan estava no telefone, ela guardou a faca e escondeu na área de serviço o colchão, que encontramos após voltarmos à casa”, ressalta o delegado.
Laryssa confessou, ao ser presa em flagrante, que havia matado a criança. Em depoimento na 12ª DP, mudou a versão e passou a acusar o pai da criança. No entanto, a polícia diz que Giuvan não teve participação no crime. E acredita que o jovem possa ter sido dopado pela assassina.
Irmã do ex-marido da avó materna da criança, a aposentada Linda das Graças, 61, lamentou profundamente a morte de Júlia. “Ninguém esperava. A Laryssa nunca demonstrou essa atitude. Foi criada em casa. Era amorosa. Estamos chocados. Temos muito apreço por essa família. É uma tristeza sem explicação.”
“Estamos muito tristes. O que ocorreu não é bom para ninguém. Vai marcar para sempre a nossa família negativamente”, disse o bisavô materno de Júlia, o pedreiro Jair da Silva Lopes, 65.