metropoles.com

DF tem aumento de 300% em internações por automutilação em 10 anos

Capital do país foi de 164 pacientes em 2014 para 656 em 2023. Confira os números e entenda a diferença entre automutilação e suicídio

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Breno Esaki/Especial Metrópoles
Mãos de mulher branca entrelaçadas
1 de 1 Mãos de mulher branca entrelaçadas - Foto: Breno Esaki/Especial Metrópoles

O Distrito Federal tem visto crescer, ano a ano, o número de casos de pacientes que precisaram ser levados a unidades de saúde após causarem lesões propositalmente em si mesmos. De 2014 a 2023, a capital do país registrou um aumento de 300% no número de internações por lesões autoprovocadas voluntariamente.

Em 2014, o DF teve 164 pacientes internados por esse motivo. Em 2023, esse número subiu para 656. Os dados são do Ministério da Saúde.

O número oscilou entre 2014 e 2018. Foram 164 pessoas hospitalizadas em 2014; 163 no ano seguinte; 272 em 2016; 115 em 2017; e 166 em 2018.

A partir daí, os casos só cresceram: 370 em 2019; 444 em 2020; 466 em 2021; 491 em 2022 e 656 pacientes internados por tentativa de suicídio em 2023.

Confira no gráfico:

O Brasil registra uma alta quando somadas todas as 27 Unidades da Federação (UFs). Foram 11.502 internações em 2023, contra 9.173 em 2014. A curva baixou em 2016, depois subiu até 2019 e despencou novamente em 2020 — primeiro ano da pandemia de Covid-19.

Em 2021, porém, os números voltaram a subir e não pararam mais, até 2023.

Veja:

Estados têm baixa

Enquanto o DF e outras UFs apresentaram alta na última década, alguns estados vão na contramão e registram cada vez menos casos de pacientes internados por autolesão. É o caso do Ceará, que teve 1.489 casos em 2014 e 274 em 2023.

A Bahia também foi reduzindo seus números ao longo dos anos. Em 2014, foram 603 pacientes internados por autolesão; em 2023, 396. O Espírito Santo teve 353 em 2014 e 177 em 2023.

Compare na tabela:

Os dados são do Ministério da Saúde

Automutilação e suicídio

Automutilação e suicídio têm uma diferença sutil, que é justamente a intenção ou não de tirar a própria vida, como aponta a Cartilha para Prevenção da Automutilação e do Suicídio, do Ministério da Saúde. É o relato do próprio paciente que define se a autolesão teve ou não o objetivo de tirar a vida.

De acordo com o documento do ministério, uma autolesão é suicida “quando há ideação suicida, plano suicida e tentativa de suicídio”. Já a autolesão não suicida parte de pensamentos sobre autolesão, ameaça de suicídio e automutilação.

A ideação suicida são pensamentos sobre suicídio; o plano de tirar a própria vida é a consideração de um método específico para cometer o ato; e a tentativa de suicídio se refere ao comportamento autolesivo em que há a intenção de morrer, porém, sem consumar o ato.

Ameaça de suicídio é quando o comportamento do indivíduo leva os outros a acreditarem que há a intenção de morte, quando, na realidade, não há; pensamentos autolesivos são ideias sobre os comportamentos de automutilação, que podem anteceder o ato em si; e autolesão sem intenção suicida refere-se à lesão direta do próprio corpo, mas sem intenção de morrer.

Primeiro atendimento

A Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) aponta: no que diz respeito à saúde mental, é fundamental que o primeiro atendimento à vítima seja qualificado. Aqueles que operam na linha de frente no socorro a uma pessoa em situação de automutilação precisam saber identificar sinais de vulnerabilidade emocional.

Especializar policiais e bombeiros militares, por exemplo, no atendimento inicial a um paciente que tentou suicídio é de suma importância. É o que afirma ao Metrópoles a mestre em psicologia hospitalar e psicologia clínica, Glauce Corrêa.

“Sem o treinamento adequado, a abordagem de agentes de segurança pode, acidentalmente, agravar a situação, especialmente se houver uma distorção ou mal-entendido sobre o estado emocional da pessoa em crise. Um paciente em uma situação de desespero pode reagir de forma negativa e sentir-se ameaçado ou incompreendido”, afirma Glauce Corrêa, que também é coordenadora do Departamento de Serviço Social e Psicologia da Abramede.

Humanizar o atendimento a esses pacientes pode assegurar que eles responderão a perguntas importantes também de maneira humanizada. “Promover esse tipo de treinamento, com o apoio das secretarias de saúde, seria um avanço importante para a política de prevenção ao suicídio”, acredita a especialista.

PMDF e CBMDF

Na esteira das falas da psicóloga Glauce Corrêa, o Metrópoles buscou entender, junto à Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e ao Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), se as corporações preparam os servidores para atender de forma humanizada um indivíduo que se autolesiona.

Os bombeiros informaram que possui o Curso de Atendimento a Tentativas de Suicídio (Cats), que é de ampla concorrência a todos os bombeiros militares do DF. “O objetivo do curso é capacitar os militares para atuarem de forma humanizada nas ocorrências de tentativas de suicídio em situações-limite, em que a vítima está na iminência de consumar o suicídio”, esclarece a corporação.

Depois de formados no Cats, os militares devem difundir o conhecimento aos colegas de trabalho. “Os especialistas já formados que trabalham em quartéis operacionais dão instruções para as próprias alas e também para outras alas de serviço eventualmente.”

“Todos saem com a missão de disseminar os conhecimentos adquiridos e se tornarem multiplicadores dessas informações. Uma das missões do Cats é formar não só um interventor, mas um multiplicador do conhecimento.”

A Polícia Militar afirma que não possui um curso específico para estes casos. “Em todas as ocorrências desta natureza, os policiais militares são instruídos a acionar o apoio do CBMDF”, diz o órgão.

O Metrópoles questionou a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) sobre a que se deve o aumento nos últimos 10 anos e que trabalho vem sendo feito visando amparar o paciente que comete a autolesão com ou sem intenção suicida. A pasta não havia respondido aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

Busque ajuda

Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos ou tentativas de suicídio que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social, porque esse é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para o ato não ser estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por meio de telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.

Samu

O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. E atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), em hospitais e nas unidades básicas de Saúde.

O UniCeub também oferece atendimento. Pela taxa de R$ 40, crianças, a partir de 4 anos, adolescentes, adultos, casais e famílias podem ser atendidos. As consultas acontecem no Edifício União, localizado no Setor Comercial Sul. Após a avaliação psicológica do paciente, as consultas são agendadas uma vez por semana, com o apoio dos alunos do curso de psicologia. Os interessados podem agendar o atendimento por telefone (61) 3966-1626, ou presencialmente, no Edifício União.

A Universidade Católica de Brasília (UCB) também oferece esse tipo de acompanhamento. O atendimento terá novas vagas a partir de março de 2024. No momento, a clínica oferece o plantão psicológico, ou seja, atendimento em sessão única voltado para casos de emergência, quando o paciente está em crise depressiva, por exemplo.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?