Depoimento de Ana Priscila Azevedo na CPI decepciona a extrema direita
Convocada por deputada bolsonarista, Ana Priscila Azevedo chegou à CPI rodeada de boatos de que ela seria infiltrada nos protestos
atualizado
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Liderança atuante nos atos golpistas de 8 de Janeiro, Ana Priscila Azevedo prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), nessa quinta-feira (28/9). Convocada pela ala bolsonarista, ela chegou para depor em meio a boatos de que seria uma infiltrada da esquerda nos protestos violentos, mas acabou gerando uma grande decepção na extrema direita.
Ana Priscila está presa na Colmeia, o presídio feminino do Distrito Federal, e é apontada como uma das organizadoras dos atos golpistas, já que mantinha canais do Telegram com convocações para invasões e outras ações contra o resultado das urnas, enviando mensagens coordenadas a mais de 50 mil pessoas. Porém, como ela não foi presa logo após o 8 de Janeiro, a própria direita se virou contra a líder, a acusando de ser uma “infiltrada” que teria agido para imputar crimes aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Quando foi convocada para a CPI, a defesa da acusada chegou a dar uma declaração pública dizendo que ela “contaria toda a verdade” na Comissão. Blogs e grupos de extrema direita interpretaram que ela “entregaria” o “plano” de se infiltrar entre bolsonaristas para prejudicá-los. A tese de que Ana Priscila não seria conservadora chegou a ser tamanha ao ponto de a penitenciária precisar isolar a detida em uma solitária, para proteger sua integridade.
Quem convocou Ana Priscila para prestar esclarecimentos à CPI do DF foi Paula Belmonte (Cidadania), que já defendeu golpistas na Comissão. A deputada disse que os próprios pais estiveram no Quartel-General do Exército e tentou responsabilizar Flávio Dino e o governo Lula pelos atos do dia 8. Paula passou dois vídeos na sessão. Um de Ana criticando Bolsonaro e outro, retirado do TikTok, de bolsonaristas apontando que ela seria uma infiltrada quebrando o interior de um prédio da Praça dos Três Poderes.
A tese de Paula Belmonte, e de grande parte da direita, no entanto, foi rebatida pela própria golpista presa, que admitiu as críticas a Bolsonaro, mas contextualizou.
Assista:
“Esse vídeo está sendo veiculado como se fosse atual, mas é importante deixar claro que essas falas são de 2018, 2019. Na ocasião, veiculou-se uma matéria em que o Bolsonaro tinha dito que ele não era anticomunista e que o Hugo Chaves era uma esperança para a América Latina. Eu pensei que ele seria o infiltrado, estaria usando as Forças Armadas ali, o Exército Brasileiro.”
Ana Priscila continuou a fala defendendo o ex-presidente. “Os anos se passaram e eu entendi aquela fala do Bolsonaro, que era uma coisa do passado, que ele estava mesmo ali alinhado com o conservadorismo. E passei, inclusive, a amá-lo e a respeitá-lo como chefe de Estado, presidente da República”, afirmou.
Outros trechos
Atualmente presa, a depoente ainda avaliou que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi “inerte” no 8 de Janeiro. Segundo ela, a corporação “não fez absolutamente nada”.
“O que eu vi foi uma polícia inerte, que não fez absolutamente nada. Sou nascida e criada em Brasília e nunca vi a Praça dos Três Poderes desguarnecida. Não tinha contingente policial nenhum. Eu nunca vi isso na história, isso nunca aconteceu. A polícia não fez nada, estava inerte. As viaturas e os policiais estavam parados. O que eu vi foi um contingente ínfimo. Fui revistada em uma única barreira, simples, pouquíssimos policiais.”
Ana Priscila ainda questionou: “Cadê a tropa de choque, as barreiras de concreto, o contingente policial? A Força Nacional estava ali parada, inerte, no Ministério da Justiça”. Em nota, o ministério citado ressaltou que, em acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, a atuação da Força Nacional no dia 8 de Janeiro estava restrita às sedes do MJSP e da Polícia Federal.
“A Força Nacional só foi autorizada a atuar de forma completa após a intervenção federal”, pontuou a pasta. A golpista também jogou no Exército a culpa pela manutenção das manifestações golpistas em frente aos Quartéis-Generais.
“Os acampamentos ficaram montados há tanto tempo sem ninguém falar nada em sentido contrário. Por isso, ousamos pensar que éramos bem-vindos. Bastaria um soldado raso nos avisar que deveríamos sair e teríamos ido embora. Ao contrário, vários foram os chamados para que fosse mantida a mobilização popular”, disse, em depoimento inicial.
Ana Priscila mantinha canais no Telegram com mais de 50 mil participantes, incentivando invasões. Mensagens obtidas pelo Metrópoles mostram a movimentação violenta pelo golpe de Estado em grupos administrados pela mulher.
Os grupos mudavam constantemente de nome, eram excluídos por determinação judicial e retornavam à ativa, “do zero”. Neles, Ana instigava, e manifestantes de direita mandavam fotos de armas, ameaças e planejamentos para o 8 de Janeiro.
As mensagens mostravam claramente a intenção de invadir os prédios públicos, como acabou acontecendo naquela data, e a liderança da depoente desta quinta, que nega esse posto. Bolsonaristas escreveram: “Ana, mantenha-se escondida, você é peça-chave” e “Você é nossa heroína, luz, abriu nossos olhos e pintou nosso coração de verde-oliva”. Em outro momento, bradaram: “Já passou da hora de invadir os Três Poderes”, “Invade com caminhões, quebra tudo”.