DF: “Achei que eram fogos de artifício”, diz morador após chacina
Vizinhos do acampamento de ciganos falam do medo de habitar no local, em Sobradinho. Depois do crime, comunidade cigana saiu de lá
atualizado
Compartilhar notícia
O silêncio no acampamento de ciganos, em Sobradinho, no Condomínio Serra Verde, ecoa o vazio que ficou no local após a chacina que resultou na morte de quatro pessoas na tarde de sábado (01/02/2020). Abandonado pelos moradores, o espaço na altura da DF-440 aparenta ter sido deixado às pressas.
Utensílios domésticos permanecem dentro das tendas. Roupas e toalhas continuam estendidas no varal. Animais, como patos, galinhas e gatos, também ficaram para trás.
Na vizinhança, o medo impera entre os moradores. Um comerciante que vive na região há 12 anos contou ao Metrópoles que o clima de tensão domina as ruas próximas ao acampamento desde o tiroteio.
Confira fotos do acampamento e da investigação sobre a chacina:
“A gente não sabe o que aconteceu e nem o motivo. Estamos todos perguntando um ao outro, porque foi algo muito estranho”, pontuou o comerciante.
“Temos um vizinho que brinca muito com fogos (de artifício). Então, na hora, eu achava que eram fogos de artifício. Depois, uma pessoa chegou e falou para a minha esposa que eram tiros. Ela me ligou e falou para eu ter cuidado, porque um rapaz havia levado um tiro na rua de cima”, lembrou.
Segundo o homem, que pediu para não ser identificado, os ciganos abandonaram o acampamento ainda no domingo (02/02/2020). “Eu vi alguns deles descendo, carros subindo. No dia seguinte, já não havia mais ninguém.”
O morador relatou ainda que o grupo composto por centenas de ciganos chegou à região há cerca de seis anos. Eles pouco conversavam com os vizinhos.
“Falavam o básico, que era para fazer o negócio deles. Chegavam aqui e falavam: ‘Vamos trocar seu relógio, seu carro’. Mas eu sempre fui meio pé atrás com essas coisas e nunca quis. Com o passar do tempo, viram que eu não me interessava por esse tipo de negócio e deixaram de passar por aqui”, narrou.
Investigações
A principal linha de investigação da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) para a chacina é referente à venda de um carro. O desentendimento entre o vendedor e o comprador do automóvel teria dado início ao episódio violento, que tirou a vida de quatro pessoas.
O delegado-chefe da 13ª DP, Hudson Maldonado, confirma que o cerne da questão consiste na desavença entre dois homens. “Dois chegaram a pé no acampamento. Um deles teria vendido um carro por R$ 15 mil”, assinala.
“No entanto, o veículo tinha vários problemas, incluindo clonagem e adulteração. O comprador, inclusive, foi preso ao ser flagrado com o automóvel”, detalhou o policial.
Os envolvidos não teriam qualquer relação com o grupo cigano. Apenas teriam marcado de “desfazer” o negócio no local. O comprador chegou em um Honda HRV com cinco homens. Eles desembarcaram e, em seguida, a troca de tiros foi iniciada. Três ocupantes do veículo foram baleados e morreram no local.
“Os dois que chegaram antes conseguiram fugir a pé. Eles encontraram um cigano no caminho e, de forma covarde e brutal, atiraram na vítima (atingindo o olho e o tórax) e fugiram no veículo dele”, contou o delegado.
A dupla foi localizada e presa pela Polícia Civil. Durante o depoimento, usaram o direito de permanecer calado. Os investigadores também conseguiram identificar e prender um dos ocupantes do automóvel.
Ele afirmou que os tiros foram iniciados pela dupla. Outro autor está ferido e sob escolta policial no Hospital Regional de Sobradinho.