“Deixa os melancias se virar”: no STF, PM explica frase sobre Exército
PM réu pelo 8/1 prestou depoimento no STF e precisou se explicar por conversa com coronel chamando Exército de “melancias”. Entenda
atualizado
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A Procuradoria-Geral da República (PGR) questionou, nessa segunda-feira (20/5), quatro dos sete policiais militares do Distrito Federal denunciados por supostas omissões relacionadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. O grupo, que já é réu, presta depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) de forma virtual. Na oitiva do coronel Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR), a PGR quis saber o que ele e Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações, queriam dizer ao chamar o Exército de “melancia”.
A conversa entre os dois coronéis, anexada na denúncia da Procuradoria-Geral, aconteceu em 2 de novembro de 2022, dias após a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais. Casimiro alertou Naime de que o movimentado havia aumentado consideravelmente em frente ao Quartel-General do Exército, e enviou vídeos do local, segundo a PGR, “demonstrando excitação com a lotação”.
Naime, então, enviou: “Deixa os melancia se virar”. Casimiro respondeu: “Sim”. O termo “melancia” estava sendo usado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) como crítica às Forças Armadas, fazendo alusão à casca verde, cor da farda, com parte interna vermelha, pois eles seriam “de esquerda” por dentro. Casimiro foi questionado sobre o que significaria dizer “deixa os melancia se virar”, mas se esquivou.
“Não sei o que ele quis dizer com essa mensagem”, disse o coronel Casimiro para o representante da PGR, apesar de ter respondido positivamente, na época. Em outro momento do depoimento ele voltou a ter que se explicar sobre mensagens interpretadas pela Procuradoria-Geral como políticas.
“Intervenção com Bolsonaro”
Também depois da vitória de Lula, ele mandou para o então comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Fábio Augusto, uma mensagem com um quadro “explicativo” sobre três alternativas contra a posse do petista: uma suposta aplicação do art. 142 da Constituição Federal, uma “intervenção militar” e uma “intervenção federal” com Jair Bolsonaro “no Poder”.
Logo em seguida, ele deu uma opinião sobre o quadro: “Não sei se procede esse entendimento, mas é interessante a explicação”. Ao STF, ele se defendeu. “O que eu compartilhava de mensagem, como essas da denúncia, era no sentido de dar orientação estratégica. A gente precisava saber o que acontecia nas redes sociais. Eu até coloco: ‘Não sei se procede’. […] Tinham muita fake news. Mandei para falar: ‘Olha, está acontecendo isso aqui’.”
Também foi destaque dos depoimentos o embate entre teses de defesas de Casimiro e Paulo José, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro. Ambos discutem, principalmente, a responsabilidade pelo planejamento da PMDF para conter as manifestações violentas. Paulo já chegou a dizer, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara do DF, que Casimiro merecia o “troféu Pinóquio”, de “cara de pau do ano”.
Ontem os dois estiveram na mesma sala de audiência virtual e discutiram atribuições. Paulo José mostrou documentos internos da PMDF que estabelecem padrões para manifestações. Segundo ele, o DOP organizava grandes eventos, mas os órgãos competentes não passaram informações suficientes para que o ato bolsonarista fosse se encaixasse no critério.
“O Protocolo de Ações Integradas [PAI] não tem nem classificação de risco, estimativa de público… Ele pede 40 gradis simples, até. Ou seja, tudo dava conta de que seria manifestação muito pacífica, muito tranquila. Era um grande evento até aquele dia [6/1]? As informações que a gente tinha davam conta disso? Não. O Casimiro, por exemplo, nunca falou que não teria capacidade operacional para lidar com aquelas manifestações.”
A reunião em que foi confeccionado o PAI, na Secretaria de Segurança Pública (SSP), contou com a presença de Casimiro. Paulo estava em uma reunião do alto comando da PM, com Fábio, naquele dia.
O então chefe do 1º Comando de Policiamento Regional rebateu. “Não faço parte do alto comando. Como eu vou fazer planejamento se não dou ordem para outros comandos? No nível do 1º CPR, eu não tenho as mesmas informações que o DOP tem”, alegou.
Ao Metrópoles, advogados de defesa de ambos se manifestaram. Veja as notas completas:
Defesa de Casimiro, feita pelos advogados Mário de Almeida Costa Neto e Danillo de Oliveira Souza
“O coronel Casimiro prestou declaração em juízo afirmando que não houve omissão, que o cenário mudou muito de sexta-feira para sábado e de sábado para domingo, dia 8/1. Não era comandante da operação no dia, já que envolvia vários comandos regionais de policiamento da PMDF, não recebeu nenhum relatório de inteligência e que as mensagens não eram de cunho ideológico, e sim visando ficar atento para decorrências operacionais que as mensagens, em forma de alerta, poderiam representar para a PMDF. Declarou que tinham muitas fake news, que isso atrapalhou a corporação, e que as mensagens compartilhadas estavam viralizadas nas redes sociais e não foram passadas a seus subordinados. Foi ferido, comandou as prisões dentro do Palacio do Planalto, ao todo, 180 prisões no local. Em toda operação no dia, foram por volta de 400 prisões. Foi apresentado um vídeo do coronel contendo invasores no Palácio do Planalto. Casimiro era o policial que diz aos criminosos “acabou a brincadeira”, coordenando as prisões.”
Defesa de Paulo José, representado pelos advogados Nilson José Franco Júnior, Alexandre Peralta Collares e Claudia Cozer, do escritório Franco Júnior Advogados
“O depoimento de Paulo José foi extremamente esclarecedor, demonstrando que, de fato, o planejamento pertencia ao 1º CPR, sendo a operação, no dia 8 de janeiro, comandada pelo comandante-geral da PMDF, que se fez presente no terreno. Contudo, restou demonstrado ainda que o maior erro fora cometido pela Secretaria de Segurança Pública do DF, que não classificou o risco do evento no Protocolo de Ações Integradas, e, portanto, não foram transmitidas todas as informações necessárias à PMDF. Ainda restou esclarecido que a SSP/DF, através Subsecretaria de Operações Integradas, não difundiu à PMDF importante relatório de inteligência produzido no dia 6 de janeiro, que poderia ter alterado todo o planejamento e, consequentemente, os resultados dos atos do dia 8 de janeiro. Desta forma, aguarda-se um desfecho positivo, com a consequente absolvição do Coronel Paulo José.”
O julgamento
São sete policiais militares réus pelo 8 de Janeiro prestando depoimento nestes últimos dias. As audiências dos oficiais devem terminar nesta terça-feira (20/5), com a oitiva de Jorge Eduardo Naime e Flávio Silvestre de Alencar. Os cinco PMs ouvidos já somam mais de 15 horas de depoimentos. Veja aqui como foi a audiência do ex-comandante Fábio Augusto Vieira e aqui detalhes da sessão com o também ex-comandante Klepter Rosa Gonçalves.
Veja quem são os réus denunciados:
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF);
- Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante;
- Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
- Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro;
- Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
- Rafael Pereira Martins, chefe de um dos destacamentos do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data;
- Flávio Silvestre de Alencar, major que chegou a ser preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) no âmbito das investigações sobre supostas omissões;