Departamento da UnB se recusa a liberar estágio e revolta alunos
Estudantes das engenharia civil e ambiental estão tendo negados pedidos de assinatura de contratos se a atividade não for remota
atualizado
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Estudantes dos cursos de engenharias civil e ambiental da Universidade de Brasília (UnB) foram pegos de surpresa com uma decisão do departamento que gerencia os cursos: suspender a assinatura de contratos de estágio não-obrigatórios que sejam presenciais. A medida, segundo a diretoria, visa a segurança dos alunos em meio à pandemia da Covid-19.
Segundo texto disponibilizado nas redes sociais, essa suspensão deve ser mantida “até que a Câmara dos Cursos de Graduação da Faculdade de Tecnologia (CCG-FT) ou instâncias colegiadas superiores deem orientações pertinentes quanto às implicações de realização de atividades presenciais no que tange à segurança do aluno e possíveis implicações jurídicas que possam recair sobre as partes que assinam estes documentos durante o período da pandemia da SARS-COV-2 (Covid-19)”.
Para tomar essa decisão, o departamento se baseou em uma resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), da universidade, que dá autonomia a cada área para avaliar se deve ou não expor os alunos. Contratos em vigência não são afetados.
Confira a postagem nas redes sociais:
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Estudantes frustrados
A nota postada, no entanto, não foi bem recebida por alunos dos dois cursos e causou reação na internet. Uma estudante de engenharia civil comentou que precisa do dinheiro do estágio e lamentou a decisão. “Muito fácil decidir quem trabalha ou não quando se tem o salário todo mês na conta de vocês, né? Absurdo essa decisão. Quem precisa de trabalho fica sem nada por decisão de vocês”, protestou.
Outro aluno de engenharia civil lembrou que os estágios para a área de atuação não podem ser feitos de maneira remota pela demanda natural do trabalho. “A maioria dos estágios na área da eng. civil estão sendo presenciais, essa decisão não beneficia ninguém. Muito menos o estudante, que precisa trabalhar nessa época de crise”, explicou.
Um estudante lembrou as várias dificuldades que os alunos da UnB enfrentam para conseguir estágios. “Os alunos da UnB sempre foram deixados de lado nas entrevistas porque a nossa grade horária só permite estágio no período da tarde, quando permite. E agora vocês ainda querem tornar as coisas mais difíceis e pedir para que o aluno exija o home office. É óbvio que o empregador vai dar prioridade para outras faculdades, como de costume. Como querem que a gente seja formado pro mercado de trabalho dentro de casa?”, questiona.
O que diz a UnB
Procurado, o Decanato de Ensino de Graduação (DEG) da UnB disse que “o colegiado de cada curso tem autonomia para analisar e decidir sobre as atividades desenvolvidas em campo de estágio”. Considerando a Covid-19, o DEG diz que “essas atividades devem ser preferencialmente remotas. Entretanto, se a proposta em campo presencial oferecer condições seguras para o enfrentamento ao novo coronavírus, não existe impedimento para a realização do estágio, obrigatório ou extracurricular”.
Já a Faculdade de Engenharia Civil e Ambiental disse que a medida foi tomada ouvindo a opinião dos alunos, “representados pelos seus respectivos Centros Acadêmicos (CAs)”.
Segundo o departamento, está sendo feita uma avaliação para reduzir os possíveis impactos de formação para aqueles estudantes que perderem uma vaga, “embora considere que a proteção à vida supera de longe tais efeitos”.
Embora o posicionamento dos representantes discentes tenha sido ouvido e não atendido, o Centro Acadêmico de Engenharia Civil (CAENC) foi contrário a essa decisão que foi tomada em desfavor dos alunos, sendo o único voto contrário à decisão. “Inclusive, levamos a pauta para instâncias superiores da Universidade de Brasília, buscando formas de reverter essa decisão”, se manifestou o CAENC, por meio de nota.
Após a publicação da reportagem, os CAs dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia Ambiental informaram que não foram favoráveis a decisão. Os grupos que representam os estudantes disseram ainda que levaram a pauta para instâncias superiores da Universidade de Brasília, buscando formas de reverter a medida.