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Delator da Andrade cita irmão de Reguffe em esquema de propina no Mané

O nome de Marcelo Reguffe aparece no relatório final da Polícia Federal sobre o esquema de desvios nas obras do Mané Garrincha

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Mané Garrincha
1 de 1 Mané Garrincha - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Depois da primeira fase de indiciamentos da Operação Panatenaico, integrantes do segundo escalão do governo e pessoas fora do circuito político entraram no alvo da Polícia Federal. E um nome mencionado por delator da Andrade Gutierrez chamou atenção dos investigadores. Trata-se do engenheiro Marcelo Reguffe, irmão do senador José Antônio Reguffe (sem partido-DF).

Marcelo é citado no relatório final da PF em que 21 pessoas foram indiciadas. No entanto, ele não está na lista. Formalmente, não foi objeto de investigação nessa primeira fase da Panatenaico.

Segundo depoimento do delator Roberto Xavier Júnior, ex-engenheiro da Andrade Gutierrez, na época da construção do estádio, o então superintendente operacional da AG no Centro-Oeste, Marcus Vinícius Dutra Moresi, o informou que “havia um compromisso de pagamento de propina” de 3% para o então governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), e de 1% para o vice, Tadeu Filippelli (PMDB).

Ainda de acordo com o relatório elaborado pela PF, Marcos Vinícius “ficou [no cargo] por um pequeno período e foi substituído por João Marcos de Almeida da Fonseca”. Segundo o documento, em certa ocasião, Fonseca disse a Xavier que “a partir de 2011” houve a necessidade de “geração de dinheiro” para os repasses irregulares.

Projetoconcreto.org/Divulgação
Marcelo Reguffe

O delator conta que um representante da Via Engenharia chamado Dagoberto Rodrigues indicou a Concrecon “para auxiliar nesse processo de recebimento de dinheiro”. Segundo o documento da Polícia Federal, foi então que houve “uma reunião com os representantes da Concrecon, Paulo Borges e Marcelo Reguffe”. Borges era o proprietário da empresa e Marcelo, diretor.

Ainda de acordo com Xavier, que está na lista de indiciados da PF, Paulo Borges e Marcelo Reguffe teriam participado de “uma reunião na qual ficou estabelecido que a CCN, que faz parte do grupo Concrecon, iria firmar contrato com o Consórcio Brasília 2014, visando auxiliar na geração desses valores para pagamento de propina”.

Segundo o depoimento do delator, a empresa da qual Marcelo Reguffe era diretor forneceu concreto para as obras do Mané Garrincha “no valor de aproximadamente R$ 30 milhões”. Ele relata que seria firmado um contrato fictício com a CCN, de R$ 4 milhões, para a elaboração de traços de concreto.

Questionado sobre a execução do objeto desse contrato, [Xavier] respondeu que a elaboração do real traço de concreto não foi feita pela CCN, e sim pela empresa Holanda Engenharia. Logo, o contrato foi firmado para geração de valores para pagamento de propina

Trecho do inquérito da PF

Xavier apresentou aos policiais uma nota referente a um dos supostos contratos fictícios em que a CCN teria recebido o dinheiro e devolvido para a Andrade Gutierrez fazer o repasse da propina.

Hoje, Xavier, que integrou o grupo formado pela Andrade e pela Via Engenharia para a confecção do edital do Mané Garrincha, é um dos delatores do acordo de leniência firmado entre a empreiteira e o Ministério Público Federal (MPF).

Embora o nome de Marcelo Reguffe tenha aparecido no relatório, não há nenhuma menção ao senador José Antônio Reguffe no documento. O parlamentar sempre se posicionou publicamente contra a construção do Estádio Mané Garrincha, assim como foi crítico, na época em que era deputado federal, do Regime Diferenciado de Contratação para a Copa do Mundo, que conferiu uma série de incentivos às empresas envolvidas no torneio. Tampouco apoiou Agnelo Queiroz (PT) nas eleições.

Nova fase
Desde a conclusão do relatório final da Panatenaico, iniciou-se uma nova fase das apurações. Na primeira etapa, Agnelo, Filippelli e o ex-governador José Roberto Arruda chegaram a ser presos. A PF encontrou indícios contra os três políticos e outras 18 pessoas, entre ex-gestores, advogados e empresários de alguma forma vinculados à construção do estádio. A Polícia Federal aponta um superfaturamento estimado de R$ 559 milhões na obra.

Agora o olhar dos investigadores está voltado para uma série de outros nomes. Alguns deles integraram ou ainda fazem parte do segundo escalão do organograma do GDF. Também há empresários e executivos que fizeram negócio com o consórcio responsável pela construção do Mané.

É nesse contexto que Marcelo Reguffe e outros nomes citados pelos delator Xavier podem ou não ser alvos de uma apuração mais cuidadosa da PF e do Ministério Público Federal.

 

Outro lado
Metrópoles entrou em contato com a Concrecon, mas não conseguiu falar com algum responsável pela empresa. Até a última atualização desta reportagem, Marcelo Reguffe não havia sido localizado para comentar o assunto. A Via Engenharia e a defesa de Agnelo Queiroz também não haviam se pronunciado.

A defesa de Filippelli informou que não falaria sobre as acusações de pagamento de propina ao ex-vice-governador porque não teve acesso ao relatório final da operação. Em nota, a Andrade Gutierrez informou que “segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o MPF e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado”.

Panatenaico
O nome da operação é uma referência ao Stadium Panatenaico, sede dos jogos panatenaicos, competições realizadas na Grécia Antiga, anteriores às Olimpíadas. A história dessa arena utilizada para a prática de esportes pelos helênicos, tida como uma das mais antigas do mundo.

A construção foi toda remodelada em mármore por Arconte Licurgo, em 329 a.C., e ampliada e renovada por Herodes Ático, no ano 140 d.C., com capacidade para 50 mil assentos.

Os restos da antiga estrutura foram escavados e restaurados com fundos proporcionados para o renascimento dos Jogos Olímpicos. O estádio foi renovado pela segunda vez em 1895, para as Olimpíadas de 1896.

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