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“Deixa de historinha, de conto de fada”, diz promotor a Odebrecht

Sérgio Bruno Cabral Fernandes, do Ministério Público local, perdeu a paciência durante depoimento do empresário Emílio Odebrecht

atualizado

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1 de 1 sérgio bruno - Foto: Reprodução/Internet

Durante a delação de Emílio Odebrecht, após horas de interrogatório, o promotor de Justiça Sérgio Bruno Cabral Fernandes, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), perdeu a paciência com a naturalidade do empresário em falar sobre tanta corrupção. Emílio comentava que, em seis anos, a conta que a construtora fez para financiar campanhas eleitorais movimentou R$ 300 milhões, mas que não sabia detalhes sobre o uso do dinheiro. “Vamos, agora, deixar de historinha, de conto de fada, e falar as coisas como elas são. Está na hora da gente dizer a verdade, de como a coisa suja é feita”, disparou o promotor.

Segundo reportagem de O Globo, Emílio Odebrecht teria citado que os pagamentos eram negociados com os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci. “Não é possível que um ministro da Fazenda fique pedindo todo mês a um empresário. Isso não é admissível. Por mais que a gente esteja acostumado, não é o correto, e o senhor sabe disso”, complementou Sérgio Bruno.

No MPDFT, Sérgio Bruno Fernandes esteve à frente do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). E foi ligado diretamente às investigações que culminaram na Operação Caixa de Pandora, em 2009.

No início do depoimento, o empresário estava sorrindo, como se estivesse jogando conversa fora com um conhecido na mesa de um bar. Ao fim, concordou com o discurso indignado do promotor. “São R$ 300 milhões que foram gastos sei lá com o que, seja com campanha, com santinho, com tempo de televisão, com marqueteiro, que podia ter sido construído escola, hospital e todo esse Brasil que o senhor sonha e quer viver. Esse dinheiro poderia estar lá”, ressaltou Sérgio Bruno.

O promotor alertou para o fato de que não se pode disfarçar pagamento de propina de doação de campanha, para parecer um crime menor. “Essa história de doação de campanha é uma desculpa para pedir propina em corrupção. Não é possível que 300 milhões de reais pagos ao longo de 6 anos seja doação de campanha. Isso aqui, na nossa visão, é considerado propina, crime de corrupção”, concluiu.

Em seguida, Sérgio Bruno fez questão de deixar as coisas mais claras quando o delator disse que não pagou os valores, mas autorizou que a “ajuda” fosse concedida ao PT. “Essa ajuda se chama propina, para o senhor saber. Se um guarda de trânsito parar o carro do senhor e pedir ajuda, o senhor vai achar que isso é ajuda? Ou vai achar que isso é uma propina? É correto isso?”, questionou o promotor. Emílio, então, concordou que não era correto. Mas disse que costumava fazer esse tipo de pagamento para burlar a burocracia que existe no Brasil e impede o avanço das atividades econômicas.

Em determinado ponto da conversa, o empresário afirmou que estava se sentindo injustiçado, porque a prática era generalizada e só ele estava enfrentando a Justiça. “Não se trata de injustiça, o senhor tem bastante sorte de estar aqui. Porque quem não vislumbrou essa janela de oportunidade não vai estar sentado aqui. Vai estar amanhã onde o Marcelo (Odebrecht) está hoje, e por muito tempo. O senhor não se preocupe com os outros. É generalizado, e a gente está fazendo o máximo possível”, explicou Sérgio Bruno.

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