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Defesa: investigado em morte de Natália não deu sinal de agressividade

Defensor público André Praxedes, que defende o jovem, falou sobre os depoimentos prestados pelas testemunhas à Polícia Civil

atualizado

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1 de 1 Natália5 - Foto: Reprodução

Após a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) liberar o inquérito com depoimentos das pessoas que estiveram com a universitária Natália Ribeiro dos Santos Costa, 19 anos, no dia da morte dela, em 31 de março, no Lago Paranoá, os advogados da família da vítima e do último jovem a vê-la se pronunciaram. Nesta quarta-feira (10/4), o defensor público André Praxedes, que acompanha o caso a pedido da família do rapaz, falou sobre as investigações.

Segundo o defensor, é preciso destacar que quase todas as pessoas que estavam no churrasco foram uníssonas em afirmar o estado de embriaguez do garoto de 19 anos. “Disseram que ele era o mais alterado, mas o mais importante é que ninguém, nem mesmo as amigas da Natália, afirmaram que ele apresentava sinais de agressividade”, disse.

Praxedes disse que a tentativa de imputar ao jovem um caso de feminicídio é um “verdadeiro despautério”. “Para que cogitemos homicídio culposo é preciso que configure uma ação praticada por ele. No depoimento e nas imagens, não há nenhum indício de uma ação dele contra o corpo dessa moça. É algo que descartamos.”

Sobre os ferimentos no corpo da Natália, ele alegou que ele ficou muito tempo submerso. “Pode ter sido alvo de ação de insetos, mamíferos e peixes que habitam o Lago Paranoá”.

Outro ponto abordado pelo defensor público, é sobre a impossibilidade do rapaz em pedir uma ajuda efetiva para a menina. “Ele estava em um processo de muita afetação pelo álcool, com confusão mental e deficiência na coordenação motora”, abordou.

O advogado também pontuou a situação da vítima no momento do afogamento, de acordo com os depoimentos. “Foi dito que a Natália já vinha ‘virada’ desde quinta-feira (28/3). No sábado (30) à tarde, gravaram um clipe de funk, à noite foram a uma festa de música eletrônica, onde foi dito que usaram ecstasy.”

“Em um dos depoimentos, é dito que Natália tinha muita vontade de entrar no lago para tirar a ressaca dela. Uma das amigas diz que já a viu muitas vezes muito louca e que isso pode ter ajudado no que aconteceu”, disse o defensor.

Exame
Questionado, Praxedes disse que o rapaz não fez exame toxicológico para identificar outras substâncias. Segundo ele, não houve necessidade. “Todos sabem que ele estava alcoolizado. O que estamos ressaltando é o fato de Natália estar em festas desde quinta, pois mostra a possibilidade de ela ter submergido sozinha.”

No entanto, ele não soube responder sobre o paradeiro do jovem. A defesa da universitária alega que ele teria deixado a cidade. “Eu não tenho informação segura se ele está no DF. É uma decisão da família e eu não sei. O que é importante é que na hora que ele for chamado para depor, irá.”

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Depoimentos
De acordo com o inquérito, uma das testemunhas ouvidas pela PCDF disse que o rapaz investigado teria flertado com a estudante momentos antes de os dois entrarem no Lago Paranoá. Amiga da vítima desde 2015, a jovem contou que, em determinado momento no churrasco no Clube Almirante Alexandrino, o rapaz deitou no chão e aparentava “estar dormindo”.

Natália, ainda de acordo com o depoimento, então, “jogou um copo de bebida nele” e teria dito: “Acorda que você está ficando muito louco, está passando vergonha”. Em seguida, o rapaz teria elogiado a jovem de 19 anos. “Você é muito linda, muito gostosa, quero ficar com você. Quero comer seu c.” Após o flerte, a universitária respondeu, segundo a testemunha: “Me respeita, você está ficando louco”.

No entanto, a jovem ouvida pelos agentes da 5ª Delegacia de Polícia (área central), responsável pela investigação do caso, disse que a conversa entre os dois tratava-se de “uma brincadeira”. “Foi quando ele se sentou do balanço (do parquinho) e Natália ficou no colo dele. Logo em seguida, os dois caíram, saíram e começaram a correr. Desceram rumo ao lago e depois saíram do campo de visão”, acrescentou.

Ainda aos policiais, a amiga disse ter sido informada de que o clube estava fechando e o grupo decidiu ir embora. Segundo a testemunha, ela e outra amiga da universitária subiram “gritando, chamando a vítima”. Como acreditavam que Natália estava ficando com o garoto, resolveram esperá-la no portão. Cerca de quatro minutos depois, ele (o suspeito) apareceu carregado por dois amigos, ressaltou.

Elas teriam voltado ao clube com dois seguranças para procurar a vítima. No entanto, uma das amigas afirmou ter recebido uma ligação na qual alguém dizia que Natália teria sido vista no Subway, para onde seguiu o suspeito de 19 anos, morador da Asa Norte, depois da festa. Segundo a testemunha, a estudante “tinha o costume de abandonar as amigas na festa” e “como a vítima não apareceu, foram embora”.

Ingestão de álcool
Uma outra amiga da universitária também foi ouvida pela 5ª DP. Ela disse que conhecia a jovem há quase um ano e que costumavam sair juntas praticamente todos os finais de semana. Na festa, de acordo com a testemunha, a garota teria ingerido “bebidas alcoólicas, como vodca e suco de saquinho (gummy), além de cerveja, mas não fizeram o uso de drogas”.

No entanto, a advogada da família, Juliana Zappalá Porcaro Bisol, destacou que os depoimentos dados à Polícia Civil são contraditórios. “Uma testemunha diz que Natália estava bêbada e outro, que não. Mas aí entra a questão do que é estar bêbado, pois seria normal estar num churrasco e beber”, alegou. Em outro ponto, uma das amigas da universitária afirmou que a vítima não sabia nadar. “Ela disse isso, mas não tem consistência. Já separamos vídeos para provar que Natália sabia.”

Para a advogada, o áudio (ouça abaixo) enviado pela garota à mãe momentos antes da morte atesta a versão da defesa. Na gravação, com duração de oito segundos, ela se mostra preocupada com a mãe: “Mãe, que foi? A senhora está passando mal?”.

“Incoerências”
A defesa criticou ainda os depoimentos divergentes do suspeito e disse que há “incoerências” no relato. Após ter acesso ao inquérito sobre a morte da universitária, a advogada da família destacou, em coletiva de imprensa realizada nessa terça (9), alguns pontos da investigação. Segundo ela, o depoimento da namorada do rapaz suspeito de ter envolvimento com a vítima apresentou inconsistências no caso.

“Ela disse que o garoto estava com a fala enrolada e repetia o tempo inteiro que a menina estava no lago, mas todos ficaram rindo dele”, apontou. Para a advogada, não faz sentido ele ter avisado sobre o afogamento e todos ignorarem o fato.

De acordo com o depoimento da namorada do rapaz, último a ver Natália com vida, o jovem não é muito forte para bebidas e, no dia da festa, havia ingerido vodca, “o que o deixou muito doido”. Segundo disse, ele não conseguia sequer ficar em pé.

Ela ainda disse à polícia que saiu com uma amiga para buscar mais bebida. Nesse momento, os fatos no lago teriam acontecido. “Ela disse que, quando voltou, ele já estava deitado em um parquinho.”

Críticas
Juliana também reclamou da investigação. Há problemas de organização no inquérito, segundo ela, que disse não entender o motivo de falhas como falta de numeração, assinaturas e de termos de depoimento. Ela reclamou, ainda, da demora em avançar nas hipóteses da causa da morte. “Por enquanto, só se sabe que foi afogamento. Só que ela estava com corte no lábio, nariz quebrado, olho roxo e arranhão no rosto. Acho muito difícil ter sido algo natural”, pondera.

A advogada disse que vai entrar com uma reclamação na Corregedoria pelo o que considerou ser “descaso” no processo. Ainda questionou os rumos da investigação. “Pediram para ir à casa da Natália hoje e não vejo motivo. Enquanto olham isso, não se sabe nem se o rapaz está no DF”, concluiu. A defesa do jovem disse que vai se manifestar em entrevista coletiva nesta quarta (10).

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