Desastres climáticos deram prejuízo de R$ 39 milhões ao DF em 10 anos
Imagens de desastres climáticos se tornaram cada vez mais comuns, sendo que as alterações no DF geraram cerca de R$ 39 milhões em prejuízos
atualizado
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Imagens de desastres climáticos se tornaram cada vez mais comum para os brasilienses. Nos últimos anos, passou a ser recorrente ver grandes enxurradas arrastando carros no centro de Brasília, alagamentos atingindo regiões mais pobres do Distrito Federal e os moradores passaram a lidar com os impactos de grandes secas, como a que aconteceu em 2017. Essas alterações ambientais custam um preço. Catástrofes vividas no DF geraram, pelo menos, R$ 39 milhões de prejuízos e deixaram mais de 24 mil pessoas feridas nas últimas décadas.
Os dados constam no Atlas de Desastres no Brasil, atualizado pela Defesa Civil Nacional e pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. A plataforma catalogou os registros de desastres ocorridos no território nacional entre os anos de 1991 e 2023. Foram analisadas todas as situações informadas pelos municípios no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD).
De acordo com o sistema nacional, os desastres climáticos que mais atingiram o DF incluem erosão de terra, alagamentos, vendavais, estiagem e seca. Além disso, há o aumento na transmissão de doenças infecciosas geradas por alterações ambientais. Os primeiros dados na capital federal foram registrados apenas em 2013 e indicam que 2,13 milhões de brasilienses foram minimamente afetadas pelas condições desde então.
O Atlas de Desastres no Brasil ainda revela que 24 pessoas perderam suas vidas em decorrência das alterações da natureza na capital federal. É importante ressaltar que existem outros óbitos ocorridas durante uma situação gerada pelas catástrofes naturais. A grande maioria desses casos não é contabilizada pelo sistema da Defesa Civil Nacional já que os desastres ambientais não causaram diretamente as mortes.
Em relação aos prejuízos, R$ 12,19 milhões foi público e outros R$ 27,27 milhões do setor privado. Foram R$ 2,49 milhões em danos materiais.
Michael Becker, mestre em engenharia ambiental e diretor executivo da Nature Invest, explica que há vários elementos que devem ser abordados para diminuir o risco das populações frente a desastres climáticos. “Os eventos extremos vão acontecer e serão o nosso dia a dia, já que não temos como escapar das mudanças climáticas”, diz o especialista.
De acordo com Becker, é importante saber que os desastres ambientais podem ocorrer em todo o país em diversas condições, mas as grandes cidades têm uma alta vulnerabilidade aos eventos, além de uma infraestrutura fragilizada. Todos esses fatores expõem, sobretudo, as populações mais pobres.
“A gente fala também de racismo ambiental dessa população, exatamente porque você tem para essas populações uma infraestrutura já enfraquecida, poucas reservas financeiras para se reerguer. A situação obviamente de habitação dessas pessoas também já é muito vulnerável”, afirma o engenheiro ambiental.
Seca de 2017
O painel de desastres ambiental indica que a seca ocorrida no DF em 2017 foi um dos principais tópicos de prejuízo financeiro e número de afetados. Houve prejuízo público de R$ 11 milhões no abastecimento de água, sendo que quase 2 milhões de pessoas tiveram suas vidas alteradas no período.
Em janeiro daquele ano, devido ao reduzido volume de chuvas nos meses anteriores e à escassez hídrica nos reservatórios, o governo de Brasília declarou situação de emergência no Distrito Federal por 180 dias. Um decreto definiu restrições do consumo de água potável tanto para utilização domiciliar quanto comercial, industrial e de lazer.
Também foi limitada a captação nos três principais córregos da Bacia Hidrográfica do Descoberto — Alto Descoberto, Ribeirão Rodeador e Ribeirão das Pedras — para qualquer uso que não seja o consumo humano.
A seca castigou a população e teve reflexo direto no nível dos reservatórios, que registraram novo recorde negativo. O reservatório do Descoberto chegou a ter marcas próximas de 10%, enquanto o de Santa Maria ficou perto de 25%.
Área de risco para desastres ambientais
No final do mês passado, a Casa Civil do governo federal produziu nota técnica para a atualização dos critérios e identificação dos municípios mais suscetíveis à ocorrência de desastres naturais, sobretudo deslizamentos e inundações. Os alertas de desastres elaborados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) são enviados imediatamente após suas emissões para as defesas civis dos municípios alertados, concomitantemente com o envio para um centro de gerenciamento de riscos.
“Como resultado, foram identificados 1.942 municípios como aqueles mais suscetíveis a ocorrências de desastres associados a movimento de massa, alagamentos, enxurradas e inundações, que representam 34,9% dos municípios brasileiros, 73,3% da população total, 68,8% dos registros de eventos, 100% dos óbitos, 96,5% dos desalojados/desabrigados e 99,5% das pessoas em áreas mapeadas frente aos riscos geo-hidrológicos”, informa a nota.
O relatório mostra que Brasília está em uma área de perigo para deslizamentos, enxurradas e inundações. São mais de 2 mil pessoas que vivem nas zonas de risco do DF. A situação é ainda pior para outros estados da região Centro-Oeste, que mantém a menor percentagem de registro de eventos e de pessoas expostas aos riscos. O estado do Mato Grosso (40) apresenta o maior número de municípios mais suscetíveis; no entanto, Mato Grosso do Sul tem a maior quantidade de pessoas mapeadas em áreas de riscos (25.092).
De acordo com o documento técnico, a urbanização rápida e muitas vezes desordenada, assim como a segregação socio-territorial, têm levado as populações mais carentes a ocuparem locais inadequados: “Essas áreas são habitadas, de forma geral, por comunidades de baixa renda e que têm poucos recursos para se adaptarem ou se recuperarem dos impactos desses eventos, tornando-as mais vulneráveis a tais processos”.
Planos contra mudanças climáticas
Michael Becker indica a importância das cidades realizarem planos contra mudanças climáticas e colocarem em prática as medidas: “Esses planos têm que ser agora atualizados e têm que ser não só atualizados, mas também implementados. Com eles, a gente estaria melhor preparado, cada região no seu contexto, […] cada cidade vai ter que olhar para o seu contexto e depois elaborar um programa realmente de adaptação”.
O Metrópoles questionou se a Secretaria de Meio Ambiente do DF (Sema-DF) possui algum planejamento contra mudanças climáticas e quais ações foram tomadas para evitar os prejuízos econômicos e humanos causados pelos desastres naturais. Não houve respostas até o fechamento desta reportagem.