Delmasso: Aeroporto de Brasília foi porta de entrada para coronavírus
Vice-presidente da CLDF sugere que aeronaves vindas de países com casos de Covid-19 sejam desviadas para outros terminais
atualizado
Compartilhar notícia
Embora acredite que as medidas tomadas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) no combate ao novo coronavírus no Distrito Federal estejam sendo “acertadas”, o vice-presidente da Câmara Legislativa (CLDF), Rodrigo Delmasso (Republicanos), afirma que há um culpado pela proliferação da doença na capital do país: a Inframerica, empresa que administra o Aeroporto Internacional de Brasília.
Em entrevista ao Metrópoles o parlamentar disse que, se a concessionária tivesse se antecipado à chegada da nova enfermidade com o desvio dos voos internacionais para outros aeroportos brasileiros, a população local poderia ter sido poupada de toda a crise atual vivida em decorrência da pandemia.
“Esse vírus não entra de ônibus, pela rodoviária, nem pelo carro, nem a pé. Ele entra pelo aeroporto e chegou a Brasília por meio de pessoas que vieram de outros países e desembarcaram aqui”, afirmou Rodrigo Delmasso.
Na avaliação do parlamentar, “cabe não ao governador, mas ao representante da Inframerica que, no mínimo, tivesse respeito à população do Distrito Federal”. “Ao saber do primeiro caso no Brasil, ele deveria ter determinado o desvio de voos vindos da Europa e dos Estados Unidos para outro aeroporto”, disse.
Veja a íntegra da entrevista:
Segundo o distrital, as decisões do GDF para evitar a contaminação em massa não terão eficácia se o micro-organismo continuar chegando ao Distrito Federal pelo aeroporto. “Do que adianta ficar em casa se o vírus continua entrando, se a torneira está aberta? Não adianta nada enxugar o chão se a torneira está aberta”, afirmou Delmasso.
“O governador, dentro da sua competência, fez o que era necessário. Por isso, acho a atitude da Inframerica irresponsável. Ela não precisa de autorização de órgão algum. Por ser uma concessionária, pode solicitar à Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] que proíba o pouso e a decolagem de aeronaves que tenham como origem o exterior”, argumentou.
Até a noite dessa terça-feira (17/03), o número de casos confirmados de coronavírus no Distrito Federal havia subido para 26. Na manhã do mesmo dia, eram quatro casos a menos: 22.
Leia a entrevista:
Como a Câmara Legislativa pode ajudar a combater o novo coronavírus?
A Câmara Legislativa já aprovou, nesta semana, alguns projetos de lei. Entre eles, o que garante à população do DF o acesso ao álcool em gel e a máscaras a preços que não sejam exorbitantes. O governo nos mandou o texto para reduzir de 18% para 7% o ICMS sobre esses produtos.
Em sessão extraordinária, aprovamos isso em primeiro e segundo turnos. E hoje [terça] aprovamos um crédito orçamentário, de emenda dos deputados, para atender a compra de equipamentos e melhoria dos atendimentos com o objetivo de amparar a população que tiver infectada com o coronavírus.
Quando o consumidor sentirá no bolso essa redução?
Assim que a lei for sancionada pelo governador Ibaneis Rocha. Acredito que deve haver uma ação conjunta da sociedade, do governo e dos empresários a não aumentarem o preço desses insumos, até por que esse é o kit de sobrevivência para passar por todo esse processo.
Qual é a sua avaliação sobre as medidas adotadas pelo governador para combater a proliferação da doença?
São medidas acertadas e responsáveis, tomadas pelo governador para evitar a proliferação do vírus. Agora, temos que ficar atentos ao fato que esse vírus não entra de ônibus, pela rodoviária, nem pelo carro, nem a pé.
Ele entra pelo aeroporto e chegou a Brasília por meio de pessoas que vieram de outros países e desembarcaram aqui. Cabe não ao governador, mas ao representante da Inframerica que, no mínimo, tivesse respeito à população do Distrito Federal: ao saber do primeiro caso no Brasil, ele deveria ter determinado o desvio de voos vindos da Europa e dos Estados Unidos para outro aeroporto.
Eu responsabilizo, sim, a Inframerica, porque todos os casos existentes no DF entraram pelo Aeroporto Internacional de Brasília. Hoje [terça], o primeiro caso de transmissão local foi registrado. Todos os outros vieram de fora. Eu acredito que a Inframerica deveria ter desviado esses voos, porque foi uma irresponsabilidade isso ter acontecido a deus-dará.
Seria fácil identificar o paciente com os sintomas típicos da doença, mas e no caso de assintomáticos?
Não tem como identificar se a pessoa tem o vírus ou não. Por isso, acho que a Inframerica foi irresponsável. Não adianta colocar lá medidores de temperatura… Se esses voos não pararem de descer em Brasília, o governo vai fazer todo o esforço possível – como já está fazendo –, mas a doença vai continuar entrando.
Então, quero dar o exemplo da Rússia, que é vizinha da China [onde iniciou a doença], que tem mais de 80 mil casos e mais de 3 mil mortes. A Rússia, pelo que foi relatado até hoje, tem 63 casos e nenhuma morte. Qual foi a atitude do governo russo? Fechou as fronteiras com a China e com todos os países que tinham confirmação do vírus.
Ora, cabe sim a responsabilidade à Inframerica. Estou falando do Distrito Federal, mas todas as concessionárias de aeroportos deveriam se reunir e sugerir à Anac o fechamento dos aeroportos para voos internacionais.
Mas o próprio presidente Bolsonaro afirmou ser impossível o fechamento das fronteiras do Brasil, embora tenha fechado com a Venezuela…
Tudo é possível àquele que crê. Está mais que comprovado que esse vírus entra pelo avião, não entra com carros. Na Rússia, por exemplo, após a centésima confirmação de caso na China, foi determinado que todos os russos que estivessem na China ou em países com registros do coronavírus retornassem imediatamente. E, quando esses russos retornavam, todos eram submetidos a testes.
Aqueles com resultado positivo já eram direcionados para a quarentena. Não houve nenhum caso na Rússia de transmissão comunitária ou local. Todos os 63 casos foram importados de fora. Por que na Rússia deu certo? Ainda mais que lá o ambiente é favorável à proliferação do vírus, por ser mais frio… Por que lá deu certo e aqui no Brasil temos mais de 300 casos e nada foi feito?
O que mais me indigna é que enviamos um ofício solicitando à Inframerica que tivesse bom senso, que cancelasse ou desviasse os voos. E recebi como resposta que isso não poderia ocorrer porque, nos porões dessas aeronaves, chegam medicamentos e fármacos. Isso é uma mentira, vamos ser francos.
Os fármacos que chegam ao Brasil descem por Campinas (SP) e por Guarulhos (SP). Acho que a Inframerica precisa ser sincera com a população. Para mim, a principal porta de entrada desse vírus é o aeroporto. Por que eles não querem desviar esses voos? Porque a cada pouso ou decolagem no aeroporto eles ganham dinheiro. Até quando o dinheiro vai ser mais importante do que a vida das pessoas?
Mas quando o voo deixa de pousar em Brasília, ele vai para outro aeroporto e o passageiro reembarcaria para o DF. A doença não chegaria aqui de qualquer jeito?
Aí vem a segunda sugestão que eu dei ao governador Ibaneis – a Bolívia adotou isso: decretar a criação do que a gente chama de declaração sanitária. Os passageiros oriundos de países com registros da doença preencheriam essa declaração garantindo que ficariam em autoquarentena para que o governo monitorasse cada um deles. Mas eles não desceriam em Brasília.
Outra coisa: o que faz a transmissão é a [falta de] assepsia. A partir do momento que eles descem em Brasília e tocam em qualquer coisa, já contaminou. Eles podem descer em qualquer lugar do Brasil, mas fazendo a assepsia necessária, já diminui e muito o risco de contaminação por coronavírus. Na realidade, o que eu defendo é que todos os aeroportos tinham de ser fechados. Falo de Brasília porque sou deputado distrital, mas todos deveriam ser fechados.
Então não seria o caso de o presidente Bolsonaro se posicionar sobre isso?
Acredito que seria uma medida sensata da Presidência da República em fechar o espaço aéreo. Os Estados Unidos já fecharam, a Itália também. A Argentina fechou há pouco tempo… Acredito que o presidente Bolsonaro tem liderança o suficiente para convocar os brasileiros que estão em outros países a retornarem para o Brasil e todos, na chegada aqui, assinarem a declaração sanitária, com monitoramento da Polícia Federal.
Estamos passando por uma situação que nunca foi vivida no mundo por anos… É necessário ter medidas drásticas e duras. O que acontece na Itália não pode acontecer no Brasil. O número de mortes naquele país já ultrapassou o da China. Por quê? Por que, infelizmente, as autoridades italianas não souberam lidar com o problema. Agora que eles estão tomando as medidas necessárias, mas deixaram mais de 2 mil pessoas morrerem e eu não quero que isso aconteça no meu país.
Mas na atual situação do DF, com 26 casos já confirmados e mais de 300 investigados, o fechamento do aeroporto ainda poderia ser eficaz?
Eu acredito que sim. O vírus pode estar circulando, mas se você deixar o aeroporto aberto, ele vai continuar entrando. O governador tomou a medida certa ao solicitar o isolamento das pessoas para evitar a contaminação. Mas o que adianta ficar em casa se o vírus continua entrando, se a torneira está aberta? Não adianta nada enxugar o chão se a torneira está aberta. O governador, dentro da sua competência, fez o que era necessário. Por isso, acho a atitude da Inframerica irresponsável. Ela não precisa de autorização de órgão algum. Por ser uma concessionária, ela pode solicitar à Anac que proíba o pouso e a decolagem de aeronaves que tenham como origem o exterior.
Mas se a Inframerica já negou seu pedido, o que mais poderia ser feito?
Infelizmente, nada. Eu diria que me sinto frustrado. Estou de mãos atadas. Esperava que quem dirige a Inframerica em Brasília tivesse o mínimo de sensatez. O que pode ser feito agora é a pressão popular. É a sociedade do DF que tem de agir pedindo nas redes sociais da Inframerica para que a empresa faça um monitoramento severo das aeronaves que chegam de fora. Agora, volto repetir: eu atribuí a responsabilidade disso à Inframerica.