Depoimento revelador aponta mudança em comportamento de vítimas de chacina
Segundo o namorado de Gabriela Belchior, a jovem e os pais dela já apresentavam comportamento estranho semanas antes de a chacina acontecer
atualizado
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Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o namorado de Gabriela Belchior (foto em destaque) – moça que integra o grupo de 10 familiares desaparecidos – disse que a jovem e os parentes dela já apresentavam “comportamento estranho” semanas antes de uma das maiores chacinas do DF acontecer.
O rapaz, que terá a identidade preservada nesta reportagem, relatou que, após ficar sem dar notícias durante dias, Gabriela teria mandado áudio em um aplicativo de mensagem, em 2 de janeiro, dizendo que ela e os pais “precisaram fugir”. Desde então, o jovem não conseguiu mais contatar a amada.
Em depoimento, o jovem disse manter relacionamento com a irmã de Thiago há dois anos. Durante esse período, Gabriela nunca deixou de responder mensagens e telefonemas: sempre informava seu paradeiro. Há três semanas, entretanto, o comportamento da namorada mudou. Segundo ele, a moça estava “diferente” e “estranha” desde 28 de dezembro. Na noite desta data, Gabriela mandou uma mensagem para ele, na qual informou que ela e a família viajaram de última hora para que o pai – Marcos Antônio, 54 – pudesse “fazer alguns exames”.
Sem mais explicações, a jovem, a mãe (Renata Belchior, 52) e o pai teriam sumido por mais dois dias. Em 31 de dezembro, véspera de Ano-Novo, Gabriela voltou a falar com o namorado e, por meio de uma mensagem de áudio, disse que retornaria para casa em 1º de janeiro. Desconfiado da história, o jovem, então, resolveu consultar um aplicativo de localização, que divide com a companheira, e verificou que o celular dela estava, na verdade, em Planaltina, ainda no Distrito Federal.
Sem entender o que estaria acontecendo, o rapaz mandou prints para Gabriela e passou a confrontá-la sobre sua verdadeira localização. Em 2 de janeiro, e após muita insistência, a garota teria dito que a família “precisou fugir”, devido a um problema em um “processo relacionado a um trator do pai”.
Renata, complementando a versão da filha, disse que “um amigo de Marcos foi quem os avisou que a polícia estaria atrás deles” e que, por isso, “precisaram ficar em um esconderijo onde o sinal de telefone era ruim”. Conforme relatou às autoridades, essa foi a última vez que o jovem conversou com a namorada e com os pais dela.
Preocupado, o rapaz, então, resolveu ir atrás de Thiago, irmão da namorada, que informou “não saber de nada” e, na mesma oportunidade, solicitou a entrega de documentos de Renata (mãe de Thiago e de Gabriela). A papelada teria ficado sob posse do jovem desde a noite de Natal.
Após combinarem a entrega, Thiago, na tentativa de encaminhar a conversa dos dois para um terceiro, equivocou-se e reencaminhou o diálogo ao próprio cunhado, com quem conversava. Ao perceber o erro, o marido de Elizamar apagou a mensagem imediatamente.
Em 11 de janeiro, após tentativas frustradas de falar com a namorada, o rapaz pediu para que Thiago combinasse um local para a devolução dos pertences de Renata. Thiago, então, enviou a localização da casa onde mora, em Santa Maria. A entrega não pôde ser feita, e esta, segundo o jovem, foi a última vez em que conseguiu falar com o cunhado.
O namorado de Gabriela disse a polícia que tentou encontrar a jovem ou os membros da família dela de diversas formas. Retornou, inclusive, à casa onde eles moravam. Não havia carros no local, mas ele observou colchões colocados sobre as janelas e móveis posicionados contra as portas. Diante dos fatos e de informações sobre o carro da namorada circulando pelas redes, o jovem procurou a delegacia para prestar depoimento.
O crime
Um dos presos por suspeita de participar da chacina da família da cabeleireira Elizamar da Silva, 39 anos, revelou, em depoimento, que vigiou a sogra (Renata) e a cunhada (Gabriela) dela em um cativeiro na cidade de Planaltina (DF) por duas semanas. Elas ficavam vendadas e amarradas, conforme relatado pelo criminoso.
O vendedor Fabrício Silva Canhedo, 34, disse à polícia, na terça-feira (17/1), que foi chamado por Gideon Batista, 55, outro preso, para que ajudasse no sequestro de Renata e Gabriela.
Gideon teria falado que o chefe do plano criminoso era Marcos Antônio Lopes de Oliveira, o sogro de Elizamar. De acordo com ele, Marcos pagaria R$ 100 mil pelo sequestro, e o dinheiro seria dividido entre os participantes do esquema.
Até a última atualização desta reportagem, cinco corpos das 10 pessoas desaparecidas foram identificados; são eles: de Elizamar e dos filhos – os gêmeos Rafael e Rafaela da Silva, 6 anos, e Gabriel da Silva, 7 –, bem como de Marcos Antônio. O último teria sido desmembrado e enterrado em uma cova improvisada no cativeiro onde pessoas da família foram mantidas sob cárcere.