Demora em tratamento compromete movimentos de menino baleado por PM
Segundo a família, o garoto está internado há dois meses no HRT, mas o tratamento não avança e coloca em risco a recuperação do pequeno
atualizado
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“Eu estou com saudade de casa. Quero voltar a estudar, a jogar futebol. Quero ter minha vida”, desabafou Eric Oliveira dos Santos, 11 anos, vítima de um tiro disparado por um policial militar no Distrito Federal. O menino está internado há dois meses no Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
Segundo o família, a demora no tratamento compromete a recuperação do garoto baleado. Torcedor do Flamengo, Eric ama jogar futebol e nutre o sonho de se tornar atleta profissional de futebol. No entanto, sem o devido tratamento, o tiro na perna esquerda pode gerar sequelas para a vida toda.
Veja:
O menino não movimenta os dedos do pé esquerdo e só se locomove com auxílio de cadeira de rodas. Segundo a mãe do garoto, Rita de Cássia Siqueira dos Santos, 40, a família aguarda a avaliação de um neurocirurgião do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) para saber se o menino precisará ou não de uma nova cirurgia. No entanto, não há sinal de resposta.
“Tratam a gente como se fôssemos nada, lixo. Meu filho não aguenta mais. Já começou a sair feridas de estresse da boca dele. Tratam meu filho como se fosse um cachorro que levou um tiro na rua e foi largado. Meu filho quer a família dele, a casa dele”, afirmou Rita.
O adolescente sente saudade de brincar com os irmãos e de jogar futebol com os amigos. O garoto, inclusive, já participou de campeonatos. “Eu tenho medo. Ele está ficando com o vergonha dos amigos que estão jogando. Ele não aguenta mais. Com ou sem cirurgia, o menino ainda deverá precisar tratamento para se recuperar e voltar a andar.
Além da angustia da espera, a família teme possíveis sequelas. “A médica disse que os tendões da perna dele podem colar errado. Ela falou que meu filho provavelmente vai precisar da cirurgia para reconstituir os nervos. E quanto mais rápido, mais chances meu filho terá de andar normal. Tenho medo. O pé dele está caidinho”, completou.
De acordo com Rita, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) não prestou qualquer apoio direto para a recuperação de Eric. “Sobre a saúde do Eric, eles não apoiaram na recuperação. Nunca perguntaram se precisava de uma dipirona”, chorou.
O caso
Em 28 de dezembro de 2022, a equipe da PM procurava suspeitos de furto na QNE de Taguatinga, região em que o menino mora com a família.
O policial autor do disparo, Lucas de Azevedo Lopes, foi preso em flagrante. O militar foi liberado no dia seguinte, em audiência de custódia. A ação dos policiais foi gravada por uma câmera de segurança.
Na época do episódio, a PMDF afirmou que iria prestar apoio ao menino. Também informou que a Corregedoria instaurou procedimento para apurar a conduta do policial no caso.
Outro lado
A Secretaria de Saúde informou que o paciente permanece internado no HRT, acompanhado pelas equipes da pediatria e ortopedia da unidade.
No entanto, a pasta não apresentou argumentos para a demora no tratamento apontada pela família da criança e nem previsão de sequência nos atendimentos.
O Metrópoles também entrou em contato com o Instituto de Gestão Estratégica em Saúde (Iges-DF), responsável pela gestão do Hospital de Base. A instituição afirmou que o atendimento será prestado após pedido da rede.
“O Iges-DF informa que o atendimento ao parecer em neurocirurgia será agendado assim que o Hospital de Base for contactado pela equipe assistente pelos canais disponibilizados”, disse o instituto.
A PMDF também foi procurada, mas não havia se posicionado quanto ao caso até última atualização desta reportagem. O espaço permanece aberto para possíveis manifestações.