De pesca ilegal a tráfico, Lago Paranoá registra incidências de crimes
Polícia Militar do DF fez um mapeamento de pontos com necessidade de reforço da segurança. Reportagem identificou alguns desses locais
atualizado
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A Orla do Lago Paranoá esconde pelo menos sete pontos em que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) precisa agir corriqueiramente. Em algumas localidades, há situações mais tranquilas, como denúncias por som alto, mas, em outras, a complexidade aumenta, com caça a fugitivos e presença de usuários e traficantes de drogas. O Metrópoles identificou algumas dessas situações, todas em áreas bastante frequentadas do espelho d’água.
A corporação não quis especificar todos os pontos, sob a justificativa de ser um assunto de segurança pública, mas confirmou que existe uma escala de infrações observadas nesses locais. No último domingo, por exemplo, um motorista capotou o carro na Ponte JK e fugiu do veículo, deixando para trás armas e munição. Ele foi localizado justamente em uma dessas áreas, ao lado do Clube de Tênis. A mata fechada e pouco visitada contribui para aquele ser um dos locais vigiados pela PMDF.
Os responsáveis pela prisão do homem foram dois militares do Batalhão Lacustre. Em jet skis, eles avistaram o motorista entre a mata e fizeram a abordagem. Segundo um deles contou ao Metrópoles, o matagal em questão é visado pelos policiais por já terem lidado com situações similares antes.
Em áreas mais nobres, como os bolsões d’água em frente ao Pontão do Lago Sul e à Ermida Dom Bosco, a patrulha é frequente. Tanto pela grande concentração de pessoas, especialmente entre sexta-feira e domingo, quanto pela alta incidência de registros como som alto, considerado crime ambiental por poluição sonora, e circulação de embarcações em áreas de banhistas.
Locais de segurança nacional, como as águas em frente ao Palácio da Alvorada, teoricamente são de responsabilidade do Exército, mas não raro a PMDF precisa orientar desavisados a se afastarem da zona restrita.
Existe, ainda, uma atenção especial nas partes inferiores das três pontes que cruzam o Lago. Pescadores sem identificação se aventuram em pontos nos quais a atividade é proibida, com sinalização por placas especificando o delito. Mesmo aqueles em situação regular também já foram flagrados tentando capturar jacarés, o que não é permitido.
Muitas dessas ocorrências não são contabilizadas por serem resolvidas com simples advertência. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) não tem estatísticas específicas de crimes cometidos sobre o espelho d’água ou na margem, uma vez que são englobados nas coletas de dados das regiões administrativas adjacentes.
Furtos
Comandante do Batalhão Lacustre, o major André Caldas afirmou que, em 2018, um homem suspeito de furtar residências no Lago Sul foi pego por policiais da companhia. Ele explorava a margem do Paranoá, desobstruída durante o governo Rollemberg, para adentrar as casas e roubar pequenos objetos. Após o evento, a PMDF reforçou as visitas à região, entre as QIs 13 e 14.
Um autor de crime contra embarcações ancoradas na altura do Setor de Clubes Sul também foi flagrado pelos militares especializados em fazerem a proteção no Paranoá, em meados de 2018. O homem teria subtraído televisões e outros itens de valor antes de ser capturado. A área também passou a receber maior atenção das autoridades.
“A extensão do Lago é a maior dificuldade para patrulhar”, explica o tenente Moreira Vaz, há dois anos na companhia. “A área é grande e exige muito do policial. No frio, é difícil porque as temperaturas caem e a sensação térmica é baixa, muito por conta do vento que atinge a embarcação”, diz.
Ele detalha que uma das técnicas para prevenir a ação de bandidos à beira Lago é sempre mudar os horários das rondas. Para cobrir os 112 quilômetros de margem e 37,5 mil quilômetros quadrados de espelho d’água, uma viatura aquática leva cerca de quatro horas, isso se estiver tudo tranquilo.
Algumas rondas acontecem de madrugada, período em que os militares já se depararam com ocorrências diversas. Pelo horário, qualquer banhista ou embarcação desgarrada é abordada. O subtenente Moura, há 12 anos no Batalhão Lacustre, afirma que há cerca de três anos lidava com indícios de tráfico de drogas nos barcos e porte ilegal de armas.
“Hoje em dia está mais tranquilo e faz um tempinho que não encontramos coisas assim, mas já foi comum. A pessoa achava que, como não estava na terra, estava livre para fazer o que quisesse”, relata.
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Denúncias
Presidente da Associação dos Amigos do Lago Paranoá (Alapa), Marconi Antônio de Souza afirma que, desde as ações de desobstrução da orla, findadas há um ano e meio, recebe reclamações de vários moradores sobre mau uso do espaço. “Hoje, a orla é livre para o vandalismo”, ironiza.
“Existem muitos usuários de drogas. Também há práticas como, na última semana, pessoas fazendo fotografias de mulheres nuas na QL 16. Um atentado ao pudor”, critica. Segundo ele, esses exemplos demonstram que a margem do Paranoá não é segura.
Conselheira da prefeitura comunitária do Lago Norte, Marianna Dantas afirma que moradores da região reclamam constantemente de usuários de drogas se escondendo em matos, próximo às residências. “Ouvimos sobre consumo de álcool também. Derrubaram os muros, mas quem tomava conta eram os habitantes, e agora o poder público parece que não se preocupa.”
De acordo com a PMDF, quando o Batalhão Lacustre vê alguma ocorrência, ela aciona as viaturas em terra, que acompanham as patrulhas aquáticas na abordagem. Existe a prerrogativa, ainda, de os militares em embarcações atracarem em qualquer ponto para realizarem diligências.
Aumento do contigente
O major André Caldas afirma que a polícia não encontra tantas ocorrências nas margens como os representantes comunitários reclamam. Segundo ele, desde 2016, a companhia lacustre, que era um pelotão com cerca de 20 policiais e, atualmente, é um batalhão com mais de 50 militares, aumentou a segurança no Lago e cercanias.
“Com a desobstrução e a construção de aparelhos de acesso à água, como o Deck Sul, estimamos que a quantidade de frequentadores tenha aumentado em 30%”, afirma. “Com nossas ações, eu diria que reduzimos o número de ocorrências em também 30% com nossa efetividade. O que mais têm hoje em dia são afogamentos e denúncias por som alto”, assegura.