De uniforme a vestidos de gala, candidatas do Miss Gari realizam sonho
A terça-feira (16/5) foi um dia de princesa para as 30 mulheres que experimentaram os vestidos destinados ao concurso
atualizado
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É a primeira vez que Quedma Paula, 24 anos, tem a oportunidade de deixar o uniforme verde e laranja de lado para experimentar vestidos de gala cheios de brilho e glamour. Há três anos ela tenta ser uma das escolhidas para concorrer ao título de Miss Gari DF e, desta vez, o sonho se realizou. Quedma está entre as 30 selecionadas para a 3ª edição do concurso que ocorrerá no próximo sábado (20/5), a partir das 19h30, no TaguaParque.
A edição 2017 contou com 200 inscritas de todo o Distrito Federal. Nesta terça-feira (16/5), as candidatas experimentaram os vestidos que usarão no grande dia. Apesar de a semana que antecede o desfile ser de muita correria, Quedma conta que vive momentos de diva.
Nunca tive a autoestima tão elevada. Eu sinto orgulho do meu trabalho, pois graças a isso me tornei a mulher que sou hoje”, disse a moça, que sonha em ser delegada. Para ela, o momento de união entre as participantes já é considerado um prêmio. “Aqui nos ajudamos e incentivamos umas às outras. Só de poder participar disso já é maravilhoso”, disse.
Ter sido reconhecida como uma mulher bonita e poderosa não só pelos familiares, como também pelos colegas de trabalho, foi gratificante para Tatiane Machado, 25 anos. “O concurso me trouxe a oportunidade de brilhar e fiquei surpresa por ter sido selecionada”, relatou. Agora, Tatiane não sai mais de casa sem brincos grandes e batons chamativos.
O preconceito
A iniciativa que definirá a gari mais bonita do DF também será uma oportunidade de valorizar a categoria. “Somos mulheres, trabalhadoras e temos o direito de sermos bonitas e nos arrumarmos assim”, disse Ingrid Fernanda, 20 anos, que se emocionou ao contar sobre o preconceito enfrentado diariamente.
As pessoas têm nojo da gente. Já aconteceu de eu pedir água para moradores e me oferecerem uma mangueira
Ingrid Fernanda
De batom e vestido bordado com pedras, Ingrid vestiu trajes de gala pela primeira vez na vida. Ela acredita que o concurso é uma maneira de a sociedade enxergar e valorizar as mulheres que trabalham na limpeza da cidade. “As pessoas olham para nós, garis, com cara de deboche e ar de superioridade. Nosso trabalho é digno e muito importante para a cidade”, reforça. Ingrid pensa em ser fonoaudióloga e diz que o concurso ajuda as mulheres a correrem atrás dos próprios sonhos.
Depressão longe da passarela
Além de desfilar na passarela, Marisa Lima, 37, viu na oportunidade uma saída da depressão. Ela perdeu o pai aos 5 anos e diz nunca ter superado o trauma. “Quando me ligaram dizendo que eu havia sido selecionada, não dormi a noite de tanta ansiedade”, contou.
O processo depressivo piorou com a forma como as pessoas a tratam enquanto ela trabalha. “Já fui muito humilhada por ser negra e gari. Mas ser uma das selecionadas me mostrou que sou maior do que todo esse preconceito”, disse Marisa. A moça que hoje sonha se tornar psicóloga conta que até a adolescência não conseguia se olhar no espelho, pois se achava feia.
Idealizadora do concurso, Fátima Dias tem planos de expandir o projeto. A ideia é fazer o Mister Gari em 2018. “Sinto-me honrada por conseguir contribuir com a autoestima de tantas mulheres e por ajudá-las a enfrentar preconceitos. Os homens também sofrem muito, iniciativas assim podem aproximar a sociedade da profissão”, afirmou Fátima, que também já trabalhou como gari.