DF: apesar de proibição, dentistas ofertam cirurgia no nariz e orelhas
Cirurgiões-dentistas são autorizados a fazer harmonização orofacial, mas não podem realizar procedimentos como rinoplastia e otoplastia
atualizado
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As propagandas estão espalhadas pela internet: procedimento rápido, prático e um nariz “perfeito”. A proposta é feita por dentistas em diversas clínicas espalhadas pela capital. O procedimento vendido é o de rinomodelação, uma prática estética sem cortes, feita com preenchimento de ácido hialurônico ou com fios. Na prática, porém, em alguns casos é feita uma cirurgia plástica no paciente na cadeira do odontólogo.
Isso também ocorre com a otoplastia. A cirurgia plástica nas orelhas não pode ser feita por dentistas, mas é anunciada em cartazes de consultórios. Hoje, o cirurgião-dentista é autorizado a fazer harmonização orofacial, otomodelação, rinomodelação, mas não procedimentos invasivos como os realizados por cirurgiões plásticos.
Os alertas do Conselho Regional de Medicina e do Conselho Regional de Odontologia (CRO) são para que a população fique atenta. A prática com menor custo e feita por profissional sem qualificação pode acarretar uma deformação. Para evitar transtornos, a orientação é que a formação, o trabalho e as indicações dos odontólogos devem ser uma premissa antes de o paciente optar pelo serviço. Além disso, a atividade é irregular e pode levar à cassação do registro profissional.
“É uma prática do exercício ilegal da medicina. O dentista não está habilitado para atuar em procedimentos estéticos como rinoplastia e otoplastia. Existem diversas denúncias no CRM sobre casos assim”, afirmou o presidente do CRM-DF, Farid Buitrago.
Ele afirma que a entidade que preside não pode punir os profissionais nesses casos por ser uma prerrogativa do Conselho Regional de Odontologia (CRO), mas que os episódios têm sido levados à Justiça e ao conselho responsável. “Você já viu médico fazer canal em paciente? Não. Dentista também não faz cirurgia plástica”, completou.
Deformação e problemas emocionais
A rinomodelação, por não ser um procedimento invasivo, é permitida pelo CRO para ser feita em consultório, assimn como a harmonização. Atraída pelo conceito de modelação do nariz de maneira rápida e segura, Eduarda*, se submeteu a um desses procedimentos em uma clinica dentária e de estética, localizada no Sudoeste. O procedimento de “rinomodelação definitiva de fios” ocorreu em dezembro de 2020, quando também começou o pesadelo da jovem.
Após o procedimento ela viveu momentos de desespero, ao constatar o seu nariz deformado e com processos infecciosos, que caminhavam para necrose do membro. O nariz estava torto e, mesmo depois de tentar “corrigir” o problema com o dentista, Eduarda só viu a situação piorar.
“Eu fui a 11 médicos para saber o que estava ocorrendo no meu nariz e o que deveria fazer. O médico que me consultou e me operou emitiu um laudo dizendo que havia sido realizada uma rinoplastia no meu nariz. Estava tudo inflamado e deformado. No ato cirúrgico, o médico otorrinolaringologista e cirurgião facial, encontrou no meu nariz marcas de cortes, lacerações de cartilagens, fibroses e cicatrizes internas, causadas por lâminas e também pelos fios inapropriados para tal finalidade, inseridos no meu nariz”, relatou ao Metrópoles.
O médico confirmou que Eduarda jamais fez um procedimento de rinomodelação, mas sim uma rinoplastia, na cadeira de um consultório odontológico. Mesmo com a cirurgia plástica para correção do problema, Eduarda jamais terá o nariz como antes. Ela sofreu danos permanentes na pele e em cartilagens. Veja laudo de cirurgião:
Em outra clínica na Asa Sul, Rafaela* teve o nariz aberto e costurado nas laterais na cadeira do dentista. Ela também acreditou no procedimento rápido e eficaz para modificar seu nariz esteticamente. No entanto, sofreu cortes e também precisou retirar os fios inseridos pela dentista com uma cirurgiã plástica. “Os fios inflamaram. Não sei o que acontece nos outros casos, mas no meu não foi uma rinomodelação”, lamentou.
Qualificação
O presidente da Comissão de Harmonização Orofacial do CRO-DF, Frederico Rodger, afirma que existem hoje denúncias de exercício ilegal da profissão, mas que todas são analisadas em sigilo. Ele ressalta que o importante é analisar a formação, a capacitação do profissional. “Em toda profissão há bons e maus profissionais. O cirurgião-dentista é responsável pelo equilíbrio da face, tanto estética, quanto funcional”, afirmou.
Segundo ele, hoje não é permitido realizar a rinoplastia ou otoplastia. “Isso tem sido discutido, mas a resolução do conselho é essa. É proibido. O profissional que exercer a profissão ilegalmente pode sofrer sanções”, lembrou.
Resoluções
Resoluções do CRO proíbem a realização de cirurgias em nariz por dentistas. Segundo os documentos, qualquer procedimento cirúrgico, com descolamento de nariz, cortes, incisões e pontos são caracterizados como rinoplastia e não podem ser exercidos por odontólogo.
De acordo com resolução com a Resolução 230/220, do Conselho Regional de Odontologia (CRO), “fica vedado ao cirurgião-dentista a realização dos seguintes procedimentos cirúrgicos na face: a) Alectomia; b) Blefaroplastia; cirurgia de castanhares ou lifting de sobrancelhas; d) Otoplastia; e) Rinoplastia; e ) Ritidoplastia ou Face Lifting. Ou seja, nenhum procedimento com cortes ou incisões são permitidos pelo profissional dentista”, diz.
Já a Resolução do Conselho Federal de Odontologia, CFO-198, de 29 de janeiro de 2019, reconhece a harmonização orofacial como especialidade odontológica e também veda procedimentos com cortes, pontos e descolamento de nariz, entre outros.
Otoplastia
Em publicação recente nas redes sociais, o CRO-DF fez um alerta para que os cirurgiões-dentistas fiquem atentos às ofertas de cursos oferecendo habilitação em otoplastia, otomodelação e procedimentos cirúrgicos de nomes correlatos voltados para a correção do posicionamento das orelhas.
“Essa prática não pode ser desempenhada por quem tem formação em odontologia, segundo a Resolução CFO 230, publicada no ano passado, e que regulamenta a prática de procedimentos cirúrgicos em Harmonização Orofacial (HOF)”, diz o post.
Nesse caso, a intenção é alertar também a população sobre a importância de não se submeter a otoplastias em consultórios dentários. Veja publicação: