Delegado ignora depoimento e Justiça solta mãe suspeita de matar filha
Delegado Wolney Nascimento Lopes não adicionou no processo um depoimento onde a mãe da criança acusa o ex-companheiro do crime
atualizado
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Quase dois anos após ser presa por confessar o assassinato da própria filha de 2 anos, Laryssa Yasmin Pires de Moraes teve liberdade provisória concedida graças a uma mudança de rumos no caso. Segundo a Justiça do Distrito Federal, o delegado que conduziu a investigação não incluiu no inquérito policial uma declaração da acusada em que ela afirma não ser a responsável pelo crime.
A decisão foi proferida pela Vara Criminal e do Tribunal do Júri de Águas Claras. Conforme constam nos autos do processo, há um termo de declaração de Laryssa, feito ainda quando a ocorrência foi registrada na 12ª DP, onde ela relata que estava dormindo quando o crime ocorreu. Esta versão nunca foi apresentada ao Ministério Público ou ao Tribunal.
De acordo com este depoimento, o pai da menina, Giuvan Felix Araújo Costa, “teria usado a faca pequena e bem afiada, marca CORTEX, para furar a criança”. Laryssa narra ter reagido com raiva ao perceber o que havia ocorrido e usou uma outra faca para cortar o rosto do ex-companheiro.
Ao ser ferido, Giuvan teria dito: “Ótimo!”, como se comemorasse um possível álibi para não ser incriminado. Ele ainda teria pedido para que os dois combinassem de dizer que um ladrão tinha invadido a casa, mas Laryssa afirmou que “ficou calada e não conseguiu argumentar”. Da mesma forma, ela teria reagido quando foi acusada em frente à equipe de socorristas que era a responsável pelo assassinato e acabou confessando.
Esta versão estava na ocorrência registrada pela 12ªDP, mas não foi juntada ao inquérito policial finalizado pela 38ª DP. Segundo o juiz que analisou o caso, a culpa é do delegado Wolney Nascimento Lopes.
“Diante do exposto, resta evidenciado que o delegado quando deixa de incluir no corpo do caderno inquisitorial o Termo de Declaração, portanto, suprimindo tais informações do conhecimento do Juízo e do Ministério Público, acaba por comprometer a formação da opinio delicti e, assim, interferindo no direcionamento a ser dado na persecução penal”, diz a sentença.
Por este motivo ele encaminhou a situação para a Corregedoria da Polícia Civil do DF (PCDF) para que seja apurada “qual a intenção da autoridade policial” pois, ao agir dessa forma, ele acabou “por ensejar o arquivamento da investigação em relação ao pai de Júlia Félix”.
Diante das novas informações, foi realizado um novo laudo de perícia criminal que concluiu “que ambas as versões apresentadas (de Giuvan e de Laryssa) são parcialmente viáveis”. O laudo destaca também que há inconsistências no depoimento tanto do pai quanto da mãe.
Desta forma, o juiz entendeu não haver elementos suficientes que justificassem a manutenção da prisão de Laryssa e concedeu liberdade provisória a ela sob a condição de utilizar tornozeleira eletrônica.
A reportagem entrou em contato com a PCDF, o delegado Wolney e Giuvan, o pai da criança, mas não obteve resposta até a publicação da matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
Relembre o caso
O crime ocorreu por volta das 5h na Chácara 148 da Colônia Agrícola Samambaia, em 13 de fevereiro de 2020. Testemunhas contaram que, ao entrarem no apartamento onde o casal morava com a criança, Giuvan estava cheio de sangue e apontou Laryssa como responsável pela morte da menina. A mulher, por sua vez, estava acuada no canto do imóvel.
Quando os militares chegaram ao local, a mulher estava ao lado do corpo da criança e não resistiu à prisão. Ela teria inclusive levantado o braço quando perguntaram quem tinha assassinado a criança, assumindo a autoria do crime.