DF: 82% dos usuários de ônibus reclamam de aglomeração durante viagens
Relatório do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), com apoio do MPDFT, revela preocupação de passageiros brasilienses na pandemia
atualizado
Compartilhar notícia
Enquanto diversos estabelecimentos seguem fechados no Distrito Federal para evitar grande concentração de pessoas, boa parte da população ainda se vê obrigada a enfrentar diariamente uma aglomeração voluntária, durante as viagens nos ônibus coletivos. Segundo o relatório “Como anda meu ônibus?”, 82,54% dos usuários do transporte urbano no DF afirmam não ser possível manter distanciamento dos outros passageiros.
Antes do novo lockdown, o estudante de direito Felipe Correia, 21 anos, sentia essa dificuldade diariamente ao utilizar o BRT de Santa Maria para chegar até a Rodoviária do Plano Piloto. “Eu pegava por volta de meio-dia e sempre estava lotado. Entre 11h e 14h, era algo impressionante. Todo ônibus que sai de lá está abarrotado”, comenta.
Segundo ele, não há controle do número de pessoas dentro do veículo, muito menos do uso de máscaras pelos passageiros. “O tanto de gente que couber é o que vai. No caso do BRT, tem um agravante: a gente não consegue abrir janela, então fica à mercê do ar-condicionado. Naqueles meses de maior calor, vi muita gente tirando a máscara”, revela o passageiro.
No começo do ano, Felipe chegou a gravar a entrada de passageiros no ônibus da capital.
Confira:
Lotados e sujos
Em horários de pico, como entre 5h e 8h, o resultado é ainda pior. Segundo o levantamento do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), 89% dos passageiros informaram que não conseguem manter o distanciamento.
“É um problema conhecido e apontado em outros relatórios do projeto Como Anda Meu Ônibus. E, por isso, havia como prever a gravidade disso diante do contexto que enfrentaríamos. Poderia ter havido um planejamento com medidas como controle de embarque, redimensionamento e reorganização da frota de acordo com a demanda nos horários de pico”, comenta a coordenadora Rebecca Cortes.
Outra reclamação apontada pelos usuários é quanto à limpeza dos ônibus. A maior quantidade de respostas avaliou como “regular” (36,11%) a higiene dos coletivos que circulam no DF. As avaliações “ruim” e “péssimo” somam quase 43% dos entrevistados.
“Nas respostas abertas, há relatos sobre a higiene dos ônibus no geral, com usuários relatando que os coletivos estavam sujos habitualmente e que não havia álcool em gel nos veículos para utilização: não havia previsão de que tivesse, mas notamos que era um desejo dos usuários”, destaca Rebecca.
Confira alguns dos resultados da pesquisa:
Vetor de contaminação
Para o professor Carlos Brescianini, pesquisador na área de mobilidade urbana, o correto seria não transportar pessoas em pé nos ônibus e evitar as aglomerações.
“É óbvio que do jeito que está hoje, o ônibus será um vetor de contaminação. O GDF deveria pedir às empresas de ônibus que disponibilizassem mais frota para levar só pessoas sentadas e, caso elas dissessem que não conseguem, só abrir [o sistema] para outras [empresas do setor]. Tenho certeza que ia chover de oferta”, afirma. Ele diz não entender o motivo de, até agora, nada ter sido feito para evitar que cenas de aglomeração nos ônibus ocorra.
“Uma pessoa contaminada que entre num ônibus fechado passa a mão no mesmo puxador, corrimão e roleta que todo mundo. Contamina várias pessoas de uma vez. Essa pandemia começou ano passado e não vai acabar mês que vem. É preciso que seja feito um investimento ou isso pode, no pior cenário, minar a eficácia das vacinas”, explica.
O que diz a Semob
Procurada, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que, desde o início do estado de calamidade no Brasil, em março de 2020, foram tomadas diversas medidas para evitar a propagação da Covid-19 no DF. “Uma das medidas foi a determinação para que as operadoras façam a higienização dos veículos do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF”.
Segundo a Semob, a higienização é feita “a cada intervalo entre as viagens. A pasta determinou aos operadores do sistema o reforço na higienização dos veículos, com o uso de desinfetante de Hipoclorito de Sódio – Cloro Ativo, nas partes internas dos ônibus, tais como corrimãos, barras de apoio de sustentação, roletas e apoios de porta. Durante as viagens, as janelas dos ônibus devem permanecer abertas. Além disso, todos os veículos são lavados ao final da operação, quando retornam à garagem”.
A Semob diz que “intensificou” a fiscalização da limpeza dos veículos e da obrigatoriedade do uso da máscara nos ônibus. “Em caso de descumprimento da determinação, os operadores estão sujeitos a multa de R$ 495, na primeira ocorrência, e de R$ 990, se houver reincidência”.
A secretaria garante ainda que não houve alteração na operação do transporte público coletivo do DF durante o período de lockdown. “O sistema continua operando com 100% da frota nas ruas. Cabe destacar também que as tabelas horárias de todas as linhas de ônibus foram mantidas”.
Por fim, a pasta pede para que o passageiro registre na Ouvidoria qualquer irregularidade na viagem, por meio do telefone 162 ou pelo site.